Desabafo

7/1/2009
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"É, cara migalheira Ana Luiza Suguiura, também eu já tive oportunidade de ver esse tipo de argumentação, quando cursava a Faculdade de Direito, nas Arcadas, na época do governo militar e um dos professores estava envolvido em alguma maracutaia de alguma instituição bancária oficial. Em classe, resmungava do absurdo de ser chamado a depor por uma 'mixaria', conforme alegava, enquanto casos 'muito maiores' existiam. Na mesma ocasião, recém entrado na Faculdade, ainda assombrado com o conhecimento, lia Espinoza e me admirava da diferenciação do 'tamanho' do delito financeiro estabelecido pelo mestre como balizamento para sua inocência.

O Preço da Honra

As coisas que mais ocorrem na vida e são tidas pelos homens como o supremo bem resumem-se, ao que se pode depreender das suas obras, nestas três: as riquezas, as honras e a concupiscência. Por elas a mente se vê tão distraída que de modo algum poderá pensar em qualquer outro bem. Realmente, no que tange à concupiscência, o espírito fica por ela de tal maneira possuído como se repousasse num bem, tornando-se de todo impossibilitado de pensar em outra coisa; mas, após a sua fruição, segue-se a maior das tristezas, a qual, se não suspende a mente, pelo menos a perturba e a embota. Também procurando as honras e a riqueza, não pouco a mente se distrai, mormente quando são buscadas apenas por si mesmas, porque então serão tidas como o sumo bem. Pela honra, porém, muito mais ainda fica distraída a mente, pois sempre se supõe ser um bem por si e como que o fim último, ao qual tudo se dirige.

Além do mais, nestas últimas coisas não aparece, como na concupiscência, o arrependimento. Pelo contrário, quanto mais qualquer delas se possuir, mais aumentará a alegria e consequentemente sempre mais somos incitados a aumentá-las. Se, porém, nos virmos frustrados alguma vez nessa esperança, surge uma extrema tristeza. Por último, a honra representa um grande impedimento pelo facto de precisarmos, para consegui-la, de adaptar a nossa vida à opinião dos outros, a saber, fugindo do que os homens em geral fogem e buscando o que vulgarmente procuram.

Baruch Espinoza, in 'Tratado da Correcção do Intelecto'"

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