Migalheiros

17/12/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Caro migalheiro Zapater. O que está lá escrito, lá em cima, é 'colocar uma 'virgem na capa'. Nem lendo direito dava para ler 'Virgem Maria'. Daí o seu equívoco. Mas, equívoco maior, sem dúvida, e repetido, foi aquele chamamento à direita absoluta, do 'cerceamento legítimo e lógico a favor da moral e dos costumes'. Notei que no último comentário, o cidadão que cometeu o desatino deixou de lado, convenientemente, a afirmação, apenas reclamando do tempo que encontro para rebater tais despautérios. É que, apertando um pouco aqui, um pouco ali, sempre se encontra um tempinho para evitar prosperem disparates desse tipo. Há sempre quem acha que a censura se justifique, em termos de proteção do público (eu proibiria sua veiculação... cerceamento lídimo e lógico a favor da moral dos costumes... etc) o que, na verdade, esconde uma posição de desejo de submeter todos ao poder (normalmente do Estado) infantilizando o público, considerado incapaz de pensar por si próprio. Suprimindo a informação, a opinião e, até, formas de expressão, impede-se, afinal, a liberdade de expressão, mantendo-se o status quo, evitando-se alterações do pensamento e, conseqüentemente, a vontade de mudança. Em Portugal havia a Pide, nos Estados Unidos agiu o McCartismo, no Brasil a polícia política de Getúlio e, mais tarde, o governo militar. Nesse caso específico, do governo militar brasileiro, aconteceu no Brasil o que José Murilo de Carvalho qualifica de 'Estadania', algo a que o cidadão recorria para resolver, a partir da esfera pública, problemas da esfera privada. No trabalho 'Os dois lados da moeda: a censura de imprensa entre a repressão e a legitimação', sua autora, Adriana Cristina Lopes Setemy, falando da 'Estadania', menciona que é a busca da participação política ou de atendimento às demandas através das estruturas burocráticas do Estado. E, acrescenta que, 'nessa lógica, caberia ao Estado, por exemplo, cuidar para que a juventude não sofresse a influência malévola da subversão e da pornografia expostas nas bancas de revistas'. O trabalho menciona que, na época, a censura recebia inúmeras cartas, dirigidas à 'prezada censura', todas tratando da defesa da moral e dos bons costumes e, mais, que isso seria um domínio legítimo do Estado. A conclusão do trabalho, quanto às cartas escritas à 'prezada censura', é que a riqueza das mesmas não estava no fato de serem ou não uma evidência de que a sociedade colaborou com o regime, 'mas nos colocar em contato com o universo mental daqueles que escreviam à censura, e que entendiam essa prática como uma forma de exercer seu papel de cidadão em meio às tantas restrições políticas do regime de exceção que vivia o Brasil'. Hoje, tantos anos passados, não mais há cartas à 'prezada censura', mas ainda há os que entendem exercer o seu papel de cidadão proclamando a volta das restrições políticas, cerceamentos lógicos e legítimos, repressão legitimada, enfim, encontrando, por isso mesmo, enorme dificuldade para expor pontos de vista, politicamente de direita, camuflando-os de 'centristas'. É Manuel Azinhal, de Portugal, quem diz que:

'Efectivamente, pode observar-se que a direita não gosta de ser, e nunca gostou.

Esse facto aliás esteve na origem da tese de um politólogo que já foi célebre segundo o qual se um indivíduo diz que não é de direita nem de esquerda podemos ficar certos que é de extrema-direita. A dupla negação traduz a identidade.'"

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