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Inteligência artificial no setor jurídico: Quem está pronto?

A transformação nas sociedades de advogados destaca a ascensão da IA como ferramenta estratégica, impactando a gestão e a governança com foco na eficiência e segurança de dados.

17/2/2025

Ao longo de quase 25 anos acompanhando modelos de gestão e a evolução da governança corporativa em sociedades de advogados no Brasil e no exterior, fica evidente a profunda transformação escalonada ocorrida nos últimos três anos — um processo instituído, testado e consolidado em alguns aspectos ao longo da última década. Nesse período, alguns fatores ganharam absoluta relevância, destacando-se o modelo de plataformização de negócios e tecnologias e, mais recentemente, a inteligência artificial, um novo e disruptivo recurso tecnológico que impactará drasticamente a rotina e a democratização do acesso à inovação na economia digital e, como não poderia deixar de ser, no segmento jurídico.

Cinco anos atrás, a maturidade do mercado jurídico em relação à tecnologia era muito diferente da atual. Naquele momento, falávamos sobre gestão analítica, preditiva e automação, com foco em transparência, compliance e governança, além da eficiência operacional. Contudo, a tecnologia nos escritórios e departamentos jurídicos era vista apenas como uma ferramenta de suporte, e não como um elemento central da estratégia de crescimento.

Nos últimos dois anos, essa realidade mudou de forma acentuada: a tecnologia passou a ser protagonista, e aqueles que a trataram com a mesma importância que dedicaram à gestão de pessoas foram os que melhor se prepararam para a transformação em curso. Hoje, falamos da inteligência artificial como um recurso que rompe paradigmas e altera profundamente processos gerenciais tradicionais dentro dos ambientes jurídicos.

A IA tem a capacidade de eliminar etapas antes essenciais nos modelos analógicos de gestão. No entanto, a grande questão é: quais sociedades estão realmente preparadas para utilizar a inteligência artificial de forma eficaz?

Recentemente, foi anunciada mais uma grande plataforma de IA chinesa, que promete um acesso ainda mais democrático a essa tecnologia. Mas o desafio permanece: quais escritórios e departamentos jurídicos estão prontos para embarcar nessa jornada, garantindo eficiência e segurança de dados ao mesmo tempo?

O ponto central continua sendo a cultura da gestão de dados. Escritórios e departamentos que possuem uma base de conhecimento bem estruturada estão em uma posição privilegiada para aproveitar as ferramentas de IA com segurança e precisão. Para isso, é essencial utilizar APIs e soluções tecnológicas dentro de ambientes controlados e privados, evitando os riscos das plataformas abertas.

Além da segurança, é fundamental que a inteligência artificial utilize bases de dados próprias e bem estruturadas. A sua base, o seu conhecimento — esse é o diferencial! Uma IA treinada em informações consistentes e relevantes gera insights mais precisos e confiáveis, proporcionando ganhos reais de eficiência e desempenho. Em contrapartida, uma base de conhecimento desorganizada pode levar a erros de interpretação e viés, comprometendo a tomada de decisões.

Apesar do avanço das novas tecnologias, o sucesso na adoção da IA depende de um planejamento cuidadoso e de uma governança de dados sólida — o que preferimos chamar de estrutura de legal operations de alta performance. A inteligência artificial não é um fim em si mesma, mas uma ferramenta poderosa para aqueles que souberem utilizá-la estrategicamente, a partir da estruturação de dados e da gestão de conhecimento do seu negócio, da sua sociedade.

A pergunta essencial, portanto, permanece: sua organização está realmente preparada para a revolução que a IA trará ao segmento jurídico?

A resposta deve estar atrelada à sua capacidade de, com clareza e segurança, gerar dados e conhecimento na sua sociedade, de forma organizada e estruturada, para servir como matéria-prima do motor de IA que você escolher usar no futuro próximo — e que, certamente, ainda desconhecemos, já que muitas novas ferramentas surgirão em pouco tempo.

Celina Salomão
Advogada e Co-founder ForeLegal

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