Isabella

22/4/2008
Armando Bergo Neto - OAB/SP 132.034. Fundador e diretor do MDC-Campinas

"Retornarmos ao bom caminho

'Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou

Sei que não vou por aí!'

(José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira – romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico)

As pessoas estão atônitas. Fatos e mais fatos, diuturnamente noticiados pela mídia, denotando e desvendando características sórdidas da criatura humana. Aonde vamos parar? Esta pergunta é voz corrente no relacionamento interpessoal nos âmbitos familiar, escolar e no trabalho. Na política, as intermináveis instalações de CPIs, com o fito de se investigar fato determinado, tendo por 'bola da vez' o mau uso de Cartões Corporativos, o que poderá redundar em responsabilização civil e criminal dos infratores, tal qual a denúncia ofertada pelo Ministério Público e recebida pelo STF contra os 40 acusados (número emblemático, diga-se de passagem) de participação no esquema do mensalão; noutras searas que não a da política, verificamos posturas antiéticas, imorais e ilegais, que depõem por vezes contra toda uma categoria profissional, bem como denigrem ainda mais a imagem das instituições democráticas, o que não deixa de ser preocupante, ante uma análise da história recente de nosso país, já que o enfraquecimento das instituições, que são os pilares da democracia, torna o terreno mais do que propício para a germinação de regimes autoritários.

O que tem deixado mesmo a sociedade sem rumo, sem saber aonde se apoiar, são os crimes bárbaros perpetrados contra crianças, tais como os homicídios praticados contra o menino João Hélio e, recentemente, contra a infante Isabella Nardoni, para citar apenas dois casos funestos dentre tantos outros. A sociedade caminha, a passos largos, para a instalação e perpetuação de um sem-número de mazelas, dentre as quais podemos citar a situação de pessoas cada vez mais desconfiadas, que não acreditam no próximo, que tem medo de sair de casa, que sobrevivem à custa de remédios para tratar depressão, insônia, síndrome do pânico etc. Como a natureza não dá saltos, fácil constatar que este lamentável estado de coisas vem ocorrendo paulatinamente, sem que as pessoas se dessem conta disso. Não precisamos ir longe: ao fazermos uma retrospectiva de 30 anos, nos deparamos com um quadro de imensas mudanças. Enquanto se evoluiu de forma assustadora no campo tecnológico, temos que o homem dito racional esmoreceu seus conceitos de ética, moral, cidadania e por que não dizer de temor a Deus. Mas, então, por que estas mudanças de comportamentos e de estilo de vida, tão funestos à convivência em sociedade? De quem é a culpa? Onde foi que erramos e por que continuamos a incidir no erro? São perguntas que hodiernamente não querem calar, a não ser para indivíduos partidários do materialismo. E por falar em materialismo, este estilo de vida certamente é um dos responsáveis diretos por inúmeras tragédias cotidianas, certo, outrossim, de que não podemos nos esquecer de um dos piores defeitos, senão o pior defeito, do ser humano: o egoísmo. Sim, o egoísmo pode ser tido como o pai de todos os males. A criatura egoísta, com o seu egocentrismo jamais pensa nos sonhos e na dor de seu irmão. Basta que ela atinja seus exclusivos objetivos, custe o que custar, já que, no seu obtuso entendimento, os fins justificam os meios, desde que prevaleçam os seus interesses. Está mais do que na hora de darmos o devido valor ao que é essencial, e o indispensável, com certeza, é ensinar a essa nova geração (filhos, netos, sobrinhos) que os valores elevados transmitidos pelo Cristo são os que devem nortear nossa jornada, a fim de evitarmos choro e ranger de dentes, como nos advertiu o Mestre. Que tal nós, adultos, darmos mais exemplos de fraternidade, de compaixão, de honestidade às crianças e aos adolescentes com quem convivemos? Que tal 10 minutinhos de prosa para transmitirmos valores como respeito aos professores e aos mais velhos, por exemplo; de que, se encontrarmos algo que não nos pertence, devemos procurar o dono, devolvendo-lhe o objeto. Vamos fazer uma sincera e profunda reflexão, sem apontarmos erros de quem quer que seja, mas que dela ressurja, em cada um de nós, o homem que deve amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Somente assim retornaremos ao bom caminho, possibilitando-nos viver em harmonia, sem medo de sermos felizes."

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