Advogado oferece-se

10/6/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Advogado, bem-apessoado, educado e de gosto apurado, especialista em generalidades, com larga experiência em muitas coisas, mais ainda em algumas, com o nome limpo na Serasa, nunca apanhado na malha fina da Receita Federal, sem ligação 'rastreável' com políticos atualmente na base aliada, oferece-se como 'laranja' para negociações na compra e venda de empresas aéreas, fazendas improdutivas (com ou sem trabalhadores escravos), terras na Amazônia (inclusive em áreas demarcadas), ou para intermediar o pagamento de pensões alimentícias de filhos ilegítimos (estuda-se casar com pagamento extra, a combinar). Cartas para a redação, a/c de 'Laranja'. Maldito o dia em que fui escutar quem me disse que a profissão de advogado rendia e que, trabalhando com afinco, poderia até enriquecer. Tenho feito isso, inutilmente, de sol a sol, e... nada. É só trabalho e mais trabalho, e nada de ficar rico. Fora as piadinhas. Ainda outro dia, encontrando um colega, também advogado, perguntei: 'E aí, como vão as coisas?' E ele me respondeu: 'Estou partindo para o segundo milhão de dólares'. E, rapidamente, continuou: 'O primeiro milhão foi um fracasso, não deu certo. Vamos ver o segundo, agora'. Mas, daí, leio que aqueles que a justiça de São Paulo qualificou de 'laranjas', no caso da venda da Varig, pagaram US$ 5 milhões (cinco milhões de dólares!) a um escritório de advocacia, para 'cuidar do caso'. Laranjas têm 5 milhões de dólares. E pagam 5 milhões de dólares a seus advogados. Eu não sou laranja nem advogado de laranja. Por isso, não tenho 5 milhões de dólares. Então, vamos à fonte, quero ser laranja. Não sei bem como se chega a laranja e nem se é difícil ser laranja. Para ser advogado, cursei 5 longos anos na São Francisco, e nunca conheci um laranja sequer. Conheci, nas Arcadas, o velho mestre Canuto Mendes de Almeida que um dia, em uma festa, também um pouco desencantado, confidenciou: 'Tantos anos brigando com os poderosos, uma vida inteira litigando contra as multinacionais e nunca, nunca, minha campainha tocou, uma noite, e alguém, com uma mala cheia de dinheiro para me comprar...'. Eu, que pretendo ser mais esperto, publico aqui meu anúncio. Alguém precisa de um 'laranja'?"

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