Falecimento - Waldir Troncoso Peres

15/4/2009
Orlando Maluf Haddad

"Amigos, desapareceu corporeamente Waldir Troncoso Peres. Não era jurista. Não era professor. Não era acadêmico. Não ostentava títulos. Não era fissurado em mídia. Simples e grandiosamente, foi advogado. Ídolo de nossa geração, encantou a muitas com seu inigualável talento, principalmente vocacionado para o júri. Dos tribunos, foi o melhor que conheci. Como sempre, o Direito Penal foi, é e será o que mais apaixona o estudante de Direito. Tivemos, em nossa formação, a sorte de assistir a muitas palestras e júris simulados em que Waldir desfilava sua ampla cultura, reflexos e incomum aptidão para uma oratória que, a serviço da defesa de seus clientes, não raramente os transformava de demônios em anjos perante os mais rigorosos jurados. Formou-se em 1946 pela São Francisco. Como permanente estrela do tribunal do júri protagonizou inúmeros casos de grande emoção, muitos pitorescos. Numa ocasião, num dificílimo embate contra o festejado e competente promotor Djalma Lucio Gabriel Barreto, estando em desvantagem na argumentação fática, com admirável convicção invocou a lição do insigne jurista Antonio Dias Leite para dar suporte a um precedente que livraria seu cliente de uma condenação. Após a sessão, curioso estudante que era, perguntei-lhe quem era o jurista citado, de quem nunca ouvira falar. Ele, maroto como criança, confidenciou-me que o 'jurista' era o engraxate do Fórum Criminal, e que não tendo sido interpelado pelo adversário a respeito da origem da personalidade citada, considerava válida e eficaz sua verve e argumentação, que, afinal ajudara a absolver seu cliente. Dele ouvimos (muito de nós, estudantes de 1972), uma frase de que me lembro agora, com saudades: 'Eu já pedi a meus filhos que, quando for a hora, me enterrem com minha beca, pois ela que me ajudou a encontrar a chave da porta da cadeia, há de me auxiliar a encontrar a chave do reino dos céus'. Beijos e abraços."

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