xHomem grávido

7/4/2008
Paulo Roberto Iotti Vecchiatti - OAB/SP 242.668

"Caro Daniel Silva, pela ordem de suas indagações: (i) a mulher que se relaciona com um transexual é heterossexual, na medida em que continua a amar pessoas de sexo (ao menos aparente) diverso do dela. O transexual que fez operação para virar homem tem aparência masculina e, portanto, para efeitos não-biológicos, é um homem, donde uma mulher que se relaciona com ele continua sendo heterossexual. Talvez sua dúvida tenha surgido pela impossibilidade de procriação por parte dela nas relações sexuais entre eles, mas procriação não tem nenhuma relação com orientação sexual: esta relaciona-se apenas com o gênero da pessoa que se ama (se idêntico e/ou diverso do seu), seja este gênero biológico ou, no caso de transexuais, oriundo de cirurgia; (ii) não posso explicar-lhe o pensamento de transexuais. Não tenho contato com tantos (é um tema do qual preciso estudar mais, sei apenas o básico: que o transexual é aquele que tem uma dissociação entre seu sexo físico de seu sexo psíquico, além dos fundamentos jurídicos que justificam a mudança do prenome e do sexo jurídico após a operação – basicamente, a dignidade da pessoa humana, de forma a evitar constrangimentos desumanos oriundos do preconceito e da discriminação. Li poucos trabalhos a respeito, lerei mais assim que possível). De qualquer forma, eles (transexuais) merecem ser respeitados em suas decisões – no caso deste debate, uma mulher que fez a operação para virar homem e que, após a operação, conseguiu engravidar porque queria ter um filho e aceitou engravidar em vista da esterilidade de sua esposa. Entendo sua segunda indagação mas isto não sei responder no momento. Talvez o desejo por um filho tenha feito ela aceitar algo que normalmente não aceitaria e/ou ainda por amor à sua esposa que também o desejasse, múltiplas podem ser as razões. Mas volto à minhas indagações iniciais neste debate: em que isso prejudica terceiros? Resposta: em nada. Assim, qual o motivo do incômodo com relação a isso? No mais, um detalhe que nem todos sabem: não é porque um transexual deseja mudar de sexo que ele (a), após a operação, terá relações heteroafetivas. Há casos de transexuais que, após a operação, passam a ter relações homoafetivas com pessoas do sexo que adquiriu após a cirurgia (ou seja, um homem que fez a operação para virar uma mulher e, após, passa a se relacionar amorosamente com outras mulheres). Isso deixa ainda mais claro que sexo biológico não tem nenhuma relação necessária com orientação sexual. Por fim, não precisa pedir desculpas, pois você foi direto (como todos devem ser) mas respeitoso (como todos também devem ser) em suas indagações (talvez irônico na referência a literatura arcaica, mas enfim), agradeço-lhe por isso (pelo respeito). Por fim, uma nota ao migalheiro Conrado de Paulo: não disse em nenhum momento que Wilson Silveira teria sido preconceituoso, apenas ignorante em suas colocações (ignorância = desconhecimento)."

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