Na nova era da Inteligência Artificial Generativa, uma simples gentileza pode custar mais do que imaginamos. Quando dizemos "por favor" ou "obrigado" a um chatbot como o ChatGPT, estamos adicionando palavras que exigem mais processamento computacional, mais energia elétrica, e, portanto, mais dinheiro.
Recentemente, Sam Altman, CEO da OpenAI, trouxe luz a essa discussão ao estimar que as palavras de cortesia enviadas ao ChatGPT já custaram "dezenas de milhões de dólares" em energia e infraestrutura. Uma cifra que, à primeira vista, parece exagerada, mas que ganha sentido quando analisamos o volume global de interações com IAs diariamente.
Cada requisição a um modelo como o GPT-4 custa entre US$0,01 e US$0,10, conforme aponta a MIT Technology Review. E cada palavra extra na solicitação aumenta esse custo, tanto em termos financeiros quanto ambientais.
Palavras são como embalagens, e elas pesam
Neil Johnson, professor da Universidade George Washington, faz uma comparação interessante: palavras adicionais funcionam como camadas de embalagem em torno da instrução real.
Ou seja, assim como um produto precisa ser desembrulhado antes do uso, a IA precisa "limpar" a embalagem linguística antes de processar o comando.
Pesquisas da Stanford University (2023) mostram que mensagens mais longas aumentam o tempo de resposta em até 20%. Já a Google DeepMind constatou que comandos curtos são 30% mais eficientes.
Dados da Bloomberg também indicam que assistentes como Alexa e Siri já adotam otimizações que evitam respostas longas, economizando US$50 milhões por ano.
Sendo assim, o dilema que surge vai além da técnica, é cultural. Devemos manter a formalidade e dizer "por favor" à IA? Ou adotar uma linguagem mais direta, pensando na eficiência?
A resposta não é simples. Pesquisa do Pew Research Center revelou que 54% dos usuários de alto-falantes inteligentes usam expressões de cortesia. Isso demonstra que, culturalmente, buscamos manter a ética da civilidade, mesmo no ambiente digital.
Por outro lado, cada palavra custa energia — e boa parte dela ainda vem de fontes fósseis. Ou seja, ser educado com a IA também tem um impacto ambiental. Não estamos apenas gastando mais dinheiro; estamos contribuindo para uma maior emissão de carbono.
Caminhos para um futuro mais inteligente
O desafio agora é encontrar um equilíbrio. Podemos educar os usuários para usarem comandos mais curtos, sem perder o valor cultural da cortesia. Ou desenvolver algoritmos que identifiquem palavras de polidez e as tratem como metadados, sem processamento extra.
Acredito na inovação consciente: tecnologia que entrega eficiência, mas sem sacrificar os valores humanos e a sustentabilidade ambiental.
Portanto, da próxima vez que você disser "por favor" ao ChatGPT ou ao seu assistente virtual, saiba que está participando de uma equação complexa. Cada palavra conta — literalmente. E a escolha entre eficiência e gentileza pode moldar o futuro das nossas interações com as máquinas.