Isabella 23/4/2008 Conrado de Paulo "Para Alfredo Garcia-Rosa, professor de filosofia e psicologia da UFRJ, o que leva uma pessoa a cometer um crime remete a uma trama complexa de motivos, conscientes e inconscientes. Não é um problema a ser resolvido, mas um enigma a ser decifrado. A descoberta do assassino é um problema crucial, imediato, insuportável. Não é que estejamos famintos ou sedentos de justiça. Queremos é suspirar aliviados, felizmente ficaria comprovado que não fomos nós. Personificando Spinoza, seu personagem-detetive, sabemos inconscientemente que poderíamos ter cometido aquele crime. Como já cometemos coisas do gênero inúmeras vezes em sonhos e fantasias. O crime desperta tanta curiosidade porque ele é ao mesmo tempo estranho e familiar, ameaçador e íntimo. Enquanto familiar e íntimo ele nos atrai; enquanto estranho e ameaçador ele nos repele. Se levarmos em consideração o fato de que sonhamos e cometemos toda sorte de perversidade com pessoas que nos são queridas, não é difícil entender que o crime e a atração mórbida façam parte de nossa interioridade. O mal não é algo externo a nós, mas algo que nos habita. Assim como cometemos pequenos assassinatos sonhando, sentimo-nos atraídos pelos assassinatos alheios. O crime é 'cosa nostra'. O meu sonho me diz respeito muito mais de perto do que o crime alheio. Ora, na medida em que o crime alheio é um crime, e na medida em que eu também sou, a meu modo, um pequeno criminoso, eu me sinto irmão do outro nesse crime. Daí a atração. (Estadão, 13/4/08, J3, 'O crime é cosa nostra')." Envie sua Migalha