Greve na justiça paulista

4/8/2004
Marcelo Augusto Degelo - Advogado

"Em 2001 os servidores do Poder Judiciário Paulista permaneceram por três meses em greve reivindicando melhores salários. Não tiveram seu pedido atendido e voltaram ao trabalho enfraquecidos como categoria profissional, sofrendo descontos de salário e sendo obrigados a repor o período parado. Agora novamente aqueles servidores estão em greve. Não com a mesma união verificada na oportunidade anterior, mas o suficiente para paralisar a já preguiçosa tramitação processual. Neste momento apenas os casos ditos "urgentes" tais como liminares continuam tramitando normalmente, o que resulta em irônica situação em que não há efetiva paralisação dos serviços. A já notória lentidão da justiça, e a sua falta de visibilidade ao cidadão comum, torna a greve inócua como ferramenta de reivindicação salarial. Não serve como instrumento de pressão pois é impossível paralisar aquilo que já não se move. A paralisia favorece aqueles que não cumprem a lei (em especial os governantes de plantão), e a população em geral não se dá conta da greve no Judiciário simplesmente porque esta não lhe atinge. A Justiça em nosso Brasil é algo tão abstrato e distante do povo que não influi no cotidiano das pessoas. Nem mesmo os noticiários dedicam uma manchete sequer à greve, simplesmente porque tal notícia não dá ibope. Ninguém se interessa. A justa demanda dos servidores esbarra no fato de que o judiciário brasileiro deve sofrer profunda revisão, de forma a tornar-se efetiva ferramenta de produção e distribuição de justiça, para que venha então a integrar a vida cotidiana do cidadão. O Judiciário é hoje uma ficção, não faz justiça nem mesmo para seus próprios servidores, o que se dirá daqueles que o procuram para resolver as questões do dia a dia. Fica aqui o apelo: Excelentíssimo Senhor Desembargador Luiz Elias Tâmbara Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, faça justiça. Atenda à legítima reivindicação dos serventuários paulistas."

Envie sua Migalha