Ordálias - julgamentos divinos

4/7/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"As Ordádias, os julgamentos divinos, ou Julgamentos de Deus, eram um tipo de prova judiciária usado para determinar a culpa ou a inocência do acusado por meio da participação da natureza, ou de elementos da natureza, e cujo resultado seria interpretado como um juízo divino. Muito usado na Euripa Medieval esse tipo de procedimento se fundava na premissa de que Deus protegeria o inocente e, por meio de um milagre, o livraria da prova que, normalmente, consistia em testar o acusado no fogo e na água. No teste na água, normalmente o acusado era acorrentado e jogado em um rio, sem possibilidade de soltar-se. Se sobrevivesse, Deus o salvara porque era inocente. Caso contrário, e se afogasse, era porque era culpado, simples assim. Fiel às tradições religiosas, o bispo da igreja Cosme e Damião, de Goiânia, submeteu sua mulher à esse tipo de prova, ao jogá-la, devidamente algemada em um rio, provocando sua morte por asfixia. A coisa foi, realmente, mais complicada. O tal bispo, que viveu por 14 anos com a mulher que acabou matando, teve com ela três filhos. O relacionamento foi pontuado por agressões físicas e ameaças de morte por parte do bispo, até que ela resolveu se separar e procurar abrigo no Centro de Valorização da Mulher da cidade, para onde levou os filhos. Lá, iniciou um novo romance, o que enfureceu o bispo. Este, juntamente com o auxílio de outro de seus filhos, contratou um casal que simulou uma briga e forjou um B.O. para que a mulher pudesse também ir ao mesmo Centro e lá fizesse amizade com a esposa do bispo. Feito isso, a falsa amiga prometeu à esposa do bispo e seu novo amor a doação de um terreno, como forma de atrair os dois para um certo local, onde eram esperados pelo bispo, seu filho e o outros asseclas. Lá, foram algemados, levados à igreja Cosme e Damião, torturados e levados a um local ermo no qual já havia sido cavada uma cova, dentro de um grande formigueiro, onde se pretendia enterrar os corpos, de modo a facilitar a decomposição dos mesmos. Lá, a moça foi posta de joelhos à beira de um rio, ocasião em que o bispo lhe pediu um último beijo. Diante da recusa da vítima, foi a mesma jogada, algemada, no rio. E, como Deus não a protegeu, morreu asfixiada. A justiça divina veio, entretanto, antes da dos homens, já que o bispo morreu antes de terminar o julgamento do TJ de Goiás, somente agora, em 2008 (o crime aconteceu em 2001). Os demais envolvidos foram todos condenados."

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