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Como a IA pode aumentar a receita do seu escritório?

O uso inovador da inteligência artificial pode levar escritórios jurídicos a aumentar sua receita. Estratégias, criatividade e treinamento são os componentes principais desse crescimento.

10/4/2025

A tecnologia atingiu um nível em que sua aplicação no setor jurídico não é mais uma questão de futuro, mas uma realidade consolidada. Escritórios de advocacia que antes eram resistentes à inovação, agora percebem que a inteligência artificial é capaz de impulsionar um crescimento muito mais tangível. 

Essa revolução pode ser comparada a momentos históricos de ruptura no mercado legal. No século XIX, a mecanização da impressão possibilitou o acesso em larga escala a livros de Direito, democratizando o conhecimento Legislativo. 

Já no século XX, a chegada dos computadores e bancos de dados eletrônicos acelerou a pesquisa jurídica. Agora, no século XXI, novos modelos de IA emergem como a próxima grande transformação, trazendo muito mais possibilidades e resultados.

Quais as possibilidades da IA?

As possibilidades e, consequentemente, as expectativas em torno da inteligência artificial estão aumentando de maneira expressiva os investimentos na área. Dados do Goldman Sachs indicam que 30% dos gestores globais já estão investindo em computação cognitiva emergente, antecipando-se a uma indústria que promete mais eficiência e lucratividade.

Mas o que exatamente essa tecnologia faz? A IA está mudando a forma como contratos são criados, analisados e executados. Com blockchain e smart contracts, certas condições são programadas para serem cumpridas automaticamente, eliminando intermediários e reduzindo fraudes.

Ou seja, se uma empresa faz acordo com um serviço de logística e a entrega não ocorre dentro do prazo acordado, um smart contract pode ativar de forma programada uma multa, sem necessidade de intervenção humana. O mesmo princípio se aplica a seguros, acordos financeiros e até relações trabalhistas.

Em vez de apenas destacar palavras-chave, o sistema inteligente moderno investiga o contexto dos termos acordados, reconhecendo padrões de risco e sugerindo ajustes. Existem softwares, por exemplo, para auditar contratos e prever possíveis litígios antes mesmo que aconteçam.

Outras funcionalidades analisam anos de sentenças judiciais para identificar padrões e tendências nas decisões de juízes específicos. Dessa forma, advogados conseguem moldar seus argumentos com base no histórico do magistrado responsável pelo caso.

Além disso, é possível prever, com uma precisão - que pode chegar a ser superior a 80% - o desfecho de processos, permitindo que clientes tomem decisões mais estratégicas, celebrem acordos mais vantajosos e evitem litígios desnecessários.

Alguns escritórios já testam diferentes versões de petições dentro de simuladores de IA antes de protocolá-las, garantindo que o texto mais persuasivo seja enviado ao tribunal. Em vez de confiar apenas na experiência humana, juristas agora testam argumentos em cenários simulados antes mesmo de pisar no tribunal.

A tecnologia pode aumentar a receita dos escritórios?

A aplicação da tecnologia reduz de forma autônoma os custos operacionais e também desbloqueia novas oportunidades financeiras. Um advogado que antes levava 10 horas para revisar um único contrato agora revisa 10 contratos no mesmo período, ampliando a capacidade de atendimento sem precisar expandir a equipe. 

Com dados e análises preditivas, defensores deixam de vender apenas tempo e passam a vender inteligência jurídica, cobrando mais caro por abordagens que os clientes realmente valorizam. 

Além disso, empresas têm a possibilidade de economizar milhões ao antecipar riscos e tomar decisões embasadas, reduzindo gastos com processos demorados e custosos. Com a automação e a avaliação de informações, um escritório pequeno pode competir diretamente com grandes bancas, aumentando sua receita sem precisar ampliar drasticamente sua equipe.

Por que o mercado de legal techs e startups tem crescido?

A inteligência artificial também se apresenta como uma oportunidade promissora para novos investimentos em legal tech e startups voltadas ao setor legal. Segundo a Bloomberg, o mercado de legal tech tem previsão de crescimento para US$50 bilhões até 2030, graças à adoção massiva de IA, automação e análise de dados no Direito.

Diferente dos modelos tradicionais de advocacia, essas empresas operam com produtos altamente escaláveis, possibilitando que startups alcancem milhares de clientes sem a necessidade de grandes estruturas físicas. 

Isso significa que uma solução desenvolvida por uma legal tech pode atender desde pequenos escritórios até multinacionais, criando um modelo de receita recorrente e previsível.

Como a IA melhora a gestão de escritórios?

A capacidade de raciocínio da inteligência artificial está evoluindo rapidamente, permitindo que os modelos realizem ações de maneira autônoma e lidem com tarefas cada vez mais complexas dentro de fluxos de trabalho estruturados.

Por exemplo, em 2023, um assistente virtual baseado em IA já era capaz de auxiliar representantes de atendimento ao cliente ao sintetizar e resumir grandes volumes de informações — incluindo mensagens de voz, textos e detalhes técnicos — para sugerir respostas mais eficazes às dúvidas dos consumidores. 

Já em 2025, esses agentes se tornaram ainda mais sofisticados, possibilitando interações diretas com os usuários e coordenando ações sistematicamente, como executar pagamentos, detectar fraudes e concluir operações logísticas sem a necessidade de intervenção humana.

Seguindo essa tendência, as plataformas tecnológicas estão cada vez mais incorporando recursos inteligentes em suas soluções. No Direito, os softwares jurídicos se destacam ao oferecer funcionalidades que otimizam o trabalho dos advogados e levam ao crescimento dos escritórios.

Entre seus principais diferenciais, está o monitoramento automático das movimentações processuais, com alertas instantâneos sobre atualizações relevantes. Além disso, integram calendários judiciais inteligentes, garantindo o cumprimento de prazos e reduzindo riscos de erros.

Os softwares jurídicos centralizam todas as informações em um único painel, facilitando a gestão da agenda e das demandas legais. Outro destaque é a automação na criação de documentos, onde a IA gera textos formatados com base em dados inseridos, sugerindo argumentações e jurisprudências relevantes.

Com funcionalidades como assinatura digital e envio programado de documentos, os softwares agilizam processos e oferece mais segurança. O crescimento de um escritório jurídico não acontece por acaso, mas sim pela combinação de tecnologia, estratégia e adaptação contínua às mudanças do setor.

Qual a forma ideal de integrar a inteligência artificial?

Apesar de a maioria das empresas estarem investindo em inteligência artificial, ainda são poucas aquelas cujos líderes consideram suas organizações verdadeiramente maduras na adoção da tecnologia.

Ou seja, para muitas, a computação cognitiva ainda não está totalmente integrada aos fluxos de trabalho de maneira a gerar impactos significativos nos negócios. O grande desafio, portanto, é entender como direcionar investimentos e estruturar a implementação da IA para que ela deixe de ser apenas um projeto experimental e se torne uma vantagem real dentro das organizações.

No entanto, simplesmente adotar um sistema inteligente sem criatividade e inovação não é suficiente. O ideal é explorar todo o seu potencial para criar soluções que ainda não estão sendo aplicadas no mercado. 

Além disso, o crescimento não acontece de forma isolada dentro de um escritório; a equipe precisa ser treinada e capacitada, garantindo que todos os profissionais compreendam a inovação e estejam alinhados com as metas importantes do negócio.

O modo de uso, o posicionamento e a estratégia por trás da IA são os fatores que diferenciam um escritório que apenas implementa qualquer ferramenta de inteligência artificial daquele que realmente alavanca sua operação e aumenta sua receita com o uso adequado da tecnologia.

Eduardo Koetz
Eduardo Koetz é advogado, sócio-fundador da Koetz Advocacia e CEO do software jurídico ADVBOX . Especialista em tecnologia e gestão, ele também se destaca como palestrante em eventos jurídicos.

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