Cretinices políticas: nacionais e internacionais

19/3/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"A expressão 'zoon politikon' foi utilizada, pela primeira vez, pelo filósofo grego Aristóteles. Traduz-se por animal político e o filósofo a proferiu em sua obra 'A Política' referindo-se ao homem. O 'Politikon zoon', para ele significava que o homem, por natureza, busca relacionar-se em sociedade, atribuindo valores e gerando organizações, que todos nós somos aptos a julgar situações, atribuir valores e buscar prever os melhores modos de agir. Ser político, segundo Aristóteles, seria ser capaz de todas essas coisas e, além disso, ter a característica de preocupar-se com o melhor, um compromisso social inerente ao termo Politikon. Como os animais também são capazes de viver em comunidades organizadas, a diferença entre eles e os homens, e esse é um elemento importante para o conceito de política, é que os homens são os únicos a perceber o bem e o mal, o justo e o injusto. Aristóteles, por certo, era um teórico, e não conhecia os políticos que viriam a povoar o Brasil e, de resto, o mundo. Acompanhando a política nacional, por exemplo, vemos os esforços do PSDB, em São Paulo, para reeleger Marta Suplicy para a prefeitura, alijando Celso Kassab da continuidade de seguir na municipalidade. Kassab é talvez, o melhor prefeito que tivemos ultimamente, mas o PSDB vai tentar quebrar tudo para empurrar Alckmin, o inelegível, abrindo caminho para Marta que, enquanto PSDB e DEM rasgam a já frágil coesão, relaxa e vai gozar mais uma legislatura, sob o olhar divertido de FHC, a quem distrai ver o circo pegar fogo. O PSDB, na verdade, não se gosta, motivo pelo qual não há por que gostar do PSDB. Não é o pêndulo da balança, mas o porrete da bigorna. Já na América Latina – da qual todos dizem que são loucos por ela, mas que todos querem destruir – o presidente do Equador insiste em que não vai reatar relações diplomáticas com a Colômbia, agastado que ficou com a incursão militar em seu território que matou guerrilheiros das Farc. Em nenhum momento desse incidente se dedicou a explicar o que faziam lá os tais guerrilheiros. Apenas bate o pé, como o mimado colega Chávez, clamando aos céus sobre a soberania territorial de seu país, esquecendo-se que o mesmo diploma legal que a garante, a Carta da OEA, em seu artigo 19, exclui não só a força armada – como bem lembrou Celso Lafer em artigo publicado em O Estado de S. Paulo do domingo, 16/3/08 – mas também 'qualquer forma de interferência ou de tendência atentatória à personalidade do Estado e dos elementos políticos, econômicos e culturais que o constituem'. Esse artigo – lembra Celso Lafer – 'foi devidamente mencionado na Resolução da OEA e na manifestação do Grupo do Rio. Inspira-se na Declaração de 1970 sobre os Princípios do Direito Internacional referentes às Relações Amistosas e da Cooperação entre os Estados, emanada da Assembléia-Geral da ONU. Nessa Declaração, baseada na Carta da ONU e voltada à coexistência pacífica (que nada tem que ver com o clima político internacional pós-ataque terrorista aos EUA em 2001), também está dito, a propósito do princípio da não-intervenção: 'Todos os Estados devem também abster-se de organizar, ajudar, fomentar, financiar, encorajar ou tolerar atividades subversivas ou terroristas destinadas a mudar, pela violência, o regime de um outro Estado, bem como intervir nas lutas internas de um outro Estado'. É com base nessa formulação do princípio que cabe, de maneira geral, cogitar do enquadramento das atividades das Farc em outros países, pois esse é o outro componente gerador da crise. Daí a relevância de um dos parágrafos da Declaração do Grupo do Rio, que reitera uma efetiva preocupação com as ameaças à segurança dos Estados da região, provenientes da ação de grupos irregulares ou de organizações criminais, em especial as conectadas às atividades do narcotráfico'. Mas nada disso interessa ao presidente do Equador, político que é, a quem só interessa a política, no pior sentido, e não no sentido Aristotélico. E, de político em político, do nacional ao internacional, chega-se – como Fernando Sabino – ao Grande Mentecapto, que, na Guerra do Golfo, se assim se pode chamar a invasão imotivada do Iraque, acaba por dar razão a Saddam Hussein, passando, para isso, pela destruição da maior economia do mundo. Nos últimos 5 anos dessa guerra idiota, já morreram 4 mil americanos e quase 100.000 civis iraquianos, são milhares os militares feridos e milhões os refugiados, milhões são os desabrigados. Não há segurança, água, luz, escola, emprego. O país está destruído, desestruturado e a corrupção é deslavada. Os Estados Unidos já gastaram no Iraque 650 bilhões de dólares e, a cada mês, a ocupação custa mais 10 bilhões. O petróleo iraquiano, que deveria ajudar a custear essas despesas, na verdade é desviado para o mercado negro e financia os atentados, que matam mais de 100 civis por semana, e mais americanos. Se a 'guerra' durar mais 5 anos, custará 2 trilhões de dólares, e levará os Estados Unidos à falência. Mas, isso não interessa a Bush. É problema do próximo presidente, a tal da herança maldita. Aristóteles, como se diz, deve estar se virando no túmulo, e com ele, Platão e Sócrates, e toda a filosofia grega, pois para eles 'zoon politikon' seríamos todos nós, seres humanos, e não apenas os políticos, esses que perpetram essas e outras tantas cretinices, nacionais e internacionais, que levam nosso país e o mundo a esse estado de coisas que assistimos, estarrecidos, acreditando, ingenuamente, que o voto é suficiente para mudar."

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