Células-tronco

5/6/2008
Dávio Antonio Prado Zarzana Júnior

"Ainda no tema das células-tronco, ao revisar as migalhas de hoje, tomei um susto: o migalheiro Wilson Silveira, que tem a minha total admiração até hoje pelo que escreve, justamente pela ponderação empregada em cada caso, deu sua opinião sobre este tema, de forma aparentemente rápida e, a meu humilde ver, desgostosa. Pareceu-me - e o migalheiro me corrija se eu estiver errado - estar cansado desse debate. Eu me lembro numa outra vez em que contendia com o mesmo migalheiro Vecchiatti, e num determinado momento informei que iria parar a conversa, quando foi publicada uma mensagem do Dr. Wilson Silveira, pedindo que eu não desistisse das argumentações. E eu prossegui. Fico até sem jeito de ter que discordar de um dos migalheiros que, na minha opinião, sempre fundamenta muito bem suas migalhas. Mas, o espaço democrático é assim mesmo. Com toda a vênia, Wilson Silveira, mesmo porque eu não sou dono da verdade, como nenhum de nós é, sua migalha entristeceu-me um pouco. Primeiro, porque você utilizou um argumento de que quem é a favor das pesquisas são os doentes (de forma genérica), e quem é contra são os saudáveis (de forma genérica). Nós podemos afirmar isso? Dentro da gama de 180 milhões de brasileiros, há pessoas com deficiência de todo tipo (não sei os números). Não há nenhum deficiente católico, que teoricamente seria beneficiado com as pesquisas, e que rejeita a lei objeto da ADIN? Será mesmo? Eu pergunto, porque não foi feita nenhuma pesquisa nesse sentido, entre os próprios doentes. Seria interessante até providenciar isso através dos meios competentes. Não há nenhum dado ou informação que leve à conclusão de que os saudáveis são contra e os doentes são a favor. Invoco a sua própria ponderação marcante para refletir sobre a simplicidade perigosa dessa afirmação. É como se a doença retirasse a consciência e a fé de todos os pacientes, no momento em que se instaurasse. É claro que isso não existe de forma generalizante. É sofisma. Por outro lado, não são somente os celibatários os contrários aos preservativos. É falsa essa assertiva, permita-me dizer. Nesta discussão, ninguém se arroga ser advogado de embriões. Somos todos defensores da vida, mas não sejamos a tal ponto hipócritas para matar uma pessoa inocente e indefesa para salvar outra. Isso, não. Agora, acho que eu fiquei um pouco confuso com o seu exemplo de Lin Yutang, pois o Lin Yutang que eu conheço, indicado ao Nobel de Literatura diversas vezes, é um filósofo que descreveu, em tom testemunhal, seu regresso do paganismo para o cristianismo. Ele não permaneceu ateu. De fato, os Ministros do STF não são onipotentes e nem oniscientes. E é por isso que suas decisões procuram atender ao melhor Direito possível. O que nem sempre traduz a justiça e a verdade, como vimos na malfadada análise da ADIN pelo Relator. Não existe no mundo nenhum tratamento com células-tronco embrionárias, após cerca de 25 anos de pesquisas internacionais, mesmo nos países mais avançados. Conseguiram vender a mentira - a mentira do ano - de que estas células curam doenças, e esse absurdo foi comprado sem o menor questionamento de gente que deveria fazê-lo por questão de princípios. O STF, na verdade, não decidiu a favor dos vivos adultos, mas a desfavor de todo ser humano em todas as suas fases de desenvolvimento. Sobre o terremoto na China, é uma dor que poderia ter acontecido aqui (se nossos 5,2 graus fossem 7,2). É um grande desastre o que aconteceu por lá. Agora, planejar, meditar, buscar uma legislação de forma lenta, pausada, organizada, que fira o direito à vida, é tão trágico quanto. Para mim, enquanto morrerem adultos na China, ou inocentes no Brasil - e pior, no Brasil mortos autorizados por lei, enquanto um terremoto é força da natureza e fora do ser humano - esse assunto jamais será passado. Será presente. Eu ainda aguardo o velho e bom amigo migalheiro Wilson Silveira, aquele que pondera e reflete com grande sabedoria sobre os pontos apresentados, e que sempre admirei, e que hoje me decepcionou."

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