A crescente complexidade dos departamentos jurídicos e a demanda por resultados mensuráveis têm impulsionado a adoção de práticas mais estruturadas de gestão. Nesse contexto, embora Legal Operations e Controladoria Jurídica sejam frequentemente tratados como sinônimos, trata-se de funções com naturezas e escopos distintos - ainda que complementares.
Legal Operations: arquitetura estratégica da performance jurídica
Legal Operations, ou simplesmente Legal Ops, consiste na estruturação estratégica, multidisciplinar e orientada a dados da função jurídica. Seu objetivo principal é viabilizar e sustentar a atuação jurídica como unidade de negócio, com foco em eficiência, governança, sustentabilidade e integração com os objetivos corporativos.
Diferentemente da operação jurídica tradicional, Legal Ops atua em frentes transversais e de apoio à atividade-fim jurídica, tais como:
- Gestão financeira e orçamentária da área;
- Governança de tecnologia e automação de fluxos;
- Mapeamento e otimização de processos internos;
- Gestão de performance e produtividade;
- Definição e acompanhamento de indicadores-chave (KPIs e OKRs);
- Gestão contratual e de fornecedores externos;
- Compliance, risco, ESG e dados regulatórios;
- Estratégias de inovação e transformação digital.
Em síntese, o Legal Ops estabelece os instrumentos de gestão necessários para que o jurídico seja previsível, escalável, responsivo ao negócio e orientado a valor.
Controladoria Jurídica: núcleo operacional e tático-processual
A Controladoria Jurídica, por sua vez, possui natureza essencialmente operacional e tático-processual, voltada à padronização e controle da rotina jurídica. Seu escopo inclui:
- Gestão e controle de prazos e publicações oficiais;
- Protocolo de documentos e alimentação de sistemas jurídicos;
- Organização e manutenção do acervo documental;
- Geração de relatórios táticos para apoio à gestão;
- Interface com áreas internas para suporte ao contencioso.
Embora cumpra papel indispensável na mitigação de riscos operacionais e na sustentação da rotina jurídica, não possui atribuições diretas de governança estratégica ou de alinhamento com os objetivos macro da organização.
Convergência: Legal Ops como estrutura integradora e evolutiva
A Controladoria Jurídica pode ser compreendida como um dos pilares operacionais do ecossistema de Legal Operations. Enquanto a Controladoria cuida do "como fazer" no dia a dia jurídico, o Legal Ops responde pelo "por que" e "para onde" conduzir a área, conectando visão, planejamento e execução.
Adotar um modelo de Legal Ops implica:
- Implementar uma governança orientada por dados;
- Instituir mecanismos de planejamento jurídico integrado;
- Reforçar a previsibilidade orçamentária e a accountability;
- Estabelecer uma cultura de melhoria contínua, inovação e eficiência.
Tecnologia e inovação como vetores de maturidade jurídica
A consolidação do Legal Ops depende diretamente da adoção consciente de tecnologias habilitadoras, não apenas para automação de tarefas ou gestão documental, mas como parte de uma mudança de mentalidade em relação à atuação jurídica.
Ferramentas como RPA, sistemas de business intelligence, gestão de contratos via CLM, jurimetria e analytics viabilizam entregas com mais escala, qualidade e inteligência. Paralelamente, a inovação promove a reavaliação de fluxos, a integração com outras áreas e a adoção de modelos operacionais mais ágeis e responsivos.
Do suporte jurídico à geração de valor estratégico
Em resumo, a maturidade da gestão jurídica não está apenas na organização de sua operação, mas na capacidade de gerar valor mensurável, conectar-se ao core business e apoiar decisões com dados e estratégia.
Legal Operations não é uma tendência - é uma evolução necessária. E a Controladoria Jurídica, embora crucial, é apenas uma das engrenagens dessa transformação. Profissionais e organizações que compreendem essa diferenciação estão mais bem posicionados para liderar o jurídico do futuro: analítico, orientado a resultados e protagonista na geração de valor para o negócio.