Células-tronco

29/5/2008
Daniel Silva

"A manifestação do sr. Nelson me fez questionar algumas coisas que sinceramente não entendo. A Igreja (e não sou seu fã) é contra o sexo antes do casamento e apenas aceita o sexo para fins reprodutivos, ou seja, rejeita a transformação do ato de geração da vida em um mero prazer carnal reduzido à banalidade. Se esse é o pensamento da Igreja, nada mais correto do que ser contra métodos contraceptivos. Se o sexo é o único caminho para a vida, faz todo o sentido ser contra algo que impeça a geração de vida. O que não entendo é: Ninguém é católico na hora de realizar o ato sexual, ou seja, ignoram a questão do casamento, fidelidade e respeito pelos ensinamentos da Igreja com relação ao sexo, mas numa súbita reviravolta se tornam católicos fervorosos na hora de usar camisinha. Desrespeitar a Igreja e fazer sexo antes do casamento, traindo a mulher ou o marido, apenas para comemorar a vitória do time em campeonato, aí tudo bem. Ninguém é de ferro. 'Depois eu confesso...' Agora usar camisinha? Ah isso não. Se usar camisinha vai para o inferno! E quanto à questão da AIDS eu acho que as provas estão mais contra do que a favor do Sr. Nelson. Uganda por exemplo, conseguiu diminuir de forma espantosa os casos de AIDS do país disseminando exatamente os ensinamentos católicos que descrevi acima. E outro ponto: Acho que não preciso dizer que o prestígio e influência da Igreja católica tem caído cada vez mais e em contrapartida os casos de AIDS têm aumentado. E com relação à questão da castidade, também não entendi qual é a birra. Como o próprio Sr. Nelson mencionou a Igreja exige a castidade só dos padres e freiras e não do mundo inteiro. Ora é uma opção: Se quer seguir o sacerdócio, tem que fazer voto de castidade. Não sei se é correto, mas me parece muito lógico. O ser humano vive intensamente numa tensão entre o corporal e o espiritual. Acho que só o ser humano consegue 'segurar' os seus impulsos 'pelo espírito'. Se alguém vai se dedicar ao sacerdócio, imagino que é para trabalhar exatamente o lado espiritual e explorar o verdadeiro poder que ele guarda. Nada mais lógico, então, para demonstração do poder espiritual do que renunciar a um dos mais básicos instintos de todo animal: o ato sexual. E faz bastante sentido. Sendo o padre uma pessoa que se busca para iluminação espiritual, ele próprio deve demonstrar o poder do espírito, lhe dando autoridade para orientar às pessoas o que fazer e o poder que o lado espiritual possui. Assim como não se busca um cirurgião num açougue, um motorista de ônibus num boteco não vai se querer um padre que vive em um prostíbulo. Imagine um religioso pedir ajuda espiritual à alguém que não consegue manter o zíper da calça fechado? Ora se um padre não consegue controlar os seus impulsos, o que ele pode ensinar para uma pessoa que não consegue controlar os dela? E apenas uma nota final: Nietzsche é legal, mas tem que ser dosado. Há quem diga que nem filósofo era, embora tivesse uma intuição filosófica. Digo isso por causa da citação feita. A Igreja diviniza o pós-morte e não a morte. Se a Igreja divinizasse a morte, o suicídio seria sacramento."

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