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Recorde

quarta-feira, 1 de setembro de 2004

Atualizado em 5 de outubro de 2022 10:52

Em tempo de Olimpíadas, o leitor Marco Tullio dos Santos envia-nos a seguinte indagação: "Notícias vindas de Atenas referem, a todo instante, que 'Foi quebrado mais um récorde'. Indago ao autor de Gramatigalhas qual a pronúncia e a grafia corretas: récorde ou recorde (cór)?"

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1) Quanto à origem histórica do vocábulo, assim é a explicação de Silveira Bueno: "Dava-se tal nome ao disco, nos jogos atléticos, que se colocava no fim da meta, no estádio: aquele que primeiro o atingisse, o retinha como troféu, como lembrança, como recordação do feito praticado".1

2) Basicamente significa superação de marcas anteriores. Ex.: "Diversos recordes foram batidos naquele torneio internacional".

3) Apesar de generalizada a pronúncia proparoxítona (récorde), lembra Napoleão Mendes de Almeida ser mais apropriada a pronúncia paroxítona,2 rimando com acorde, concorde e discorde.

4) Desse entendimento é também Luiz Antônio Sacconi.3

5) Assim também registra o Dicionário da Melhoramentos.4

6) Silveira Bueno, de igual modo, é taxativo no sentido de que se deve pronunciar a palavra como paroxítona e não proparoxítona.5

7) Palavra de origem inglesa que é, fogem às regras de grafia e pronúncia quaisquer outras formas de passagem para nosso léxico: récorde, récor, record, recor.

8) Trata-se, ademais, de palavra já perfeitamente integrada a nosso léxico, sendo, assim, inaplicável a lição de Aires da Mata Machado Filho, no sentido do uso de grifo para indicar-lhe a procedência estrangeira.6

9) A pronúncia paroxítona - e não proparoxítona - desse vocábulo é também realçada por Arnaldo Niskier, autor esse que, em outra passagem, assevera que "se pronuncia recórdes e não récordes; nós não falamos inglês".7

10) Assim é a síntese de José de Nicola e Ernani Terra: "O substantivo que indica que uma marca máxima foi atingida apresenta uma forma aportuguesada, já de uso consagrado: re-cor-de (paroxítona). Evite, portanto, a pronúncia proparoxítona (récorde) e a grafia inglesa record".8

11) Eliminando toda possível dúvida sobre sua forma e pronúncia em português, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, que é o veículo oficial ordenador do modo de grafar as palavras em nosso idioma, registra unicamente recorde (com e final e sem acento gráfico), a significar que a considera palavra já integrada a nosso idioma, devendo ser pronunciada rimando com acorde, concorde e discorde.9

12) Em pertinente observação, anota Domingos Paschoal Cegalla que recorde pode ser usada como substantivo ou como adjetivo:

a) "O Guinness é o livro dos recordes" (substantivo);

b) "Fez o percurso em tempo recorde" (adjetivo).10 A pronúncia continua a mesma.

____________

1 Cf. BUENO, Francisco da Silveira. Questões de Português. São Paulo: Saraiva, 1957. 2. vol., p. 413.

2 Cf. ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Dicionário de Questões Vernáculas. São Paulo: Editora Caminho Suave Ltds., 1981. p. 264.

3 Cf. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa Gramática. 1. ed. São Paulo: Editora Moderna, 1979. p. 19.

4 Cf. Encyclopaedia Britannica do Brasil. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 14. ed. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1995. p. 1.472.

5 Cf. BUENO, Silveira. Português pelo Rádio. São Paulo: Saraiva & Cia., 1938. p. 201.

6 Cf. MACHADO FILHO, Aires da Mata. "Principais Dificuldades", In: Grande Coleção da Língua Portuguesa. 1. ed. São Paulo: co-edição Gráfica Urupês S/A e EDINAL - Editora e Distribuidora Nacional de Livros Ltda., 1969. vol. 1, p. 173.

7 Cf. NISKIER, Arnaldo. Questões práticas da Língua Portuguesa: 700 respostas. Rio de Janeiro: Consultor, Assessoria de Planejamento ltda., 1992. p. 3 e 66.

8 Cf. NICOLA, José de; TERRA, Ernani. 1.001 Dúvidas de Português. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 193.

9 Cf. Academia Brasileira de Letras. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. 2. ed., reimpressão de 1998. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1999. p. 640.

10 Cf. CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 350.