Caso Battisti 21/9/2009 Pedro Luís de Campos Vergueiro "Está em todos, ou melhor, em quase todos os jornais uma propaganda do livro 'Minha Fuga Sem Fim', escrito por Cesare Battisti. Matéria paga, provavelmente. Por quem? É uma indagação que merece ser esclarecida, porque considerada a data em que o livro foi colocado nas gôndolas para ser vendido, essa propaganda deve visar retirá-lo do encalhe. Ei-lo: 'Escrever para não me perder na névoa dos dias intermináveis, a Cabeça enfiada no travesseiro, repito para mim mesmo que não é verdade. Que não sou esse homem que a mídia transformou em monstro e condenou ao silêncio das sombras. Que só pode se tratar de um personagem de romance, um desses obstinados que ficam tentando se impor e destruir a história que se está escrevendo.' Não obstante, a propósito desse texto de propaganda do livro, que está entre aspas a indicar que é a transcrição de um trecho do mesmo, se o propósito foi emocionar o eventual futuro leitor, na realidade o resultado, no meu entender, é outro. Da leitura desse texto extrai-se que o livro não passa da assunção de um monte de culpas por seu autor, um ex-militante (ex? Não acredito que o seja) na prática de atos terroristas desde a tenra idade. Não é outra, também, a conclusão possível que se extrai do seu currículo de vida que vem sendo divulgado. Como o passado não pode ser renegado, o homem monstro referido no texto não foi construído pela mídia: ele foi moldado pelo próprio Cesare Battisti, a começar da intimidade da casa paterna. E o ativismo na clandestinidade ao que se seguiu a clandestinidade decorrente do medo de ser enquadrado numa prisão em seu país de origem, essa constante fuga se manteve até que foi preso no Brasil: momento em que suas mazelas, em detalhes, se tornaram públicas. De fato, de fuga em fuga, da Itália, da França, do México etc acabou por vir a se homiziar no Brasil. Aqui encontrou elementos que no passado praticaram (ao ensejo: não será que, agora no poder, ainda os praticam?!) praticaram atos iguais e semelhantes e que, por essa razão provavelmente, lhe deram asilo, ocultando-o. Ademais, é preciso que se comece a poupar os cidadãos brasileiros de ilações hipócritas, como o é essa história de condenação ao silêncio. Homiziando-se, é claro, é óbvio que não poderia aparecer pelo mundo como um cidadão normal: homiziar-se era, para si, uma necessidade (aliás, encontrar a paz que não queria para os seus adversários do seu tempo de clandestinidade terrorista). Manter-se no silêncio ocorreria se, talvez mais sabiamente, se tivesse se mandado para outra plagas e se convertido num anacoreta laico. É óbvio que Battisti nunca quis, nem quer aparecer, pois se aparecesse teria antecipado sua detenção. Battisti foi condenado sim, mas não ao silêncio. Foi condenado a cumprir pena de prisão no seu país de origem pela prática de crimes de morte. E se tivesse a hombridade de assumir seus erros (para si seriam acertos?), a esta altura dos acontecimentos deveria estar se submetendo às leis postas em seu país e que não são tão rigorosas como aquelas normas que constituíam incentivos para os muitos atos que praticou na clandestinidade. A verdade é que depois de preso acabou por sair do silêncio e da clandestinidade. E, nesta situação de prisão ele vem tendo seus momentos de glória: tornou-se um objeto do desejo. De fato, vem sendo procurado para dar entrevistas como se pode constatar pela quantidade de pedidos nesse sentido registrados no andamento de seu processo extraditório. Se notoriedade era o que queria, conseguiu-a. Quanto aos direitos que pretende ter, então que crie coragem e se entregue aos seus conterrâneos. Dispondo-se a voltar para o seu país de origem poderá exercer os seus direitos da cidadania italiana, segundo as leis e a Constituição lá vigorantes. Ele não tem nada a temer, pois o controle de sua pessoa será realizado pela mídia mundial que vem acompanhando o incidente de sua prisão no Brasil e o pedido de extradição apresentado pela sua nação italiana. Não há motivos para temer perseguição política, pois o que irá ocorrer lá é fazê-lo cumprir a pena a que foi condenado. E é lá, na Itália, que deverá fazer valer seus direitos, e sempre o poderá, inclusive o de revisão de seus processos, sejam eles quais forem. Lá, com certeza, mais perto dos trâmites processuais, poderá escrever à vontade, às claras, sem precisar enfiar a cabeça no travesseiro. E, então, lá, com seus sólidos argumentos poderá tentar mostrar e demonstrar que não é um monstro condenado ao silêncio das sombras. E lá, ainda, poderá tentar mostrar e demonstrar que não é um personagem de romance, mas, sim, uma pessoa real que tem, desde o nascimento, uma história para contar e dela valer-se em seu próprio benefício, nos mesmos termos em que aqui pretende ficar, sela lá como for. O tom de arrependimento embutido nas idéias do texto de chamada para forçar a compra de sua “fuga sem fim”, indica que seria (será? Ou apenas simula sê-lo?) um terrorista arrependido e representa seu ato de contrição. Arrependido? Então, se assim se encontra na atualidade, deverá cumprir sua penitência na Itália, onde praticou, instigou e acobertou crimes. Lá é o local onde, há muito, já devia estar. Lá é onde deverá debater-se daquilo que chama de perseguição política. Para lá poderá levar o que já amealhou no Brasil e pagar pela obtenção de sua liberdade. Se a ela fizer jus, é claro. Longe do Brasil ele poderá viver intensamente dias sem névoa. Se sua fuga precisa ter um fim, então, coragem, Battisti volte para o seu ninho." Envie sua Migalha