Atos secretos

13/7/2009
Pedro Luís de Campos Vergueiro

"Saulo Ramos resolveu sair de seu ostracismo. E o fez para falar do amigo de fé e irmão camarada, o amigo de muitas jornadas. Diante das atuais circunstâncias, entendeu que não podia deixar de se manifestar. Afinal, continuando a citação, em certos momentos difíceis da vida, como é o caso, precisa-se de alguém para ajudar na saída... Sobretudo quando se trata de uma nova Geni a quem vem sendo atiradas futricas, apesar de sua história de serviços (ou serão desserviços?) prestados ao Brasil. Do abundante material fático de seu texto 'Pode repetir-se o castigo' (Folha de São Paulo, 12/7/2009) o jurista manifestou uma sincera, parece, dedicação ao amigo, comportamento de apologista para o qual não existem barreiras. Deixemos de lado o exagero do afeto do jurista. O fato é que ele também puxou, não apenas um, mas vários dos fios da meada das mazelas do amigo Sarney. Tudo exposto, conclui preconizando com a possibilidade horrorosa do futuro ser 'mellado' novamente. Ora, nessa linha de pensamento, como já ponderou Machado de Assis (tudo não passa de verdades velhas caiadas de novo), realmente histórias se repetem.  Anota o jurista escritor que o amigo é que teria resolvido os problemas deste país(?!). Teria Sarney, diz, na sua época de esplendor presidencial é claro, apaziguado as partes em conflito para evitar o retorno ao totalitarismo (palavra que, a rigor, encerra ambiguidade nos dias de hoje, pois está sendo embaralhada com democracia, e vice-versa). Bem, o papel tudo recebe. Inclusive a assertiva do jurista escritor de que foi o amigo que mandou apurar os ilícitos e as responsabilidades pelos fatos que estavam vindo a lume. Acrescenta que, foi o amigo que acionou os mecanismos de investigação disponíveis. Tem-se aí o começo do que já havia sido e, lamentavelmente, do que ainda está por vir a ser detectado. A verdade é que a realidade às vezes imita a ficção! Quem não conhece a história de Édipo? Aí está: bem o disse o jurista escritor ao referir-se à atuação do amigo em insistir na descoberta da causa da crise que se instalou em sua Casa. Para apurar a causa do mal que grassava em sua cidade, Édipo promoveu a investigação acionando os mecanismos de seu tempo, mandando consultar o oráculo. Sua indagação teve a resposta certa e deu no que deu: Édipo apurou que a causa de todos os males que grassavam em sua casa era ele próprio. Ao tomar consciência disso, ao tomar consciência de seus atos tidos como ilícitos, assumiu sua culpa e puniu-se vazando os próprios olhos. E foi autorizado a partir para o exílio. A história brasileira, a realidade exposta pelo jurista escritor, entretanto, ainda não chegou ao seu final. A fase investigatória ainda está em curso e a cada dia mais e mais, digamos, irregularidades vêm sendo descobertas. Desde que a investigação começou, o fio da meada não chega ao fim; a grandeza da investigação só o faz crescer. Mas, como os tempos são outros, a forma de linchamento é diversa: é o notório repúdio das pessoas de bem, apesar das palavras do bom companheiro que estão sendo lançadas para o vazio e, dada a seriedade da investigação, considerados os fatos já apurados, não têm condições de fazer eco. Enfim, sujou... Estará 'mellando'!? Como o amor, amizade desse quilate também é cega... Tal qual a justiça o é. Que o jurista escritor então, já que está abrindo as portas de sua casa, com um abraço festivo nela receba para o ostracismo o colega escritor, o Senador Sarney. Afinal, este de longa data vem tropeçando nas pedras do caminho e já não sabe e nem tem mais condições de contornar o imediatismo da crítica popular. E que juntos passem a conviver o esquecimento."

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