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Tecnologias neurais: Implicações éticas e desafios no Direito

Exploramos as tecnologias que captam sinais neurais, abordando implicações éticas, jurídicas e práticas, com soluções para a proteção de direitos fundamentais.

17/2/2025

O avanço tecnológico tem transformado a interação entre seres humanos e máquinas, especialmente com dispositivos que captam sinais neurais. Essas tecnologias, como interfaces cérebro-computador e wearables neurais (dispositivos tecnológicos vestíveis, projetados para serem usados no corpo, geralmente como acessórios ou roupas), prometem acessibilidade, eficiência e novas possibilidades na saúde e no trabalho. Contudo, elas trazem questões éticas complexas, como privacidade, autonomia e controle. A discussão é essencial para o Direito, que precisa responder a novos desafios jurídicos em tempos de inovação disruptiva. Este artigo analisa as implicações éticas e jurídicas dessas tecnologias, propondo soluções para sua regulamentação no Brasil.

1. O contexto tecnológico

Tecnologias neurais permitem captar sinais cerebrais e traduzi-los em comandos digitais. Empresas como CTRL-Labs, adquirida pela Meta, desenvolvem pulseiras que transformam intenções em ações digitais. Na saúde, interfaces ajudam pacientes com deficiências motoras, como a esclerose lateral amiotrófica, a se comunicarem. Dispositivos como o "Omi" prometem transformar a produtividade ao captar intenções dos usuários e realizar tarefas automatizadas, mas levantam questões sobre privacidade e uso ético.

2. Implicações éticas e jurídicas

A coleta de dados neurais levanta dilemas:

3. Doutrina, jurisprudência e normas

No Brasil, a LGPD (lei 13.709/18) regula dados pessoais, mas carece de especificidade para dados cerebrais. Jurisprudências internacionais, como o caso Bilski v. Kappos nos EUA, já discutem a patenteabilidade de tecnologias neurais. Doutrinadores como Lawrence Lessig defendem que o Direito deve regular tecnologias emergentes para equilibrar inovação e proteção.

4. Exemplos concretos

As tecnologias neurais inauguram uma nova era de possibilidades, mas desafiam princípios fundamentais do Direito. Este artigo traz a reflexão de que é urgente criar marcos regulatórios específicos para assegurar a privacidade, a autonomia e a dignidade humana diante dessas inovações. As propostas incluem o reconhecimento de dados neurais como sensíveis pela LGPD, garantindo uma proteção mais robusta, e o incentivo a debates interdisciplinares que promovam uma legislação inclusiva e eficaz.

O objetivo é consolidar um equilíbrio entre inovação e ética, permitindo o uso dessas tecnologias de maneira responsável e benéfica. Essa reflexão busca contribuir para o avanço do debate jurídico e consolidar os operadores do Direito como protagonistas na construção de soluções que garantam a proteção dos direitos fundamentais e a justiça social.

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1 BRASIL. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Lei nº 13.709/2018. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm. Acesso em: 10 jan. 2025.

2 LESSIG, Lawrence. Code and Other Laws of Cyberspace. New York: Basic Books, 1999.

3 SOLOVE, Daniel. Understanding Privacy. Harvard University Press, 2008.

4 BILSKI v. KAPPOS. U.S. Supreme Court, 2010. Disponível em: https://www.supremecourt.gov/opinions/09pdf/08-964.pdf. Acesso em: 10 jan. 2025.

5 NATURE NEUROSCIENCE. Functional Magnetic Resonance Imaging for Neural Interfaces. Londres: Springer, 2023.

6 STANFORD UNIVERSITY. Neural Interface Research. Disponível em: https://neuroscience.stanford.edu. Acesso em: 10 jan. 2025.

7 EMOTIV. EmotivPRO Platform. Disponível em: https://www.emotiv.com/emotivpro/. Acesso em: 10 jan. 2025.

8 META. CTRL-Labs and Neural Technology. Disponível em: https://about.fb.com/news/2021/05/ctrl-labs-neural-technology/. Acesso em: 10 jan. 2025.

9 OMI: Wearable AI lê mentes e impulsiona produtividade. Milagre Digital, 2025. Disponível em: https://milagredigital.com/omi-wearable-ai-produtividade/. Acesso em: 10 jan. 2025.

10 OLHAR DIGITAL. Empresas investem em tecnologia para ler a mente dos funcionários. Disponível em: https://olhardigital.com.br/2022/11/24/ciencia-e-espaco/empresas-buscam-tecnologia-para-ler-a-mente-dos-funcionarios/. Acesso em: 10 jan. 2025.

11 STARTSE. Quer controlar o mundo com o seu pensamento? Veja como funciona a pulseira que lê sinais neurais. Disponível em: https://www.startse.com/artigos/como-funciona-a-pulseira-que-le-sinais-neurais/. Acesso em: 10 jan. 2025.

Jamille Porto Rodrigues
Advogada e Professora de Direito Digital, Inteligência Artificial e Novas tecnologias aplicada ao Direito e Marketing Jurídico.

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