Migalhas de Peso

Os 10 maiores erros dos escritórios de advocacia em tempos de IA

Os 10 maiores erros que vejo como cliente e que podem custar a relação no médio prazo.

13/6/2025

Sim, faz tempo. Se este título lhe é familiar, é porque você já está no mercado jurídico há um tempo. Para quem não me conhece, sou advogada corporativa desde que me conheço por gente. Sempre trabalhei em empresas e continuo por aqui.

Foi em 2012 que, após enfrentar algumas frustrações com escritórios de advocacia parceiros, ficar algumas semanas com aquilo “martelando na cabeça” e na tentativa de compartilhar minha visão como cliente (e ajudá-los), escrevi um artigo chamado “Os 10 maiores erros dos escritórios de advocacia”, publicado no Migalhas.

Mais de dez anos se passaram desde a publicação, e essa inquietude volta a rondar os meus pensamentos. Sou uma entusiasta de tecnologia, o que chamam de early adopter. Fico impressionada com o potencial de transformação que a IA tem e o impacto positivo que pode gerar na nossa vida pessoal e no nosso trabalho. Adoro experimentar novas ferramentas, explorar funcionalidades, aprender e debater sobre tecnologia.

De certa forma, também espero isso dos meus parceiros de negócio, especialmente os escritórios. Eles precisam estar no mesmo momento que nós, advogados de empresas, em sua maioria, já estamos. Mas, infelizmente, essa ainda não é a realidade.

Então resolvi escrever um novo artigo, dessa vez contando quais erros vejo hoje, como cliente, quando trabalho com escritórios de advocacia na era da IA. Aqui estão eles:

1. Fingir que está tudo bem, nada está mudando, a IA é “só uma trend”

Negar ou minimizar o impacto da IA é o novo "estamos estudando internamente". Não ter uma resposta clara hoje sobre como o escritório lida com IA já é uma resposta - e ruim. Se você não tem nem ideia de como a IA vai afetar o seu escritório, é melhor correr para entender.

2. Usar IA sem controle, segurança ou transparência

Sim, já vimos petições com citações falsas. Advogados penalizados. Jurisprudência inventada. Sim, a IA alucina, ainda, e isso é um fato. Mas o problema maior é não saber quem está usando, onde e como. Sem uma política clara de governança e revisão humana, há risco direto para o cliente, e para o próprio escritório.

3. Tratar IA como ferramenta de produtividade, não de valor

Reduzir IA a “um jeito mais rápido de revisar contrato” é perder o ponto. Queremos parceiros que tragam insights, jurimetria, novas formas de apresentar informação e não apenas automação de tarefas. Até porque, não sei se você sabe, mas seus clientes, nós, advogados corporativos, já usamos IA para revisar contratos. Então, o seu valor não vai mais estar nesse trabalho.

4. Cobrar como antes, entregar como depois

Uma colega compartilhou comigo uma solução jurídica com IA superinteressante. Quando levou aos sócios, a resposta foi: “Não temos interesse em implementar isso, pois vai diminuir o número de horas que cobramos dos clientes.”  Não poderiam estar mais errados. Quem ainda foca no faturamento por horas vai ficar para trás. Escritórios que experimentam modelos híbridos, pacotes ou remuneração por resultado saem na frente. E os clientes corporativos já estão atentos a isso.

5. Não treinar seus advogados

Escritórios que treinam seus times, criam processos de validação e compartilham aprendizados com o cliente se destacam e ganham confiança. Os sócios e as lideranças jurídicas precisam ser exemplo na adoção de IA, ou serão facilmente ultrapassados pelo mercado e pelas novas gerações. E se você conhece o meu primeiro artigo, grandes chances de ter advogado em outras épocas e talvez ainda ter alguma resistência a essa mudança.

6. Implementar IA só para dentro, sem impacto real para o cliente

É comum ver escritórios dizendo que “estão usando IA internamente”, mas isso não se traduz em entregas melhores, mais rápidas ou mais estratégicas. De que adianta automatizar tarefas se o cliente continua recebendo relatórios longos, linguagem prolixa e pouca objetividade jurídica? IA só faz sentido se o valor for efetivo. Caso contrário, vira só marketing.

7. Delegar tudo à TI

A IA jurídica não pode ser só pauta do CIO ou do comitê de inovação. É uma função core. Esperamos que os sócios e líderes jurídicos se apropriem do tema com profundidade.

8. Confundir tradição com resistência à mudança

Alguns escritórios ainda se apoiam em discursos como: “Nosso diferencial é a tradição”, “Garantimos segurança jurídica com base na experiência”, “Tecnologia não substitui a segurança do bom Direito”. Mas sejamos honestos: esse discurso tem data de validade. Tradição sem evolução vira monumento. E monumento, por definição, não se move.

9. Ignorar os riscos de viés, ética e segurança jurídica

Parece óbvio, mas às vezes o óbvio precisa ser dito. O fato de adotarmos novas tecnologias não elimina a responsabilidade sobre confidencialidade, vieses, ética e segurança jurídica. Quem não souber mapear esses riscos e garantir tranquilidade ao cliente não está pronto para atuar no cenário atual.

10. Não se posicionar como parceiro de transformação

Não queremos apenas bons advogados. Queremos aliados para navegar um ambiente regulatório e tecnológico em constante transformação. Já tinha falado sobre isso no meu artigo anterior, quando citei o erro 6: “falta de conhecimento sobre o cliente”. Por que seria diferente agora, na era da IA?

Bom, seria isso. Não espero que os escritórios sejam perfeitos ou tenham todas as respostas sobre IA neste momento. Minha expectativa é que eles estejam se movendo na mesma direção que nós, clientes corporativos, já estamos trilhando, como parceiros de negócio que sempre foram. Porque, no fim das contas, inovação não é sobre hype tecnológico, mas sobre uma nova realidade. A boa notícia? Ainda dá tempo. A má? O tempo não vai esperar por ninguém.

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