As prisões do nosso Brasil

8/9/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Uma prisão com SPA (com piscina e esteira), edifício com três pavimentos, agradável sala de estar com obras de arte com nove metros de pé direito, sala de jantar com gigantesca luminária artística, tudo em um terreno de 5 mil metros quadrados, um luxo. O presídio dos sonhos. Ideal para 'confinar' ex-banqueiros, gente acusada de gestão fraudulenta, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Já tem muros altos e sistemas perfeitos de segurança, criados não para que ninguém saia, mas para que ninguém entre. Mas, dá para fazer uma pequena adaptação. E lá que está 'confinado', sozinho, Edemar Cid Ferreira. Entre suas obras de arte, sua luminária de Ingo Maurer, seu painel de Sol Lewitt, seus quadros, suas reproduções de mulheres nuas (loiras, morenas, mulatas, índias e modelos anônimas), seus documentos históricos, sua biblioteca. É lá que estuda o seu 'caso', recebe seus advogados e espera resolver tudo. Na verdade, pensando bem, é um presídio ideal para presos acima de qualquer suspeita. Até porque, enquanto isso, outro ex-banqueiro lá está, em Bangu 8, correndo toda sorte de riscos, tendo até que contrabandear suas sofridas lagostas para dentro da instituição, enquanto um outro banqueiro, esse ainda não ex, continua na corda bamba, de súmula em súmula, por falta de onde ir. A transformação da casa de Edemar no primeiro presídio vip da América, quiçá do mundo, resolveria todos esses problemas. E mais, resolveria, também, o problema dos veículos apreendidos nas sucessivas operações da Polícia Federal, que o delegado Protógenes propõe que sejam disponibilizados para uso da polícia. São Porches, Land-Rovers, Ferraris e outros que tais, impróprios para uso policial, mas que serviriam, perfeitamente, para uso na escolta dos 'visitantes permanentes' do presídio 'vip', em suas visitas ao Fórum, ou em suas compras no Shopping Iguatemi. Depois, a casa fica perto de tudo, do shopping, dos bons restaurantes, do Jockey Club e, até, da marginal, para quem pretenda alcançar o aeroporto de Cumbica. Uma facilidade. E, ainda mais, fica defronte ao ex-Banco Santos, para matar as saudades, lá dos grandes terraços, degustando um bom vinho da adega do anfitrião que, com a companhia, não mais se sentiria tão só e poderiam, todos juntos, projetar as próximas exposições de arte com as quais levariam a cultura aos mais pobres, um sonho que o anfitrião não conseguiu alcançar. É uma coisa a pensar, talvez um PPP. Um banco talvez se interessasse em bancar a iniciativa, privatizando o primeiro presídio vip do mundo – é preciso pensar no futuro – cuidando da restauração do imóvel e suas alfaias, evitando sua deterioração. Afinal, como se sabe, os banqueiros, assim como diz o próprio Edemar 'não tenho casa de praia, fazenda, outro lugar para ir', não costumam ter nada em seu nome. Tudo se divide por empresas controladas por offshores em paraísos fiscais. E, na hora de um aperto, morar aonde?"

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