Bambuzal do Ibirapuera

15/5/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Primeiro, o Jornal da Tarde publicou uma reportagem sobre o Bambuzal do Parque Ibirapuera, aquele que, em São Paulo, é utilizado por milhares de pessoas para passeios, muitas vezes com sua famílias, inclusive às tardes, nos inícios das noites para um pouco de recomendável caminhada:

'Além da placa, os segredos do Bambuzal

 

Ao anoitecer, uma área deserta do Ibirapuera revela um aspecto pouco conhecido dos freqüentadores diurnos. As placas, colocadas para preservar os animais, também dão cobertura aos homossexuais

 

BRUNO TAVARES e JOSÉ PATRÍCIO

 

Parque do Ibirapuera, 22h. As placas metálicas, instaladas logo na entrada das alamedas mais desertas e escuras, pedem ao visitante que evite o local após esse horário. Foi a solução encontrada pela administração para manter o parque aberto até a meia-noite, sem que houvesse prejuízo ao sono dos animais. Mas os pássaros, gambás e morcegos que habitam o Ibirapuera não são os únicos a usufruir desse sossego. Escondidos atrás das árvores, numa área conhecida como "Bambuzal", homossexuais têm feito do parque mais famoso da Cidade um motel ao ar livre.

 

O flerte começa sempre ao anoitecer. Homens jovens e bem-vestidos, geralmente com idades entre 18 e 35 anos, entram no parque a pé e caminham pelas alamedas a passos lentos, em busca de um parceiro. Até aqui, todos agem o mais discretamente possível. As conversas são rápidas e, em alguns casos, nem chegam a acontecer. Os rapazes que freqüentam o Ibirapuera à noite têm um código próprio para demonstrar o consentimento: trocam olhares e se acariciam de forma insinuante.

 

No caminho entre o ponto de encontro e o Bambuzal, a dupla anda em calçadas opostas, para não chamar a atenção dos guardas civis metropolitanos (GCMs) que patrulham o parque a pé, em bicicletas ou motos. A área que serve como refúgio fica perto do portão 7, em um dos trechos mais ermos do Ibirapuera. A mata fechada acaba encobrindo os postes de iluminação, transformando o local em um gueto isolado das alamedas principais e da ciclovia.

 

"Atrás das árvores rola de tudo", resume um dos freqüentadores, que pediu para não ter seu nome divulgado. "Todos sabem que é perigoso ficar andando por aqui à noite, nessa escuridão. Mas o que nos excita é justamente essa adrenalina", explica o rapaz. Segundo ele, não há tráfico de drogas e nem prostituição dentro do parque. Os casos de assalto também são raros. "As pessoas vêm só para curtir."

 

A área do Bambuzal é tão movimentada que alguns casais preferem outros pontos do parque. Quem procura privacidade fica no matagal às margens da Avenida República do Líbano. Antes de fechar os portões, os GCMs percorrem as ruas internas, expulsando os rapazes que ainda resistem. "Muitos deles saem daqui e vão direto para o Autorama (espaço de convivência gay no estacionamento do portão 3)", comenta Evangelista Bernardo Viana, o Maizena, que há quase 30 anos trabalha com o aluguel de bicicletas no parque. "Para uma senhora mais velha ou uma família, é constrangedor ver uma cena dessas. Mas eles não incomodam ninguém", afirma.

 

Há duas semanas, o secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, Eduardo Jorge, fez uma blitz no Ibirapuera para coibir as "festinhas" no Bambuzal. Um homem foi preso e três adolescentes fora levados para a delegacia.

 

O comando da GCM informou que 105 guardas trabalham na segurança do parque. Ainda segundo a corporação, todos aqueles flagrados praticando atos obscenos no parque são detidos e encaminhados ao 36º DP (Paraíso). Já houve casos de pessoas que cortaram a energia de trechos do parque para poder agir no escuro.'

Daí, a BAND/FM resolveu fazer uma reportagem investigativa sobre o assunto, abrindo seus microfones e e-mails para manifestação de seus ouvintes. E veio uma manifestação indignada:

'15/5/2008 10h14

Paulo Rafael - São Paulo - SP 

Aproveito este espaço democrático para meu desabafo. Quanto ao caso do Parque do Ibirapuera quero expressar minha indignação. Realmente estou cansado de tanta hipocrisia. O que vão fazer agora? Perseguição? Digam pra mim e para toda população homossexual dessa cidade, existe espaço público para nós? Sinceramente sorte de vocês serem héteros. Como acabar com esse problema do sexo explícito? À partir do momento em que a sociedade parar de ser hipócrita e deixar de fazer de conta em não enxergar que a população gay está crescendo e nos aceitar como cidadãos e seres humanos conseguiremos eliminar grandes focos de sexo explícito. E escrevo mais. Muitos homens casados com mulheres o que é pior que garoto de programa na minha opinião, freqüentam não só o Ibirapuera como muitos lugares espalhados pela cidade para sexo com outros homens. É crime transar no espaço público? Sim é. Entretanto talvez fosse melhor que o atual e questionável sexualmente prefeito Gilberto Kassab (DEM) legalizasse esta prática como em Amsterdã por exemplo. Chega! Por favor parem com essa hipocrisia! Quando as pessoas pararem de egoísmo e aceitarem com nossos parceiros em qualquer lugar do espaço público se beijando, por exemplo o problema será amenizado ou até mesmo resolvido. Ou será que os gays só podem vivenciar a sua verdade em dia de Parada Gay? Acabou a Parada voltamos ao mundo da hipocrisia? E nosso dia-a-dia? Temos sentimentos também.'

A proposta é de um espaço público, como o que havia em Amsterdã, para o exercício de sexo explícito ao ar livre, em público, o que deveria ser autorizado, como insinua o reclamante, pelo nosso prefeito sexualmente questionável. Parece que o assunto está a demandar uma audiência pública, já que, no momento, ao menos a audiência pode ser pública."

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