Lula e a multiplicação dos pães

31/3/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Lula, que não resiste a uma parábola ruim, é mestre em comparações – como diremos? – pobres. A última foi comparar o Bolsa Família com o milagre da multiplicação dos pães. O que Lula disse, exatamente, foi: 'A multiplicação dos pães de que Cristo falava era exatamente essa: deu dinheiro na mão das pessoas necessitadas'. Bem, aí Lula exagerou. Exagerou na ignorância acerca dos textos bíblicos e na comparação de sua pessoa com a de Cristo. Em primeiro lugar porque Cristo ensinava por parábolas, que eram histórias que criava para fazer o povo simples da época compreender a mensagem da salvação, enquanto Lula, ao utilizar metáforas e parábolas, busca enganar as pessoas que o ouvem, em proveito próprio. Depois, porque Cristo não 'falava' da multiplicação dos pães. Cristo 'fez' o milagre da multiplicação dos pães, como todos sabem. Além do mais, Cristo jamais 'deu dinheiro na mão das pessoas necessitadas'. Jesus, não apenas uma vez, alimentou uma grande multidão, que estava com fome, usando para isso uns poucos pães e peixes, como contam as escrituras. No entanto, diferentemente do nosso presidente, Ele não fazia isso para dar um espetáculo ou, simplesmente, para encher a barriga das pessoas, mas para que soubessem que Ele era o Filho de Deus que estava trazendo o perdão dos pecados, a vida e a salvação eterna. Muitos não entenderam o significado da multiplicação dos pães e continuaram a seguir Jesus para conseguir comida de graça e milagres para aliviar sofrimentos físicos aqui na terra. Ao que parece, Lula, que sempre ouve o galo cantar, mas não sabe onde, se fixou mais nessa parte, mas não leu tudo. E não ficou sabendo que, segundo o Evangelho de João, capítulo 6, versículo 26, ao ver que parte da multidão o seguia apenas para ver satisfeitas suas necessidades físicas, disse Jesus: 'Vocês estão me procurando porque comeram os pães e ficaram satisfeitos e não porque entenderam os meus milagres'. Cristo, assim, não criou o Bolsa Multiplicação de Pães, e nem deu dinheiro a ninguém, até porque não tinha nenhum. Alimentou, umas poucas vezes os que lá estavam para ouvi-lo e receber o alimento espiritual e, depois, a multidão dispersou, cada qual para seu trabalho, para seus afazeres e, mesmo assim, sua palavra já se mantém por mais de dois mil anos e não apenas por dois mandatos. Além disso, Cristo tinha 12 apóstolos e não 35 ministros, precisava fazer milagres, já que não dispunha de erário público, nem cartões corporativos, medidas provisórias, mensalões, desvios de verbas. Ele e seus apóstolos se deslocavam a pé, de sandálias, e não por meio de aviões especialmente construídos, e quando, de outra feita, transformou água em vinho, não consta ter sido em Romané Contí, o preferido dos líderes do PT. Aliás, essa mania de associar a figura de Lula a Cristo já está, para dizer o mínimo, ficando chata, e não é de hoje. Nos idos de 2004, quando da celebração ecumênica no Palácio do Planalto, frei Beto, então assessor especial da Presidência da República, fez paralelo entre o presidente e a vida de Jesus Cristo, ao dizer que o programa Fome Zero era o milagre da multiplicação dos pães. Naquele dia, após Frei Beto fazer outro paralelo entre Lula e Cristo, lembrando que 'Cristo acentuava que o poder é serviço, não é mando, não é tirania, não é arrogância, é um serviço', Lula discursou, terminando por dizer que: 'Agora, sou o servidor número um'. Não falta muito para Lula iniciar seus discursos com 'Em verdade, em verdade vos digo', e afirmar 'Eu sou o pão da vida', 'Eu sou a luz do mundo', 'Eu sou a ressurreição e a vida', atribuindo as menções de Jo 6, 1-15.35, 9, 1-41 e 11, 1-14, a Ele, Lula, o Iluminado. Daí, valha-nos Deus."

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