xHomem grávido 7/4/2008 Daniel Silva "Prezado Paulo, desculpe a insistência, mas permaneço com dúvidas. Você diz que o transexual é um homem para efeitos não-biológicos. Entretanto, a questão é que um relacionamento é, antes de tudo, biológico (exceto se achar que a psique não é biológica). Não existe 'relacionamento jurídico' nesse caso. Minha dúvida passa longe da questão da procriação. Um relacionamento heterossexual pode existir mesmo com a impossibilidade de procriação. A questão é exatamente que o 'gênero oriundo de cirurgia' não apaga o 'gênero biológico'. Assim, uma mulher que se relaciona com um transexual sabe que está com uma mulher que apenas tem aparência de homem. Ora, mas aparências são exatamente isso. Aparências. E um relacionamento não pode se fundar nisso. O Transexual não É homem (pode alterar até a certidão de nascimento, mas um documento ou cirurgia não altera a condição real da pessoa). Assim, o lógico seria que o relacionamento, em ambas as direções, seja homossexual. O fato de uma das pessoas não aceitar o seu corpo, não altera a sua condição biológica e, portanto, a qualificação do relacionamento. No caso da segunda indagação, o que eu buscava não era o pensamento de transexuais, mas a sua psicologia. Se alguém rejeita tanto o seu corpo a ponto de sujeitá-lo à intervenção cirúrgica, não me parece crível o fato de aceitar 'retornar ao seu sexo biológico' simplesmente para ter um filho. Até mesmo porque crianças para adoção é o que não falta no mundo. Fica parecendo que o transexualismo não é uma dissociação entre sexo físico e psíquico, mas apenas uma questão de estética. Ou essa dissociação não é verdadeiramente uma dissociação. O que levanta outro ponto. Se o transexualismo é uma dissociação entre físico e psíquico, ele pode ser tratado por meio de terapia ou psiquiatria? Pergunto isso apenas porque sinto uma enorme relutância dos GLS (não conheço todas as letras...) com relação à psicologia/psiquiatria. Por exemplo: Parecem aceitar facilmente a alteração do físico por meio de procedimento cirúrgico, mas se negam a aceitar a alteração do psíquico por meio de procedimento terapêutico/psiquiátrico. Acho que a psicologia e a psiquiatria ainda têm muito a desenvolver antes de oferecer soluções semelhantes a um procedimento cirúrgico de mudança de sexo. Só não entendo o porquê de se rejeitar 'a priori' essas alternativas. E já que você levantou a bola, eu apresento minha opinião. O prejuízo a terceiros não está no fato em si, mas no fato de obrigar terceiros a concordar, pela força, com uma coisa que não compactuam. Por exemplo, obrigar pessoas por meio da lei a aceitar o transexualismo (ou qualquer outra coisa) é exatamente a mesma coisa que proibir o transexualismo por meio de lei. Não é uma questão de respeito, mas sim de quem é o mais forte. Ninguém tem obrigação de aceitar ninguém. O problema de muitos é confundir não aceitação como justificativa de violência. Posso muito bem não aceitar crianças, não permitindo que as mesmas freqüentem a minha casa, mas isso não me dá o direito de chutar toda criança que passar na minha frente. Assim como também não tenho direito de exigir uma lei que obrigue as crianças (que são em geral ignorantes, intolerantes e não respeitam as escolhas dos adultos) a ficar caladas e quietas toda vez que eu entrar em um parque infantil. Eu acho que é isso que incomoda tanta gente. E há exageros dos dois lados. A par disso, acho que sempre esteve claro que sexo biológico não tem relação necessária com orientação sexual ou o homossexualismo seria impossível. As questões que dividem muitos são: Deveria haver uma relação? Isso é decorrência de um desvio? Esse desvio pode ser corrigido? Esse desvio deve ser corrigido?" Envie sua Migalha