Isabella

"O caso Isabella já vai seguindo o caminho dos outros casos que causam indignação e revolta. Das primeiras páginas para as segundas e daí para o esquecimento. Morta a menina, de forma hedionda, francamente horrenda, o que mais indignou os migalheiros foi a atuação da imprensa, considerada inadequada. Mas, a verdade, é que é a imprensa que mantém esses casos abertos, senão eles somem. Exemplo disso é o caso Pimenta Neves. Ou o caso Farah, que veio, foi, veio de novo e vai sumir outra vez. 'Antigamente – dizia Nelson Rodrigues – os fatos duravam mais. Uma notícia levava meia hora para chegar de uma esquina à outra. Hoje, 48 horas depois, o fato já começa a apodrecer'. O terremoto, ou o tremor de terra, ainda que pequeno, trouxe novo motivo para as manchetes e deslocou o caso Isabella para mais longe. Afinal, sempre há um novo escândalo a 'repercutir'. Sempre há alguém que conseguiu desviar mais verbas de algum buraco do erário, mais furado do que queijo suíço. Quanto à Isabella, ora a Isabella que tenha paciência. Afinal, a menina já morreu e todos têm mais o que fazer. Vai entrar para as estatísticas. No que se refere aos suspeitos, a única coisa que me vem à mente, é aquela história do velho índio, que pode ser contada, também, como sendo do monge do Tibet, ou do mestre samurai. Eu prefiro a do velho índio:

'Uma noite, um velho índio contou ao seu neto sobre uma batalha que acontece dentro das pessoas. Ele disse: - 'Meu filho, a batalha é entre dois lobos dentro de todos nós. Um é o mau. É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, orgulho falso e superioridade. O outro é bom. É alegria, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé. O neto pensou naquilo por alguns minutos... e perguntou ao seu avô: - 'Qual lobo vence?' O velho índio simplesmente respondeu: - 'O que você alimenta'."