48 horas

20/2/2008
Divaldo Roque de Meira - magistrado aposentado

"Lia notícia sobre o convite do Desembagador a um migalheiro para com ele passar 48 horas (Migalhas 1.840 - 19/2/08 - "48 horas com o desembargador"- clique aqui). Lembrei-me de que fiz o mesmo quando Juiz Presidente do Tribunal do Júri, em Campo Grande, MS, depois de ter lido a matéria de um jornalista que dizia da 'facilidade do trabalho dos juízes'. Deveria seguir minha vida diária desde as 6h30m, quando tomava café (ele comigo) e depois levar filhas para a Escola. Depois o Fórum, onde estudava os processos que seriam levados a julgamento. Havia uma pilha imensa e comecei...Umas duas horas depois, já chegava o funcionário para os despachos. Saía às 11h30m para buscar as filhas e almoçar. Ele comigo. 12h20m começava a sessão do Júri. O julgamento teve início e, como era caso mais complexo, chegou até à 1 hora, mais ou menos. Tive que pegar a Kombi do Fórum para levar duas serventes num bairro distante. Uma estava grávida e o motorista já não estava. Voltei e fui para casa. Banho, um lanche apertado e ele se foi. No dia seguinte, às 6h30m repetiu-se o processo. Nesse dia, Júri mais calmo, terminou às 23h30m. A opinião dele mudou e chegou a publicar elogios. A medida é, na minha opinião, ótima, mas nós Juízes costumamos não deixar o povo entrar no nosso mundo. Nossa língua é diversa da deles; nossa roupa é diferente; nossa verdade é inquestionável. Nós temos a força! Quando nos entendem, eles compreendem melhor! Obrigado."

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