Crise financeira

17/11/2008
Nelson Castelo Branco Eulálio Filho

"Prezada Susana Menda, apesar do nosso 'complexo de vira-latas' (ressaltando, apresso-me em fazê-lo, que 'vira-latas' tem aqui o sentido bem brasileiro cunhado por Nelson Rodrigues, pois a expressão aí nos USA tem outra conotação, aliás, usada por Barak Obama quando se referiu à compra de um cãozinho para suas filhas e disse que iria dar preferência a um vira-latas e, para espanto geral dos brasileiros completou: 'Assim como eu'), pois bem, apesar de nosso complexo de vira-latas (no sentido nelsonrodrigueano do termo) e apesar da torcida do 'quanto pior melhor' por parte de setores preconceituosos da oposição, o Brasil vai sair dessa crise - sobre a qual, aliás, não tem nenhuma responsabilidade - muito maior que entrou. De fato, dentre os emergentes, inclusive dentre os chamados BRIC's (Brasil, Russia, Índia e China) o Brasil está numa posição privilegiada. Sistema Financeiro sólido e não contaminado pelos tais derivativos tóxicos; inflação sob controle; superávit na balança comercial, emprego em alta (taxa de desemprego em baixa); arrecadação tributária 'bombando' (o que significa uma economia em pleno desenvolvimento positivo e 'robusto') e mais alguns fatores que omito para não estender muito o argumento. É claro que a crise (que não é de nossa responsabilidade, insisto) vai respingar (isso já está ocorrendo) na economia real e não precisa ser nenhum Lorde Keynes para constatar que a recessão em que estão mergulhando EUA, Europa e Japão (ou seja, as maiores economias do mundo) vai provocar, por si mesma, uma forte retração na demanda mundial de commodities (minerais e agrícolas), bugigangas em geral (americanas, chinesas, tailandesas, etc.), turismo, produtos da industria automobilística, etc., etc., etc., e isso vai nos atingir. Nossa situação, entretanto, é tão diferente (para melhor) dos chamados 'países ricos' que nós, no final das contas, vamos sair dessa crise muito fortalecidos - tanto em termos econômicos quanto políticos. Nós já estamos sendo muito respeitados em todos os fóruns internacionais (vide o recente encontro do G-20), ao contrário de até bem pouco tempo atrás quando chegavam aqui, em missão, funcionários de terceiro/quarto escalão do FMI para puxar as orelhas de nosso presidente do Banco Central, Ministro da Fazenda e até do Presidente da República, enfiando goela abaixo dos mesmos o 'cânone' neoliberal que deu no que nós estamos vendo em todos os quadrantes do mundo ocidental-judeu-cristão-capitalista. O neoliberalismo negou-se a si mesmo quando foi pedir, de joelhos, a ajuda do Estado para sair da enorme enrascada em que se meteu. O que nós estamos presenciando é uma verdadeira mudança de paradigma na história (pelo menos na história econômica). Embora não se possa dizer com certeza qual novo 'modelo' será adotado, pode-se afirmar com certeza que o que se pode vislumbrar no horizonte mais próximo é um fortalecimento do Estado - vale dizer, da Política - e um enfraquecimento do Mercado. Aquele regulando este de uma maneira inédita. Mas, ficando por aqui e voltando ao seu questionamento: fique tranqüila (e orgulhosa!). Seu país vai sair dessa crise de cabeça erguida e com a moral nas alturas impondo, pela sua própria situação perante os demais (principalmente os ricos), um respeito também inédito em nossa história. Cada dia me orgulho mais de ser brasileiro. Aceite um fraterno abraço de um brasileiro 'feliz que só pinto no lixo'."

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