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Building Information Modeling – BIM: evolução em projetos de construção e infraestrutura no Brasil

O BIM é uma plataforma de armazenamento, compartilhamento, troca e gerenciamento de informações multidisciplinares durante todo o ciclo de vida do projeto de construção, da arquitetura à execução final.

17/5/2021

(Imagem: Imagem Migalhas)

A Modelagem da Informação da Construção (Building Information Modeling – BIM  é um modelo de tecnologia 3D que tem sido cada vez mais utilizado nos setores de arquitetura, engenharia e construção por ser considerado um mecanismo eficaz para projetos complexos em razão de sua habilidade de corrigir erros precocemente, no início da fase de projeto, e planejar a construção com precisão.

Recentemente, a nova Lei de Licitações (Lei 14.133/21) estabeleceu, em seu artigo 19, parágrafo 31, a preferência pela utilização do BIM ou tecnologias e processos integrados similares ou mais avançados que venham a substituí-la nas licitações de obras e serviços de engenharia e arquitetura.

O BIM é uma plataforma de armazenamento, compartilhamento, troca e gerenciamento de informações multidisciplinares durante todo o ciclo de vida do projeto de construção, da arquitetura à execução final, envolvendo gerenciamento, planejamento, projeto de engenharia, construção, fases de trabalho e suas quantificações, orçamento e custo da obra, operação e manutenção, que podem ser alteradas e ajustadas de maneira a refletir o que se pretende construir na prática.

Assim, o BIM, além de um modelo tridimensional, é um modelo com capacidade de alinhar as informações existentes em cada elemento modelado produzido por profissionais de diferentes áreas e que usam ferramentas digitais diversas. Dessa maneira, é possibilitado ao projetista “construir” o empreendimento em um ambiente virtual, antes da sua execução, por meio da utilização de componentes virtuais inteligentes, cada um dos quais sendo exatamente equivalente a um componente construtivo real, permitindo, assim, a visualização da construção sob diferentes ângulos e de diversas formas.

De tal modo, é possível prever erros de projeto e execução antes mesmo do início das obras e mobilização, trazendo benefícios como facilitar o gerenciamento de projeto, otimização dos serviços e prazos da obra, compatibilização de projetos, redução dos custos da obra, redução de retrabalhos e, até mesmo, a diminuição de resíduos sólidos e desperdícios de materiais.

Além disso, o BIM cria um ambiente de interação, colaboração e comunicação entre os principais envolvidos no projeto facilitando a identificação precoce dos riscos e possibilitando a adoção de medidas para mitigação de tais riscos e, consequentemente, a redução de conflitos e disputas no decorrer da execução do projeto.

O BIM começou a ser discutido no Brasil em meados dos anos 2000. Até então, o modelo de tecnologia mais utilizado era o CAD (Computer Aided Design ou Desenho Assistido por Computador), que foi criado para substituir os projetos feitos em papel e consiste em uma ferramenta em que é possível desenhar no computador as linhas e figuras geométricas que irão compor o projeto.

Mesmo que o CAD tenha representado uma evolução relevante – uma vez que substituiu os projetos em papel por digitais, facilitando a modificação e adaptação dos projetos até se chegar a um projeto executivo final –, é necessário que os desenhos em formato 2D gerados pela plataforma sejam sobrepostos para que seja possível entender o projeto como um todo, o que causa uma certa dificuldade para projetos mais complexos.

Assim, a principal diferença entre CAD e BIM é que, embora no caso de CAD o projeto possa ser representado por meio de seus elementos construtivos, o processo de desenvolvimento do projeto arquitetônico (estrutura ou instalações, por exemplo) não possui uma simulação virtual completa de trabalho, como é no caso do modelo BIM.

Embora a implementação do BIM no Brasil ainda esteja no início se comparado com outros países ao redor do mundo como Estados Unidos e Europa, o Governo Federal Brasileiro definiu uma estratégia e tem adotado medidas para estimular o uso da plataforma. Por exemplo, Santa Catarina foi o primeiro estado brasileiro a definir que as licitações deveriam ser feitas no modelo BIM a partir de 2019, sendo a sua utilização, desde então, obrigatória para as obras públicas catarinenses.

Além disso, o Governo Federal lançou, em 2018, o Plano BIM no Brasil, instituído pelo Decreto Federal nº 9.377/2018 (revogado pelo Decreto Federal 9.983/19). O plano estabeleceu a “Estratégia Nacional para a disseminação do BIM”, que faz parte de um planejamento do Governo Federal para incentivar o uso dessa tecnologia em nível nacional.

Tal iniciativa visa aumentar a implantação do modelo BIM e, com isso, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) estima que seja elevado em dez vezes a adoção da plataforma no Brasil, aumentando de 5% do PIB da construção civil para 50%. Além disso, a expectativa da ABDI é que, com a adoção do BIM, ocorra um aumento da produtividade das empresas em 10%, redução dos custos de produção em 9,7% e elevação em 28,9% do PIB da Construção Civil, alcançando um patamar inédito.

O cronograma de implementação da Estratégia BIM estabelecido pelo Governo Federal começou efetivamente em janeiro de 2021 e deverá ser totalmente concluído até 2028. Inicialmente, as entidades que participarão dessas fases por meio de programas piloto são o Ministério da Defesa, por meio do Exército Brasileiro e da Marinha do Brasil, e o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, por meio de atividades coordenadas e realizadas pelo Secretaria Nacional de Aviação Civil e pelo Departamento Nacional de Transportes e Infraestrutura.

O Governo Federal considera antecipar e determinar o uso do BIM como obrigatório em alguns programas, como é o caso do “Minha Casa, Minha Vida”. O programa, previsto para acontecer apenas em 2028, talvez seja antecipado para 2022 com a expectativa de que os custos da construção das casas do programa possam diminuir em 20% com a utilização do BIM.

Vale mencionar que o Brasil já possui alguns exemplos bem-sucedidos do uso do BIM como, por exemplo, o metrô de São Paulo, com o primeiro contrato firmado em 2013 e, mais recentemente, toda a linha 15 (linha prata) foi construída com o uso do BIM. A SABESP, também no Estado de São Paulo, utiliza o BIM há cinco anos.

Apesar de todos os benefícios trazidos, o modelo BIM tem enfrentado alguns desafios na sua adoção no Brasil. Isso porque, a adoção do modelo requer mudanças de paradigma em relação a pessoas, processos e tecnologia. Há, também, uma mudança no fluxo de trabalho, em que passamos de um modelo bidimensional para um modelo tridimensional com informações totalmente integradas.

Todas essas mudanças nos remetem a desafios que devem ser superados para garantir o aproveitamento integral dos benefícios que a metodologia propõe, possibilitando uma implementação bem-sucedida como, por exemplo: (i) necessidade de capacitação dos funcionários das empresas para que sejam qualificados e aptos a utilizar o modelo BIM; (ii) possibilitar a migração para o BIM sem perder produtividade; e (iii) igualar, de um lado, a qualidade das informações geradas e utilizadas no modelo e, por outro, os meios pelos quais essas informações são comunicadas e compartilhadas entre a equipe do projeto.

Com todos os incentivos e esforços do Governo Federal, a edição do Decreto Federal 9.377/18 e a inclusão da adoção do modelo BIM nas licitações de obras e serviços de engenharia e arquitetura determinada pela nova Lei de Licitações, o modelo BIM já é uma realidade no Brasil e traz uma série de benefícios na execução de grandes projetos de construção e infraestrutura. É essencial que as empresas capacitem os seus profissionais para que tenham a habilidade necessária para utilização e saibam aproveitar todos os ganhos que esse novo modelo apresenta.

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1 “Art. 19. Os órgãos da Administração com competências regulamentares relativas às atividades de administração de materiais, de obras e serviços e de licitações e contratos deverão:

§ 3º Nas licitações de obras e serviços de engenharia e arquitetura, sempre que adequada ao objeto da licitação, será preferencialmente adotada a Modelagem da Informação da Construção (Building Information Modelling - BIM) ou tecnologias e processos integrados similares ou mais avançados que venham a substituí-la.”

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*Este artigo foi redigido meramente para fins de informação e debate, não devendo ser considerado uma opinião legal para qualquer operação ou negócio específico.

© 2021. Direitos Autorais reservados a PINHEIRO NETO ADVOGADOS

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Thais Fernandes Chebatt
Associada de Construção de Pinheiro Neto Advogados.

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