Ato falho 24/4/2008 Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL "Bem, caro migalheiro Credidio, ao menos estou em boa companhia, quando entre os que eventualmente discordam do colega encontram-se os juízes do Rio de Janeiro. Ao menos eu, sendo também paulista, não serei acusado de odiosa discriminação mas, apenas, de parcos conhecimentos de medicina psiquiátrica, o que, afinal, é verdade. Mas, o caso da ministra, menos de psiquiatria, foi mesmo, como dizer, um 'lapsus linguae', um erro de linguagem, uma escorregadela, que é a face sonora do 'lapsus calami', ou o lapso de escrita. O 'cálamo', bem sabe o amigo Credidio, cultor das línguas e da escrita – espero não estar enganado como no caso da psiquiatria, pois procurei me informar – era uma antiga ferramenta gráfica feita de junco com que inscreviam-se signos nos papiros e pergaminhos, nos velhos tempos da quirografia. E, em alguns dicionários, 'lapsus linguae' já aparece como sinônimo de 'ato falho' e até Freud, em 'Psicopatologia da Vida Cotidiana' (Zur Psychopathologie Dês Alltagslebens) ensina que tanto o 'ato falho', como o 'lapsus linguae' revelam 'acidentalmente', coisas recalcadas que, em condições normais, a pessoa preferiria encobrir ou disfarçar. São somente, um distúrbio momentâneo. Nada preocupante. Mero equívoco que não ultrapassou o limite do 'ato normal'. Nada que demande tratamento ou internação. Só atenção. Do leitor, é claro. Não creio, porém, que a coisa mereça estudos tão profundos. Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, quando se confundiu, e chamou a ministra Dilma de 'presidente', praticou um 'ato falho'? Um 'lapsus linguae'? Ou mero puxa-saquismo? Sei lá. E a ministra Dilma, ao olhar aquele povão todo, logo após ser animado pelo presidente Lula, que sempre fala como se estivesse em campanha? A confusão é até justificável. Pensou que estivesse já em um comício, um bom e velho comício, até porque os showmícios estão proibidos. Ato falho? 'Lapsus linguae'? Sei lá. Com todo aquele povão, até eu." Envie sua Migalha