E o que é o carnaval senão uma volta temporária aos tempos dos costumes bárbaros?

Como enfim a sem-vergonhice está no fundo da natureza humana e como não há lodo que não goste de aparecer ao sol, inventou-se o carnaval, – três dias libérrimos, setenta e duas horas descaradas em que ficou estabelecido que todos os vícios podem andar à solta, cabriolando na praça pública, de garrafa desarrolhada na mão e perna leve no pincho do can-can.

Resta-nos o carnaval; é ele, porém, tão igual por toda parte, que foi impossível, segundo tudo faz crer, ao subúrbio dar-lhe alguma coisa de original.

O carnavalesco é um homem que nasceu para o Carnaval, que vive para o Carnaval, que conta os anos de vida pelos Carnavais que tem atravessado, e que, na hora da morte, só tem uma tristeza: a de sair da vida sem gozar os Carnavais incontáveis, que ainda se hão de suceder no Rio de Janeiro pelos séculos sem fim.