Você sabe dizer quantos prazos foram cumpridos ou quais peças deram mais resultado? Ou ainda, qual tipo de ação você move com mais frequência? Mas ainda mais importante que isso, você consegue extrair respostas estratégicas dessas informações?
Na prática, muitos escritórios acumulam informações todos os dias, mas quase nunca olham para elas de forma inteligente. Tudo fica registrado, mas sem gerar respostas claras para perguntas essenciais, como: o que está funcionando? onde estamos perdendo tempo ou dinheiro ou o que dá mais resultado?
Enquanto isso, a tecnologia avança. De acordo com a consultoria Gartner, 76% dos departamentos legais corporativos no mundo já utilizam analytics jurídico para embasar decisões direcionadas. Ou seja, os dados deixaram de ser apenas registros e passaram a ser ativos, capazes de orientar escolhas, melhorar fluxos internos e gerar vantagem competitiva.
Como aplicar big data no dia a dia do escritório
Falar em big data Jurídico pode soar abstrato à primeira vista. Mas, na prática, essa transformação já acontece em escritórios que optaram por profissionalizar a gestão, integrar tecnologia ao fluxo legal e adotar posições orientadas com dados e não mais por achismo. Veja a seguir algumas das principais ferramentas utilizadas.
Jurimetria e análise preditiva
Bancas que utilizam jurimetria e ferramentas de análise preditiva conseguem mapear padrões de resultados em tribunais, entender o perfil de julgadores e prever riscos com muito mais precisão.
Segundo a Lex Machina (2023), escritórios que adotaram esses sistemas aumentaram em até 40% sua taxa de sucesso processual e reduziram em 30% o tempo médio de tramitação, simplesmente por basear suas escolhas em registros de jurisprudência.
Em vez de repetir petições genéricas, os advogados passam a estruturar suas abordagens com base no que efetivamente tem funcionado em determinado tribunal, com certo tipo de juiz ou em causas com perfis semelhantes.
Inteligência artificial
Ferramentas com IA jurídica têm se tornado grandes parceiras da controladoria e da gestão do fluxo interno dos escritórios. Ao sistematizar etapas operacionais, a IA permite que a equipe se dedique mais à estratégia, atendimento e análise crítica dos casos.
Na prática, isso significa, por exemplo, não depender mais da leitura manual de cada intimação, nem correr o risco de perder um prazo porque alguém esqueceu de lançar uma tarefa. A inteligência artificial pode identificar automaticamente o conteúdo da intimação, sugerir providências e direcionar a execução para o responsável certo.
Business intelligence e indicadores de performance (KPIs)
Uma das maiores mudanças trazidas pelo big data jurídico é a possibilidade de enxergar o desempenho da banca com clareza. Com o uso de ferramentas de BI - Business Intelligence e gestão por indicadores, escritórios estão criando painéis que mostram:
- Quanto tempo a equipe está levando para responder um cliente após o primeiro contato;
- Qual o percentual de sucesso em ações de aposentadoria, revisões ou danos morais;
- Quantos prazos foram cumpridos dentro do cronograma e quantos precisaram ser corrigidos às pressas;
- Onde está acontecendo mais retrabalho: nas peças, nas tarefas ou nos protocolos;
- Qual o custo médio de cada processo, considerando equipe, tempo e recursos.
Conforme o relatório de 2024, escritórios que implementaram indicadores de performance, como OKRs e KPIs, conseguiram melhorar em até 35% sua eficiência operacional, simplesmente porque passaram a assumir direcionamentos baseados em dados reais, e não mais em tentativas ou percepções isoladas.
O custo de ignorar os dados na advocacia
Quando um escritório não trabalha com dados, ele perde previsibilidade, oportunidades de melhorar sua operação e, consequentemente, dinheiro. Isso pode parecer exagero, mas não é. Segundo relatório da Thomson Reuters (2021), departamentos legais que não usam ferramentas de análise gastam até 20% a mais, principalmente por causa de retrabalho, prazos perdidos e falta de controle sobre riscos. Na prática, isso se reflete em situações como:
- Na petição que teve que ser refeita porque ninguém revisou o histórico da ação;
- Na audiência que foi mal conduzida por falta de informações sobre o perfil do juiz;
- Na equipe sobrecarregada porque ninguém mede quem está acumulando tarefas;
- No cliente insatisfeito que esperou cinco dias por uma resposta simples, e foi embora sem fechar.
Esses pequenos pontos viram um efeito dominó, atrapalham a produtividade, desgastam o time e tiram a competitividade do escritório. Por outro lado, quem organiza seus dados e aplica o mínimo de inteligência sobre eles consegue:
- Prever riscos com base em deliberações anteriores;
- Entender onde o time está travando e onde pode render mais;
- Evitar desperdícios, priorizando o que realmente traz resultado;
- E, acima de tudo, definir fluxos com mais segurança, seja no atendimento, na abordagem processual ou na gestão.
Usar os indicadores se trata também de uma tática para estar mais competitivo no setor. Enquanto alguns ainda veem isso como “coisa de grande advogado”, quem já implementou alguma forma básica de análise de dados consegue estar à frente.
No mercado atual, é indispensável saber gerir. E isso só é possível quando você tem números claros sobre o que está acontecendo no seu próprio escritório. Quais são os clientes mais rentáveis? Que tipo de causa está dando prejuízo? Qual área do time está travando a entrega?
São essas respostas que guiam os próximos passos, ajudam a decidir quais causas priorizar, onde investir mais tempo, como organizar a equipe e até como definir o posicionamento na indústria.
Medir para crescer: A nova regra da advocacia contemporânea
Em 2023, o mercado global de LegalTech movimentou mais de US$27 bilhões, com projeção de ultrapassar US$35 bilhões até 2027, segundo a Gartner. Uma parte significativa desse crescimento vem de ferramentas de análise de dados, plataformas de jurimetria, inteligência processual, automação e BI jurídico que estão reformulando a forma como decisões são realizadas no Direito.
Mas o que isso diz para a realidade brasileira? A maioria dos escritórios ainda opera com controles manuais, planilhas soltas e escolhas baseadas apenas na experiência. E, embora o conhecimento prático seja essencial, ele precisa ser ampliado pela inteligência gerada a partir dos próprios números.
Felizmente, as plataformas de IA já oferecem à advocacia a possibilidade de visualizar e interpretar essas informações de forma clara e integrada. Na prática, isso significa que o gestor não precisa mais depender apenas da planilha do financeiro, da memória da equipe ou de horas de reunião para entender o que está acontecendo. Tudo pode ser visualizado em tempo real, como prazos, produtividade, tarefas, gargalos e resultados por tipo de ação ou por área.
Com dashboards interativos, workflow digital e relatórios automatizados, os softwares entregam uma estrutura completa para as bancas que desejam aplicar o conceito de big data jurídico na rotina, sem complicação e sem depender de equipes de TI.
E essa tendência já começa a ganhar força no país. De acordo com dados de 2023 fornecidos pela AB2L - Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs, 45% dos escritórios de médio e grande porte no Brasil já utilizam dashboards para gerenciar o rendimento e os prazos judiciais.
Mais do que tecnologia, os softwares jurídicos atuam diretamente na capacitação dos times para gestão por indicadores e transformação digital, alinhando o dia a dia às melhores práticas globais de LegalOps, com foco em eficiência, padronização e uso inteligente da informação.
Advocacia guiada por dados: Por que isso faz diferença?
Adotar uma cultura de dados na advocacia não é sobre abandonar a experiência, mas sobre ampliá-la com inteligência real. Nenhuma ferramenta vai substituir o julgamento, a sensibilidade no trato com o cliente ou a leitura estratégica de um caso. Mas ignorar os números é abrir mão de clareza, e quem não enxerga erra mais, gasta mais e cresce menos.
Os escritórios que já entenderam isso não são, necessariamente, maiores, mais ricos ou melhores. Eles apenas começaram a medir o que fazem e tomar decisões com base em indicadores, e não em suposições.
Inovar não significa abandonar o que sempre funcionou, mas reconhecer que o que funcionava antes pode não ser suficiente hoje. A rotina legal está mais complexa, os clientes estão mais exigentes e o volume de informações cresce a cada dia. Quem insiste em fazer tudo como sempre fez, mesmo diante de tantas mudanças, está abrindo espaço para ser ultrapassado.
A inovação, quando aplicada com propósito e método, não substitui a prática jurídica, ela a potencializa. E os dados são o ponto de partida mais acessível, mais objetivo e mais transformador dessa nova advocacia.