Porandubas Políticas

Porandubas nº 42

22/2/2006

 

BICADAS TUCANAS

Os tucanos estão se bicando. O trio de arbitragem – FHC, Tasso Jereissati e Aécio Neves – cometeu o deslize de almoçar com Serra, sem a presença de Geraldo Alckmin. Ficou feio, pois deram a entender que tentaram puxar uma decisão do prefeito de São Paulo em direção à eleição presidencial. O governador Marconi Perillo, de Goiás, chiou. Para desfazer a gafe, almoçaram, ontem, com o governador paulista. A essa altura, as bandas serrista e alckmista estão em plena arena de disputa. As bicadas recíprocas são contundentes. Um show de incompetência. E assim Lula vai nadando de braçadas...

LULA SAIU DO PURGATÓRIO

Não há dúvida : o presidente Lula saiu do purgatório e caminha, célere, em direção aos Céus. Corre o Brasil inaugurando e, incrível, “reinaugurando” obras, como o aeroporto de Recife. Vai preparando pacotes de bondades para resgatar a confiança da classe média. As classes C, D e E já contam com o programa Bolsa Família. A classe média está na espreita. Não está dando certo a isenção tributária que Lula pensa dar para a contratação de empregadas domésticas. Os homens do cofre vetam a idéia. E os laboratórios maquiavélicos do Planalto continuam a trabalhar nesse sentido. (Mais uma vez, vale lembrar o recado que a classe média deu a Marta Suplicy, que pensava cooptar apoios com melhorias em ruas centrais e túneis).

ALENCAR NA MOITA

O vice-presidente José de Alencar bem que gostaria de continuar na chapa presidencial com Lula. Há uma vaga de Senado, em Minas, que também ganha sua preferência. Mas Itamar Franco lutará por ela, caso seu nome seja escolhido pelos peemedebistas em convenção. Ocorre que o ex-deputado e ex-prefeito de Uberlândia, o sério Zaire Rezende, também faz campanha pelo cargo. A vaga de governador estaria garantida para Aécio Neves, dentro do projeto reeleição. Assim, a vaga ainda mais acessível a José de Alencar é a de vice na chapa de Lula.

BONO E LULA

O vocalista do U2 é, reconhecidamente, um partidário do conceito “politicamente correto”. Ergue alto grandes bandeiras – contra as guerras, contra a fome, contra as discriminações. Mas não está imune a gafes. A imagem de Lula, em um telão, foi recebida com vaias e apupos pela galera (75 mil pessoas) no estádio do Morumbi. Politizar eventos festivos nem sempre dá certo.

PRÓXIMA PESQUISA

A próxima pesquisa continuará a mostrar Lula crescendo. É o único pré-candidato em plena campanha. Esta semana, visita 6 Estados em 2 dias. Crescimento absolutamente previsível.

CARNAVAL AMORNA A POLÍTICA

As CPIs, que entraram em parafuso, já não provocam muito interesse. Os escândalos tornaram-se banais. A roubalheira, como a morte em Bagdá, é coisa comum. E, como droga para curar a cefaléia social, surge o carnaval. A política entra em banho-maria. No Brasil ciclotímico, os ciclos se revezam na esteira da improvisação.

JORGE VIANA

O governador Jorge Viana, do Acre, estará no centro da campanha lulista. Insiste em ficar no lugar, mas Lula quer por quer trazê-lo para o Planalto.

BRIGA DE FOICE NO ESCURO

As duas alas do PT – contra e a favor da política econômica do Governo – se preparam para uma mortífera guerra de foice no escuro. Crescimento versus estabilidade – essa será a dualidade que se verá na seara petista. Lula tentará apaziguar as duas alas, prometendo colocar um pé em cada canoa. Algo como assoviar e chupar cana ao mesmo tempo.

QUAL É O PROJETO PARA O BRASIL ?

Afinal de contas, qual é o projeto de Lula para o Brasil caso ganhe as eleições ? E qual é o projeto de Serra ? E o de Alckmin ? E o de Garotinho ? E o de Germano Rigotto ? Quem sabe o que pensam os pré-candidatos ? Um país não alcança o estágio de Nação quando a política é feita apenas com fulanos, beltranos e sicranos, não com idéias.

O QUE MUDARÁ NAS CAMPANHAS ?

Pergunta recorrente : o que mudará nas campanhas ? Muita coisa. O conteúdo prevalecerá sobre a forma. A comunicação de ênfase publicitária – chamativa, emotiva, com muita firulação, trucagens e invencionices – cederá lugar a uma comunicação mais centrada no discurso, na essência, nos conteúdos, nas propostas de candidatos. Os eleitores estão vacinados contra cenas de alto teor dramático, voltadas para amarrar psicologicamente o voto. Por isso, o voto está saindo do coração em direção à cabeça. Furas-filas, cenas de grávidas vestidas de branco correndo no gramado verde, candidatos em redor de mesas monitorando programas de governo – essa enganação toda estará sendo vigiada. A política – depois dos escândalos – volta um pouco ao seu leito natural.

AGRIPINO VERSUS BORNHAUSEN

O líder do PFL no Senado, José Agripino, reúne melhores condições do que o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen, para figurar como vice na chapa encabeçada por um tucano. Seria o representante de uma região, o Nordeste, que tem 27,7% dos votos do país. Bornhausen, de Santa Catarina, não agregaria coisa nenhuma. César Maia diz que este é mais liberal do que Agripino, compondo uma chapa mais afinada com José Serra, enquanto Agripino estaria mais à vontade numa chapa com Geraldo Alckmin. Besteira. Nesse caso, o que conta é a representação regional. Somar o Sudeste (42,6%) com o Nordeste é mais vantajoso que somar o Sudeste com o Sul, que tem apenas 14,6% dos votos.

UM PÁSSARO NA MÃO OU DOIS VOANDO ?

O que vale mais ? Um pássaro na mão ou dois voando ? Quem gosta de arriscar, prefere atirar nos dois que voam. Quem é mais conservador prefere continuar com o pássaro na mão. É um, mas está agarrado. Façam as apostas : José Serra fica com o pássaro na mão ou atira nos dois que estão no ar ? A resposta abrirá ou fechará o caminho para Alckmin.

REFLUXO DE RECURSOS

Calcula-se em 40% o índice de queda nos recursos para campanhas. Teremos campanhas mais objetivas, menos espalhafatosas e exuberantes. O eleitor é quem ganha com isso. O caixa 2, que faz parte do DNA da política, continuará apesar de aberto com maior discrição. Desta feita, candidatos terão de pôr a mão no bolso. E muitos ficarão com papagaios na mão depois das eleições.

________________

 

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.