Praça René Thiollier 6/5/2008 Luiz Baptista Pereira de Almeida Filho - escritório Do Val, Pereira de Almeida, Sitzer e Gregolin Advogados "A infeliz edição de decreto municipal denominando Praça Mario Covas ao imóvel da Avenida Paulista antes ocupado pela Villa Fortunata, onde viveu por mais de 55 anos o intelectual e mecenas René Thiollier, suscita indignação a todos que têm respeito à história da cidade de São Paulo (Migalhas dos leitores - "Parque Municipal Prefeito Mario Covas" - clique aqui). Em primeiro lugar agride a memória do suposto homenageado. Sim, Mario Covas é ofendido na medida em que ele é feito instrumento de oportunismo de ocasião. Mario Covas tem um passado reto de luta contra a ditadura militar, prefeito da Capital, foi duas vezes eleito governador de São Paulo. Neste cargo, governou os paulistas com tirocínio, mas também com desprezo à sabujice e aos bajuladores - disso podem testemunhar aqueles que o conheceram. Por isso, o governador Covas é credor de muitas homenagens. No entanto, ele não compactaria com o esbulho cultural que significa atribuir seu nome ao sítio da Villa Fortunata. Jamais. Covas sempre foi cioso com o patrimônio alheio, não aceitaria locupletar-se de bem cultural de outrem, ainda que sob a forma de homenagem. Villa Fortunata evoca a memória paulistana da Casa Garroux, sua primeira e principal livraria, a Semana de Arte Moderna cujos desdobramentos repercutem por todo o século XX. Enfim, a Villa Fortunata vincula-se a René Thiollier, o morador que a transformou ponto de encontro de artistas e intelectuais e, até, trincheira contra a ditadura Vargas. Além desses fatos e circunstâncias, o dever pessoal de lealdade e de gratidão faz-me juntar ao coro daqueles que esperam que o equívoco seja desfeito: o nome da praça seja corrigido. Isto porque, na condição de afilhado e sobrinho, da escultora Nazareth Thiollier, eu freqüentei bastante a Villa Fortunata, em meados dos anos sessenta. Na companhia de minhas primas mais velhas fui regular freguês dos almoços na 'Avenida' (assim chamávamos a casa), aos sábados durante o ano letivo. Aliás, uma dessas primas possuía a singular habilidade de acumular grande quantidade d'água na boca e, então, com potência incrível, alvejar suas irmãs e a mim, nas distrações dos avôs e da mãe, durante as refeições. Ficávamos encharcados. Muitas vezes, depois de saborear o café, produzido na própria Villa Fortunata, eu conversava um pouco com o Dr. René no 'living' e, daí, saia às carreiras, para atender ao 'retido' a que estava condenado pela tirania jesuítica. Era preciso chegar ao Colégio São Luiz às 15 horas para cumprir uma ou duas horas de jornada, conforme a gravidade do castigo. E mais, confesso que algumas vezes fui 'salvo' pela solidária lhaneza da Dª Sylvinha Thiollier, que assinava minha caderneta, cientificando-se como responsável das minhas punições escolares. Por conseguinte, eu era eximido de punições domésticas, uma vez que meus pais eram mantidos desinformados das mazelas disciplinares. Em suma, confio que o atual prefeito, Gilberto Kassab, terá a grandeza de rever sua decisão. Com efeito, reverter uma atitude é atributo das pessoas superiores. O Nosso prefeito saberá demonstrar que não é liliputiano. Por isso o prefeito mudará seu decreto primitivo, 'suum cuique tribuere' (dar a cada um o que é seu), designando o indigitado sítio 'Praça Villa Fortunata'. Eu prefiro esta designação. É poética e foneticamente mais eufônica. E mais, terá as vantagens da desfulanização. Por outro lado, faz tríplice homenagem ao pai - livreiro construtor da casa, a mãe Dª Fortunata - a xará, homenageada original, e ao filho René Thiollier - que fez da Villa Fortunata, pólo da vida cultural paulista. Helás. Viva a Praça Villa Fortunata!" Envie sua Migalha