A verdade dói

14/5/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Caro Alexandre de Macedo Marques. Como assim, tirar férias da arena migalheira? E como ficará a arena sem o necessário contraponto do colega? Com tantas coisas acontecendo, todos os dias, 'nexte' Brasil, sua presença é absolutamente essencial. Veja, por exemplo, agora, com a saída repentina, da Marina Silva, provavelmente a única ministra sem escândalos, que deixa a Amazônia à sanha dos aloprados e, principalmente, de um ministro por decreto, de assuntos estratégicos, de longo prazo, não o ministro, é claro, que 'nexte' governo não há ministros de longo prazo, mas apenas as ações são de longo, longuíssimo prazo. Nada de preguiça, caro migalheiro. Afinal, como dizia Millôr, é quando a gente está cansado que dá uma bruta vontade de dizer que sim. Não seja pessimista. Esse 'problema' também acometeu Sócrates, de certa feita, como descreve Nietzche, em 'Crepúsculo dos Ídolos', que o achava, por isso, decadente que, por certo, não é seu caso:

'Em todos os tempos os grandes sábios sempre fizeram o mesmo juízo sobre a vida: ela não vale nada... Sempre e por toda a parte se escutou o mesmo tom saindo de suas bocas. Um tom cheio de dúvidas, cheio de melancolia, cheio de cansaço da vida, um tom plenamente contrafeito frente a ela. O próprio Sócrates disse ao morrer: "viver significa estar há muito doente – eu devo um galo a Asclépio curador". O próprio Sócrates estava enfastiado da vida. O que isso demonstra? Para onde isso aponta? Outrora teria-se dito (ó! Disse-se e forte o suficiente; e avante nossos pessimistas!): "Em todo caso é preciso que haja algo verdadeiro aqui! O consensus sapientium prova a verdade". Ainda falaremos hoje desta forma? Nós temos o direito a um tal discurso? "Em todo caso é preciso que algo esteja doente aqui" – eis a nossa resposta. Em primeiro lugar temos de observar mais de perto esses mais sábios de todos os tempos! Todos eles talvez não estivessem tão firmes sobre as pernas? Talvez estivessem atrasados? Cambaleantes? Decadentes? Talvez a sabedoria apresente-se sobre a terra como um corvo, ao qual um pequeno odor de carniça entusiasma?...'

Se o governo Lula não tira férias, o colega também não pode tirar, espero."

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