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Por que os gestores estão preferindo IA a recém-formados?

Como a IA está desafiando a contratação de novos talentos.

14/2/2025

Nos últimos anos, um fenômeno tem chamado a atenção no mercado de trabalho: gestores estão cada vez mais optando por soluções de IA - inteligência artificial em vez de contratar profissionais recém-formados, especialmente da Geração Z, ou seja, aqueles nascidos entre 1995 e 2010. 

Um estudo da Hult International Business School revelou que 37% dos gestores preferem investir em IA a contratar jovens talentos. Ao mesmo tempo, 98% dos líderes de RH relatam dificuldades para encontrar profissionais qualificados, mas 89% evitam contratar iniciantes na carreira.

O que explica essa aparente contradição? A resposta pode estar menos ligada a um preconceito geracional e mais à lacuna entre o que o mercado exige e o que os cursos universitários preparam.

O problema da formação acadêmica e a demanda do mercado

Embora o ensino superior continue sendo visto como um diferencial, os jovens profissionais frequentemente relatam que sua formação não os preparou adequadamente para a realidade do mercado.

Segundo o mesmo estudo da Hult, 77% dos entrevistados da Geração Z afirmam que aprenderam mais nos primeiros seis meses de trabalho do que em toda a sua graduação. Além disso, 55% acreditam que a universidade não os preparou para sua atuação profissional, e 87% dizem ter recebido melhor treinamento profissional no trabalho do que durante a graduação.

Esse desalinhamento fica ainda mais evidente quando observamos que muitas universidades ainda oferecem pouco ou nenhum preparo em tecnologia e IA. Enquanto setores inteiros estão sendo transformados pela automação e pela digitalização, os currículos acadêmicos permanecem desatualizados.

O resultado? Empresas precisam de profissionais que dominem novas tecnologias, mas encontram jovens que, muitas vezes, precisam de um extenso treinamento para se tornarem produtivos.

IA tem sido uma alternativa para os gestores

Diante desse cenário, a inteligência artificial surge como uma solução atraente para os gestores. Diferente de um recém-formado, uma IA não precisa de treinamento extensivo, não comete erros por inexperiência e pode operar em escala. Além disso, a IA pode ser integrada rapidamente às operações, reduzindo custos e aumentando a eficiência.

Essa integração da IA permite que os profissionais foquem em atividades mais estratégicas e de maior valor agregado, enquanto a tecnologia lida com tarefas repetitivas.

Tecnologia pode ser uma aliada no ensino

Se por um lado a tecnologia desafia a empregabilidade dos recém-formados, por outro, ela pode ser a grande aliada na revolução do ensino. Hoje já existem ferramentas que permitem um aprendizado mais dinâmico e conectado à realidade do mercado.

Deste modo, a inteligência artificial pode ser utilizada para personalizar a jornada de aprendizado, identificando as dificuldades específicas de cada aluno e sugerindo conteúdos sob medida para aprimorar seu desempenho. 

Além disso, softwares jurídicos, simuladores de mercado financeiro e ferramentas de automação de gestão empresarial poderiam ser incorporados ao ensino universitário, preparando os estudantes para o que realmente encontrarão ao ingressar no mercado de trabalho.

A mudança, no entanto, precisa ser estrutural e incentivada por políticas educacionais e parcerias entre universidades e empresas. Faculdades que mantiverem currículos ultrapassados correm o risco de formar profissionais cada vez mais distantes da realidade do mercado – e, consequentemente, menos empregáveis.

Investir em capacitação tecnológica, desenvolver habilidades em IA, automação e análise de dados pode ser a chave para transformar essa desvantagem em oportunidade. O mercado está mudando, e os profissionais que dominam a tecnologia não serão substituídos por ela – pelo contrário, serão aqueles que estarão à frente.

O perigo de ignorar novos talentos

Embora muitos gestores evitem contratar recém-formados devido à necessidade de treinamento inicial, essa abordagem pode ser prejudicial para o crescimento da empresa ou escritório a longo prazo. Profissionais em início de carreira trazem novas perspectivas, mais abertura para inovação e, muitas vezes, um domínio intuitivo das novas tecnologias que estão transformando o mercado. 

Ignorar esses talentos significa perder a oportunidade de incorporar à equipe profissionais que já nasceram conectados à era digital e que podem ajudar a modernizar processos e desafiar modelos tradicionais ultrapassados.

Além disso, a resistência em contratar jovens profissionais pode levar à estagnação da equipe e dificultar a adaptação às mudanças tecnológicas. Escritórios que apostam apenas em profissionais experientes podem acabar com um quadro envelhecido e menos flexível diante de novas demandas do mercado. 

O equilíbrio entre a experiência dos profissionais seniores e a inovação trazida pelos mais jovens é essencial para criar um ambiente dinâmico e competitivo. Sem essa renovação, os escritórios correm o risco de perder espaço para concorrentes mais inovadores e ágeis.

Outro ponto importante é que a Geração Z já chega ao mercado com um alto nível de familiaridade com inteligência artificial, automação e análise de dados, habilidades essenciais para escritórios que estão investindo em transformação digital. 

Enquanto muitos profissionais mais antigos precisam se adaptar a essas ferramentas, os recém-formados já as enxergam como parte natural do seu trabalho. Isso significa que, com um treinamento direcionado e uma boa estratégia de integração, esses talentos podem se tornar ativos valiosos para impulsionar a eficiência e inovação dentro das organizações.

Portanto, a questão não deve ser evitar a contratação de novos talentos, mas sim investir em uma estratégia eficaz de treinamento e desenvolvimento, garantindo que esses profissionais possam agregar valor rapidamente e contribuir para a evolução do escritório. Negligenciar essa renovação não apenas priva a organização de inovação, como também dificulta sua adaptação ao futuro do mercado de trabalho.

Eduardo Koetz
Eduardo Koetz é advogado, sócio-fundador da Koetz Advocacia e CEO do software jurídico ADVBOX . Especialista em tecnologia e gestão, ele também se destaca como palestrante em eventos jurídicos.

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