Fetos anencéfalos

28/10/2008
Dávio Antonio Prado Zarzana Júnior

"Uma coisa me chamou a atenção hoje: foi divulgada uma pesquisa do IBOPE, que entrevistou mulheres católicas (?) e revelou que 72% delas são a favor de que grávidas de fetos anencéfalos possam matá-los. Eu não vou discutir, aqui, sobre a questão da vida ou morte intra-uterina. Mas gostaria de chamar a atenção dos colegas migalheiros para um detalhe curioso: A pesquisa foi encomendada, também, pela ong (?) Católicas pelo Direito de Decidir, uma organização que faz questão de publicar idéias anti-católicas, por paradoxal que seja. Pois bem. Também não é disso que quero falar. A curiosidade é que foi encomendada uma pesquisa para servir de embasamento ao futuro julgamento do STF, sobre este mesmo tema. Foi levado à população católica um questionamento sobre o qual essa mesma população não possui condições de responder, pela falta de conhecimentos gerais tanto científicos, quanto teológicos, filosóficos, e mesmo morais. Mas também não é disso que esta pequena mensagem trata. Trata sim, de uma hipocrisia deslavada contra a Igreja, utilizando a máquina do Estado. No momento em que se discute sobre 'ser a favor' ou não desse tipo de aborto, a mulher católica é valorizada por ser católica. A palavra 'católica' recebe uma conotação. Neste momento, o artigo 19 da Constituição Federal deixa de existir, e a realização de qualquer pesquisa é possível. Depois, quando os argumentos levantados pelas pesquisas contra a Igreja são trazidos ao STF, o artigo 19 é invocado. Então, peraí: se não pode haver aliança entre o Estado e a Igreja e demais cultos religiosos, por qual razão se permite a elaboração - e a análise de resultados - de pesquisas como esta, cujo resultado, se fosse inverso e a favor da Igreja, seria descartado? Em outras palavras, essa pesquisa não serve para nada. Porque alguns ministros do STF, ultimamente, atribuindo ao artigo 19 interpretação extensiva e distante da intenção do legislador original, confundem a aliança histórica Igreja-Estado - de mistura de poderes - com aliança entre 'fundamentos religiosos' e 'fundamentos científicos', que é lícita. Por isso, dizer que 72% das mulheres católicas são a favor do aborto de anencéfalos é o mesmo que dizer - ao arrepio da verdade - que 72% das mulheres católicas não crêem no poder de Deus e no poder do amor. Se a pergunta fosse feita assim, os resultados começariam a mudar. A menina Marcela de Jesus Ferreira, diagnosticada com anencefalia - que depois foi anti-eticamente 'desmentida' - revelou, em sua vida, uma dinâmica de amor familiar, amor mãe-filha acima do hedonismo dos corredores do poder, dinâmica que hoje é cuspida com asco nos altos e 'sábios' escalões de pretensa pesquisa e decisão jurídicas. Mas a Justiça se fará presente espiritualmente, um dia. Recordo-me das palavras de Charlie Chaplin, no discurso final da obra prima cinematográfica 'O Grande Ditador': 'Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens (e bebês), a liberdade nunca perecerá'."

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