Ballet russo 26/3/2008 Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL "Há muitos anos, em um salão do automóvel, aproveitando a onda do 2001 – Uma Odisséia no Espaço, uma montadora – creio que a General Motors, se não me engano – colocou em seu 'stand' uma imensa lápide negra, diante da qual se fazia uma grande fila, na qual, obedientemente, entrei. Tempos depois, chegada minha vez, frente a frente com a lápide, deparei com um buraquinho, desses que há nas portas de apartamentos, um olho-mágico, olhei e vi que, do outro lado da lápide, lá estava o lançamento, o carro do ano, que também poderia ser visto dando-se a volta pela tal lápide. Saí de fininho, sem dizer nada aos demais que, pacientemente, esperavam na fila. Anos depois, em visita a Lisboa, no prospecto que peguei no hotel, com o mapa da cidade, vi que poderia ir do Bairro Baixo para o Bairro Alto pelo elevador de Santa Justa, uma obra projetada por um aprendiz de Gustave Eiffel, inaugurado em 1902, com um café no topo e magníficas vistas do centro da cidade e do Rio Tejo. E lá fui, todo lampeiro, como se diz. Em lá chegando, após superar a fila, paguei os euros exigidos, e subi para... lugar nenhum, ou seja, um lugar apertadinho, gradeado, sem café, sem vista e, o pior, sem saída para o Bairro Alto, porque a saída está em reforma há anos e ninguém avisa. É claro que desci e passei pela fila que aguardava subir calado, sem dizer nadinha, como no evento da lápide. Afinal, cada um com seus problemas, pensei. Hoje, mais velho, sinto-me com certas obrigações sociais e, por isso, devo advertir a respeito do Russian State Ballet, a jóia do Ballet Russo, como é anunciado que, afinal, não chega sequer a bijuteria fina. Fui lá, na Via Funchal, minha esposa e eu, preparamo-nos e, como muitas pessoas, abandonamos o 'espetáculo' no intervalo. Na verdade, deveríamos ter saído antes. Por mim, teria saído antes, bem antes. Mas, educadamente, esperamos o intervalo para sair. E daí, uma surpresa, principalmente para os guardadores de automóveis, com a confusão gerada pelo público que saía em horário não esperado, muito antes de terminado o 'espetáculo', procurando por seus carros. O interessante, é que parece haver, como nos outros casos mencionados, um verdadeiro voto de silêncio – uma conspiração, uma 'omertá' – já que nenhuma referência se encontra ao fato, a não ser essa que aqui faço e que, podem crer, é verdadeira. O Ballet Estatal Russo é ruim, tenho a impressão que é coisa de chechênios para desmoralizar Putin, mas, de qualquer forma, está no mesmo nível de apresentações escolares, dessas que vamos ver quando nossas filhas se apresentam. E, ao que parece, ontem à noite, as moças que bailavam não tinham seus pais e mães entre os espectadores, porque eles saíram bem apressados antes de terminar." Envie sua Migalha