Migalheiros 27/10/2009 Claudia Corrêa "Enquanto isso, no divã migalheiro... Sem dúvida que a magia que envolve a infância e juventude é mesmo encantadora! Fase das descobertas, das novidades! O sabor é mesmo diferente! Mas, o mundo adulto... ah, o mundo adulto é fascinante! Li dia desses, uma notinha instigante em uma revista: foi realizado em Madri um Congresso Internacional da Felicidade, e a conclusão dos congressistas foi que a felicidade só é alcançada depois dos 35 anos. Quem participou desse encontro? Psicólogos, sociólogos, curiosos, artistas de circo? Não sei. Mas gostei do resultado. A maioria das pessoas, quando questionada sobre o assunto, diz: 'Não existe felicidade, existem apenas momentos felizes'. Eu também. pensava assim quando habitava a caverna dos 17 anos, para onde não voltaria nem puxada pelos cabelos. Apesar da magia envolvida, era angústia, solidão, impasses e incertezas pra tudo quanto era lado, minimizados por um garden party de vez em quando, um campeonato de vôlei, um feriadão na praia. Os tais momentos felizes. Adolescente é buzinado dia e noite: tem de estudar para o vestibular, aprender inglês, usar camisinha, não dirigir, não engravidar, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar dezenas de paixões fulminantes e rompimentos dilacerantes. Complexos mil: o cabelo é liso demais ou crespo demais, o joelho é muito torto, os braços são muito finos , as pernas são muito grossas. Hormônios quicando aqui e ali. Ama, odeia, ri, chora, tudo ao mesmo tempo. Não tem grana para ter o próprio canto, costuma deprimir-se de segunda a sexta e só se diverte aos sábados, em locais onde sempre tem fila. É o apocalipse. Felicidade, onde está você? Aqui ó, na casa dos 30 e sua vizinhança. Está certo que surgem umas ruguinhas graus acima, umas mechas brancas nas madeixas e a barriga, exibidíssima, desaforadamente salienta-se no maior desplante, mas é um preço justo para o que se ganha em troca. Pensem bem: depois dos 30, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se no inglês, no espanhol, no italiano e até no iídiche se for preciso, e ai de quem rir do seu sotaque. Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila por uma Samsonite e não precisa da autorização de ninguém para assistir ao canal da Playboy. Dane-se se seu joelho continuou torto, se sua perna afinou e se seu braço engrossou. Tem maior controle sobre seus hormônios, e os conduz com muito mais propriedade. Talvez não tenha se tornado o bam-bam-bam que sonhou um dia, mas reconhece o rosto que vê no espelho, sabe de quem se trata e simpatiza com o cara. Depois que cumprimos as missões impostas no berço — ter uma profissão, casar e procriar — passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos. Somos os titulares de nossas decisões. A juventude faz bem para a pele, mas nunca salvou ninguém de ser careta. A maturidade, sim, permite uma certa loucura. Doce e respeitada loucura! Depois dos 35, conforme descobriram os participantes daquele congresso, estou certa de que 'infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes'. Sai bem mais em conta." Envie sua Migalha