Artigo - Qual é mesmo o benefício de fazer várias coisas ao mesmo tempo?

"O que é ser uma mulher? Difícil. Muito difícil. Eu diria mais, em algumas situações, ser mulher é quase a prática diária da realização de um milagre (Migalhas 2.232 - 23/9/09 - "Mulheres malabaristas" - clique aqui). Mulher pode ser gorda? Poder até pode, mas não deve; ou melhor ainda, não convém. Embora precise perder suas formas atrativas para fazer uso da sua fertilidade. Não realiza apenas o próprio sonho com a maternidade, mas com a perda de suas formas, proporciona também o sonho da paternidade aos homens. Além disso é preciso aprender ser mãe, sem deixar de ser mulher. Entre uma troca de fralda e outra, é preciso correr até a manicure. Entre uma papinha e outra, intercalar o horário da depilação. Acalentar o filho, dar prazer ao marido e não esquecer de deixar o feijão de molho para o almoço do dia seguinte. Detalhe: sem esquecer que o sr. sorriso deve sempre acompanhar todos os compromissos, bem como, o pescoço cheiroso, a pele macia, o cabelo sedoso e o colo disponível. Alguém sempre precisa dele. É preciso manter a casa em ordem. Limpa, organizada e cheirosa; porém, mulheres não devem em hipótese alguma, ter nas mãos cheiro de produtos de limpeza. É preciso preparar a comida: café da manhã, almoço, jantar. Bolos, docinhos, sobremesas e lanches dos mais variados, todavia jamais deverá ter cheiro de alho nas mãos ou algo semelhante. Tem de ter os bifes fritos à mesa, mas o cabelo tem de ter cheiro de aloe e vera. Sendo assim requer em seu currículo de mulher também o diploma de mágica, pós graduada em efeitos especiais no caso dos bifes serem acebolados. Precisa se comportar à sociedade como uma dama. Comedida, falar calmamente, gesticular pouco. Ao caminhar, nunca deve balançar muito os quadris, e os ombros têm de estar eretos, os passos curtos e leves. Sorrir com discrição, não mexer muito no cabelo e se movimentar sempre com delicadeza, não esquecendo nunca de manter o ventre contraído. Aprendemos isto em aulas de yoga. Quando contraído, o ventre, mantém os órgãos internos femininos firmes, juntos, unidos, a postos, de modo que assim possam sempre ficar em seus devidos lugares, desempenhando suas devidas funções de forma saudável. E quando deixamos o ventre relaxado, os órgãos também vão relaxando, e com o passar do tempo vão ficando frouxos, soltos, flácidos. E com maior propensão ao desenvolvimento de moléstias. Para os iogues, esta postura se dá com um único objetivo: saúde. Já para as mulheres em sua grande maioria, manter o ventre contraído, se dá única e exclusivamente a fim de que suas amigas não percebam seus quilinhos extras, claro. Ah, essas mulheres! Na conquista amorosa, tem de ser carinhosa, sem ser pegajosa. Tem de ser ciumenta, sem ser possessiva. Tem de se fazer notar, sem ser oferecida. Tem de ser sedutora, sem ser vulgar. Ah, esses homens! Já na intimidade conjugal, a dama do dia tem de dar lugar a amante da noite. E todo o pudor do dia não tem mais valor algum. É preciso esquecer tudo que aprendeu sobre menos decotes, menos balançar de quadril, menos exposição. Nesse caso, de intimidade conjugal, o menos conta como mais. Menos pudor - mais prazer; menos não-me-toques - mais excitação; menos frescura - mais sensação; menos vergonha - mais intimidade. Ser uma mulher... Ah, caro leitor, como é difícil! Ser mulher é muito mais do que germinar, gerar, parir, criar. Mulher símbolo da continuidade! Sim, mas não só a continuidade da vida. Ser mulher é conseguir dar a continuidade de tudo ao seu próprio redor e ter sabedoria suficiente para perceber o próximo papel a ser desempenhado sem ao menos ter lido o script e milagrosamente conseguir ser protagonista em todos eles! Continuar sendo amante, apesar de ser mãe. Continuar sendo filha, apesar de ser nora. Continuar sendo dona de casa, apesar de ser profissional. Continuar sendo bonita, apesar da idade. Continuar sendo interessante, apesar da rotina. E o mais difícil de todos: continuar sendo forte, apesar de ser frágil!"