Artigo - Recomeços

12/11/2009
Antonio Sarmento

"Não conheço o Ministro Vidigal, mas admiro sua coragem e disposição maoísta para dar o primeiro passo da longa jornada da libertação (Migalhas 2.266 - 12/11/09 - "De novo" - clique aqui). Esse guerrilheiro das palavras e líder das emboscadas da inteligência cunhou uma expressão que hoje retrata a situação do povo brasileiro: a 'morte cívica'. Os cadáveres cívicos e insepultos de nossos compatriotas um dia se regozijarão ao saber que alguém agitou a bandeira da revolução espiritual e material, a mesma que São Tomás de Aquino já declarava ter o respaldo moral e a justificação do levante contra a tirania. Tomás de Aquino disse que quando um povo é governado por um tirano lhe é lícito afastá-lo pela força. O poder tirânico é ilegítimo: do mesmo modo que o direito à propriedade cessa com o seu abuso, o governante que abusa da magnificência ao distribuir bens materiais aos desvalidos não pratica a virtude, mas perde o direito de exercer a justiça em benefício de um país de todos. A força de que dispomos, entretanto, só se manifesta quando usada de modo coletivo, que é o exercício do direito de voto. Não sabendo usá-lo, o povo abdica do poder de livrar-se dos tiranos. E, quando o faz, é recorrente que a escolha recaia sobre sucessores ainda piores, como bem colocou a velhinha de Siracusa, ao explicar ao tirano Dionísio porque preferia sua permanência, pois a experiência comprovava que cada substituto era pior que seu antecessor. Não que desejemos a continuidade dos nossos tiranos, mas, no clima moral que comanda a próxima sucessão, paira o risco de vermos este país infelicitado como nunca antes em sua história, caso a massa eleitoral já esteja tão corrompida que não lhe seja mais possível perceber as arapucas que lhe são armadas com tantos benefícios e favores desordenados, que lhe embota a capacidade de ver e entender o que se passa. Como dizia o poeta Vergílio: 'timeo Danaos at dona ferentes' – (teme o gregos e os que dão presentes - Eneida, II, 49). A outros, melhor cabe a advertência de Santo Agostino, ao reprovar aos que, arrogando-se sabedoria, chafurdam na decadência moral: 'Qui proficit in litteris, et déficit in moribus; plus deficit, quam proficit'. De Versus Apost., 15. O chapéu na cabeça de quem se lhe ajuste."

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