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Porandubas nº 463

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Atualizado às 08:03

Abro a coluna com uma historinha que vivi nos tempos em que coordenava campanhas eleitorais.

O toró

Os técnicos se esforçavam para instalar os aparelhos e arrumar os grossos cabos. Novembro de 1986. 18 horas na Praça do Marquês, em Teresina. Um toró (como se diz no Nordeste) começa a cair, fazendo a grande festa. Praça lotada. Três mil piauienses pulavam entusiasmados sob a água que caía. Garrafas de cachaça corriam de mão a mão. De repente, um estrondo, seguido de outros. Fogo e fumaça nos cabos. Corre-corre dos técnicos e o aviso : "Acabou o som. Não há condição". Não havia aquele tipo de cabo. Elba Ramalho foi logo atirando :

- Está aqui meu contrato. Sem som, não canto.

Conversa daqui, conversa dali, aflição por todos os lados. Depois de muita insistência, aceita :

- Cantarei uma música, só, e me arranjem um acompanhamento.

Apareceu não sei de onde um cara com um banjo. O povão gritava :

- Elba, Elba, Elba, cadê a Elba ?

"Bate, bate, bate, coração..."

A cantora subiu ao palco. A multidão explodiu. O canto e o refrão :

Bate, bate, bate, coração ! Bate no meu velho peito. Nem bem terminou a estrofe, Elba parou. Presenciei, ali, uma das maiores aflições de minha vida, um esculacho da cantora :

- Seus imbecis, loucos, covardes, miseráveis. Como podem fazer uma coisa dessas ?

O que era aquilo ? Por que aquele carão ? Olhei para o meio da multidão. E vi a cena constrangedora : um bêbado abrindo a boca de um jumento, enquanto outro despejava nela uma garrafa de cachaça. Foi o toque que faltava para o anticlímax. Elba xingava a multidão. Apupos. No dia seguinte, Teresina respirava um ar de gozação. O showmício de Freitas Neto (PFL) foi um desastre. Senti o ar pesado. Pesquisas nos davam 3% de maioria sobre Alberto Silva, candidato do PMDB. Perdemos a campanha de 15 de novembro por 1,66%. O desastre virou o clima. Hoje, quando me perguntam sobre o que é fator imponderável em campanha política, respondo sem hesitar :

- É um jumento embriagado no PI.

Jobim sobe, Lula age

Nos últimos dias, o ex-ministro e ex-presidente do STF, Nelson Jobim, subiu alguns passos na escada do Planalto. Passou a ser uma espécie de embaixador informal junto aos membros das altas Cortes no esforço de defender posições do interesse do governo. Jobim saiu do governo Dilma (1º mandato) agastado com a presidente. Teria sido escanteado. Volta, agora, por cima. Trata-se de um ex-parlamentar que conhece bem as casas congressuais, é um estudioso da política e gosta da esfera da articulação. Diz-se que passou a contar, nos bastidores, com a ajuda de Lula, cuja presença em Brasília tem sido intensa nas últimas semanas. Lula anda renovando seu passaporte de articulador dos bastidores. Estará mais uma vez em Brasília esta semana para ajudar a presidente.

Arrefecimento

O fato é que, nos últimos dias, a tese do impeachment da presidente perdeu peso. O arrefecimento de ânimos se dá no momento em que a presidente, saindo do casulo, decide fazer ela mesma a articulação com parlamentares do PMDB da Câmara, a partir do líder Leonardo Picciani. E coincide com esta ação quase intestina do ex-ministro Nelson Jobim. O fatiamento da operação Lava Jato seria o primeiro grande desafio vencido por Jobim. Se a estratégia do Planalto se firmar, é possível que a presidente consiga atravessar o olho do furacão previsto para novembro.

Viabilidade

Será viável a estratégia presidencial de usar de todos os meios à disposição da caneta para resgatar vetores de força do governo ? Consideremos : 1. A mandatária decide negociar diretamente com deputados, abrindo um flanco que pode se expandir na esteira de pressões e barganhas ; 2. O grupo que receberá os cargos não tem compromisso com o amanhã. Age em função do hoje, caracterizado por uma economia recessiva, contrariedade de consumidores e forte possibilidade de intensificação dos movimentos de rua ; 3. Com inflação beirando os dois dígitos, extinção de um milhão de postos formais este ano e expansão do desemprego nos próximos meses, a situação do país se agravará ; 4. Sob este risco, será improvável uma lealdade canina à presidente Dilma por parte do grupo peemedebista aquinhoado com nacos do poder.

PMDB da cúpula

É visível o desconforto da cúpula do PMDB com as negociações empreendidas pela presidente e os novos articuladores - Ricardo Berzoini e Gilles Azevedo - com parlamentares peemedebistas. Os novos "donos do poder", liderados por Picciani, são perfis considerados de escalão inferior. Dos nomes aventados para ocupar cargos de ministros, pelo menos dois teriam se declarado anti-Dilma em passado recente. A cúpula do PMDB é formada por dirigentes de peso. Que, em momento oportuno, farão valer seu cacife no mando partidário. Por isso, a decolagem do grupo que escala o poder na Esplanada dos Ministérios pode ser entendida como "voo de galinha". Terá pouco alcance. Descerá tão rapidamente como subiu.

Marta será candidata

Marta Suplicy baixa a testa do orgulho e entra no PMDB com um discurso de conciliação. Vem para somar ; ingressa em um partido plural, aberto, esteio da redemocratização nacional, como ela lembrou em discurso. E faz um brinde expressivo a outros eventuais contendores que pretendam disputar, pelo PMDB, a vaga para a prefeitura de SP em 2016. Gabriel Chalita, por exemplo. Ocorre que o Chalita é secretário de Educação do governo Haddad. E parece gostar do que faz. Seria complicado para ele vir a disputar o cargo ao qual o prefeito do PT se habilitará como candidato à reeleição. Por isso, Marta Suplicy, que detém forte recall nas margens sociais, deverá ser a candidata do PMDB à prefeitura.

Pedidos de impeachment

Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, promete ler e avaliar, a partir desta semana, entre 10 a 15 pedidos de impeachment da presidente Dilma. Na visão deste consultor, Cunha tende a arquivar os pedidos. Mas o Plenário poderá pedir que sejam submetidos à sua decisão. Palavra de Cunha : "Esta semana já despacho alguns. Não vou conversar com ninguém, vou despachar alguns, ler pareceres, pedir mais e tomar decisões em função do que está colocado lá".

Reforma depois dos vetos

As articulações se intensificam sob o clima de incertezas : se arrependimento matasse, Dilma estaria no velório. O acirramento de tensões é tão forte que não permite, a esta altura, divisar quem vai entrar ou quem vai sair por ocasião da propalada reforma ministerial. O PMDB é uma torre de babel. Com as interrogações se acumulando, há quem defenda a reforma ministerial apenas após a votação dos seis vetos pendentes e integrantes do pacote fiscal. A serem votados hoje, a partir de 11h. A reforma seria anunciada na quinta.

PT versus PT

A Fundação Perseu Abramo apresentou dois livros-documento com sérias críticas ao ajuste fiscal do governo. "Por um Brasil justo e democrático" é uma espécie de ala B do PT contra a ala A. Marcio Pochmann e Luiz Gonzaga Beluzzo, dois economistas da Unicamp, são os inspiradores da obra. Que acusa interesses dos "grandes bancos e fundos de investimento".

Mais dólares na economia

Que os tempos estão bicudos em termos de arrecadação, todos sabemos. E mais : onde há crise as oportunidades florescem. A equação econômica colocou o Brasil em promoção. Estamos on sale frente às moedas fortalecidas. O turismo interno, frente ao dólar, ficou mais atrativo. Mas além do fator cambial, existem gargalos que travam a vinda destes dólares para cá, como a questão da exigência dos vistos para turistas estrangeiros. Nesta semana, os deputados terão a oportunidade de reverter um pouco essa situação, com a urgência ao PL 2430 de 2003 do pernambucano Carlos Eduardo Cadoca e que pretende destravar esta amarra na entrada de turistas. Seria de grande ajuda para o turismo nacional e, claro, para nossa economia. Que venham os gringos !

PT, destino

O PT terá grandes dificuldades para se refazer enquanto partido. A debandada será grande. Em 2016, o partido fará poucos prefeitos. Alternativa : sair pela tangente à esquerda. Tornar-se um partido com forte carga ideológica. Os atuais líderes, com exceção de Lula, sumiriam do mapa petista.

PSDB, destino

Os tucanos deverão também começar a desenhar com tintas fortes. Seu escopo está esmaecido. É conhecido como o partido de cima do muro, que "não fede nem cheira". Deverá buscar nitidez programática. E explicar o que vem a ser sua social-democracia.

PMDB, destino

O PMDB continuará a ser dividido em blocos e mandos estaduais. Tende a aglutinar os partidos médios. Também será instado a pisar em território mais programático. O partido tentará fincar pés na área de um programa com forte viés nacionalista. Identificado com classes médias. E com bandeiras regionais e municipais bem nítidas. O municipalismo pode ser um eixo.

PSB, destino

O PSB deverá incorporar núcleos de centro-esquerda, sendo alternativa a partidos de viés radicalizante. Estará à procura de uma liderança nacional.

PSD, destino

Terá lugar na ponta-direita do arco ideológico. Pode abrir espaço para as políticas sociais, sendo representante da direita no assistencialismo às margens. Uma novidade.

Os outros, destino

Devem encontrar caminhos para a fusão, integração, formação de blocos com os grandes partidos.

O economista e o empresário

Dois homens andavam de balão e se perderam. Decidiram baixar o balão e perguntar para algum transeunte.

- Ei, você poderia nos dizer onde estamos ?

- Vocês estão em um balão, respondeu o transeunte.

- A resposta é correta e absolutamente inútil. Este homem deve ser um economista, comentou um deles no balão.

- E você deve ser um empresário, respondeu o transeunte.

- Exato. Como você sabe disto ?

- Ora, você tem uma excelente visão de onde está. E mesmo assim você não sabe onde está.