Família

26/10/2009
Pedro Luís de Campos Vergueiro

"A leitura da reportagem 'Famílias Pobres Lutam para ter Filhos de Volta' (O Estado, 25/10/09) passa a idéia de que crianças entregues a famílias substitutas estariam sendo retiradas de seus progenitores, sem que estes estejam entendendo bem o que estaria acontecendo. E que estes querem as crianças de volta. Por outro lado, noticia também que os conselheiros tutelares tinham sérias suspeitas de que as suas famílias estariam sendo, no mínimo, negligentes no cuidado das crianças. Daí a ideia veiculada no Fórum Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente por Givanildo Manoel da Silva, de que essas crianças devem devolvidas, afirmando que 'o lugar de desenvolvimento da criança é em seu lar e em sua família de origem'. Ora, negligência e maus tratos, ou mesmo impossibilidade de bom trato, é passível de estar acontecendo em qualquer 'lar'. Em sendo esta a situação constatada no 'lar', ao Estado cabe promover os programas sociais visando o melhor para a criança que é a sua entrega para uma família substituta. Para tanto existem os Conselhos Tutelares, cabendo-lhes zelar pela infância e pela juventude segundo os princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Assim, o que se deve procurar é sempre o melhor para a criança, a segurança no seu crescimento em todos os sentidos e sempre um futuro melhor, o possível. Pobreza, quer queira (pois há quem a alimenta) quer não, é problema; extirpá-la, ou se isso não é possível, mitigá-la é o objetivo anunciado por qualquer governo. Os caminhos para tanto? Em todas as épocas, desde a antiguidade, foram eles propostos e buscados. Guy de Maupassant, o exímio contista francês da segunda metade do século XIX, em seu conto 'No campo' abordou a amargura da pobreza. Casal rico, sem filhos, para sua carruagem na frente uma choupana onde brincavam duas crianças de pouca idade. Indagam aos pais de uma delas se permitiriam levá-la para adoção como filho, recebendo como resposta uma negativa indignada. Na choupana em frente fazem a mesma proposta e os pais da outra criança que aceitam a proposta. Dinheiro e recompensa envolvidos, é claro. Passados 17 anos, o menino adotado vem visitar os pais verdadeiros, sob o olhar do outro, então fascinado pela ostentação de riqueza. Depois de questionar seus pais que lhe contaram o que acontecera e tomando conhecimento da recusa, ele decide abandoná-los extravasando sua mágoa: 'campônios idiotas'. Sim, amargo o conto, mas traduz ele a realidade da época retratada, passível de ser considerada na atual sociedade que prima pelo consumismo. Em princípio, quem quer adotar uma criança, pretende suprir uma carência pessoal e suprir as necessidades que o adotado não teria supridas por sua família natural. E isso abrange sua integridade física, pois não faz muito tempo noticiou-se que duas crianças fugiram de casa e, depois de localizadas, foram recolocadas de volta para que uma delas fosse espancada (maus tratos que denunciaram a ouvidos moucos) até morrer. Se essa não foi a tragédia, o caso chegou perto disso. Permitir a adoção, sob o crivo dos conselheiros tutelares, assistentes sociais, médicos e outras autoridades é o caminho para retirar a criança das desgraças das ruas. "

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