Longe de ser apenas um conceito religioso, a espiritualidade é um aspecto fundamental da experiência humana, abrangendo seu propósito de vida, valores e conexão com o transcendente, mesmo para aqueles sem religião definida. E, cada vez mais, a medicina reconhece a importância dessa dimensão no cuidado integral do paciente.
O que a ciência e a medicina dizem?
Estudos científicos robustos têm demonstrado o impacto positivo da espiritualidade na saúde. O renomado "Handbook of Religion on Health", que compila milhares de pesquisas, aponta que um maior envolvimento religioso/espiritual está associado a:
- Menores níveis de depressão e suicídio;
- Menor abuso de substâncias;
- Maior qualidade de vida e bem-estar;
- Menor mortalidade geral.
Um estudo com mais de 74.000 pessoas, publicado na prestigiada revista JAMA, revelou que frequentadores religiosos semanais apresentaram uma redução de 50% na mortalidade geral. Outra pesquisa brasileira com pacientes renais crônicos em hemodiálise mostrou que a religiosidade foi o preditor mais forte de felicidade, superando fatores clínicos e sociodemográficos.
A própria AMA - Associação Médica Americana e a JAMA recomendam a incorporação rotineira do cuidado espiritual na atenção médica, especialmente para pacientes com doenças graves. No Brasil, diversas associações médicas, como a ABP - Brasileira de Psiquiatria e a SBC - Sociedade Brasileira de Cardiologia, já possuem comissões e diretrizes dedicadas ao tema, reconhecendo a espiritualidade como um fator relevante na prevenção e tratamento de doenças. O CFM - Conselho Federal de Medicina também criou uma comissão para gerar e disseminar conhecimento baseado em evidências e auxiliar no treinamento de médicos brasileiros.
Espiritualidade na prática clínica: Como ela te ajuda?
A integração da espiritualidade na sua saúde não se trata de imposição de crenças, mas sim de um reconhecimento ético e científico de como sua dimensão espiritual pode influenciar sua recuperação. Os médicos podem, por exemplo, realizar uma "anamnese espiritual", uma conversa que ajuda a identificar seus recursos espirituais positivos para a recuperação, fazendo com que você se sinta compreendido e auxiliando na busca por suas próprias forças internas.
Em cuidados paliativos, onde a maioria das pessoas com doenças crônicas morre, a espiritualidade é vista como um pilar fundamental da abordagem holística, visando melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares. Estudos mostram que pacientes com doenças graves expressam necessidades espirituais profundas, como encontrar paz interior, ter um sentido para a vida, resolver conflitos e ter a presença de pessoas significativas. A esperança, por exemplo, é um fator crucial que pacientes terminais mantêm em todas as fases da doença.
Além disso, intervenções simples baseadas em espiritualidade, como mensagens focadas em perdão, gratidão, otimismo e propósito de vida, já demonstraram resultados práticos, como a redução da pressão arterial. Práticas integrativas complementares, como o Reiki, também têm mostrado resultados na recuperação de pacientes, melhorando o bem-estar e a adesão ao tratamento.
Seu direito a um cuidado integral
A diversidade de crenças no Brasil não é um obstáculo para a abordagem da espiritualidade na medicina; ao contrário, é bem-vinda. O foco está em reconhecer a sua vivência e como ela impacta sua recuperação. Hospitais e instituições de saúde, como o INCA - Instituto Nacional do Câncer, já implementam a assistência voluntária e espiritual, demonstrando alta satisfação dos usuários.
É fundamental que a espiritualidade não seja tratada superficialmente, mas sim integrada de forma profunda e ética na prática clínica, compreendendo como ela se manifesta no seu dia a dia e nos momentos de maior vulnerabilidade.