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Boreout no ambiente corporativo: Quando o tédio se torna um risco ocupacional

O boreout, síndrome ligada à subutilização no trabalho, afeta saúde mental e engajamento, exigindo atenção de lideranças e integração à estratégia organizacional.

7/7/2025

Enquanto o burnout ganhou espaço no debate público por escancarar os danos do excesso de trabalho, o boreout vem sendo identificado como o outro extremo do espectro: uma síndrome ocupacional silenciosa, provocada pela subutilização no trabalho, falta de desafios e sensação de inutilidade. A ausência de estímulos intelectuais e de propósito transforma o dia a dia em um ciclo de apatia, podendo gerar sintomas semelhantes ao burnout como ansiedade, baixa autoestima, perda de interesse e sofrimento psíquico.

O termo "boreout" vem de bored, que significa entediado, em inglês. É aquela sensação de esvaziamento e desânimo diante das tarefas. Quando há pouco estímulo externo, a pessoa entra em um modo automático: não reage, interage menos, deixa de fazer planos. Ela pode surgir quando alguém tem uma formação ou experiência que não é aproveitada, ou se vê em um ambiente sem desafios, com tarefas repetitivas e sem exigência. O resultado? Sintomas físicos e emocionais.

A origem do conceito remonta a 2007, quando os consultores suíços Philippe Rothlin e Peter Werder publicaram o livro Diagnose Boreout. Desde então, o tema ganhou força com os desafios de engajamento enfrentados principalmente pelas novas gerações. No Brasil, segundo a Gallup, 7 em cada 10 trabalhadores estão desengajados. Na geração Z, o cenário se agrava: essa geração busca conexão com o propósito do trabalho, autonomia e espaço para criar. Quando isso não acontece, o resultado é frustração, baixa entrega e até adoecimento.

O boreout impacta diretamente o clima organizacional e o desempenho das equipes. E é nesse ponto que o papel dos líderes e do RH se torna ainda mais essencial. Não basta apenas oferecer benefícios. É preciso construir um ambiente vivo, que desafie, que escute e que valorize o que cada pessoa tem de único. Também é necessário estar atento à legislação e aos riscos jurídicos, como ações trabalhistas por danos morais ou assédio institucional. Mas, antes disso, é preciso cuidar de gente.

Sabemos que o mundo mudou e que a pandemia deixou marcas importantes. Segundo o IBGE, o diagnóstico médico de depressão aumentou 41% entre o período pré-pandemia e o primeiro trimestre de 2022. Vimos um crescimento nos afastamentos por questões emocionais e muitos relatos de dificuldade em equilibrar vida pessoal e profissional. Por isso, o cuidado com a saúde mental não pode mais ser acessório: precisa ser parte da estratégia.

Enfrentar o boreout é mais do que evitar o tédio. É garantir que as pessoas sintam que pertencem, que são vistas e que estão em um ambiente onde podem crescer. Quando escutamos de verdade, com empatia, intenção e ação, construímos laços mais fortes e ambientes mais saudáveis.

RH não é só apoio: é presença, é construção diária. E ouvir, neste contexto, não é apenas escutar: é dar consequência àquilo que se ouve. Essa é a ponte entre o propósito institucional e o engajamento de quem ajuda a construir a organização todos os dias.

Alessandra Xavier de Oliveira Coelho
Advogada. Sócia e Diretora Administrativa da Jacó Coelho Advogados. Licenciada em Pedagogia. Pós-Graduação em Formação de Professores pela Pontifícia Universidade Católica de Goiânia (PUC-GO). MBA de Gestão Jurídica de Seguros e Resseguros. MBA, em andamento, em Liderança Integral e Gestão Organizacional - Franklin Covey, Instituto de Pós-Graduação e Graduação de Goiânia (IPOG-GO).

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