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IA e investimentos: O divisor de águas na gestão jurídica

A inteligência artificial redefine decisões financeiras e impõe novos rumos à estratégia de escritórios e departamentos jurídicos.

10/9/2025

O mundo corporativo, e especialmente o universo jurídico, está diante de uma mudança que não é apenas tecnológica: é estrutural. 

IA - Inteligência artificial deixou de ser uma ferramenta periférica, usada pontualmente para agilizar tarefas e passou a ocupar o centro da estratégia de tomada de decisões, inclusive nas áreas de investimento. 

No Direito, essa transformação não é teórica, já é vivida no dia a dia dos escritórios e departamentos jurídicos que precisam decidir onde alocar recursos, como estruturar seu crescimento e quais riscos assumir.

O estudo mais recente da PwC - PricewaterhouseCoopers projeta que a IA poderá adicionar até US$15 trilhões à economia global nas próximas décadas. É um número que, por si só, já provoca uma reação: ou estamos atentos a esse potencial ou estaremos condenados a assistir de fora a redistribuição de riqueza e poder que ele representa.

No ambiente jurídico, essa mudança não significa apenas “ganhar mais dinheiro” ou “otimizar custos”. Trata-se de redefinir a própria lógica de operação do negócio. 

Escritórios de advocacia que compreendem o papel da IA no mercado de investimentos e aplicam essa visão na sua gestão jurídica terão não apenas vantagem competitiva, mas capacidade real de influenciar o rumo do setor.

A transformação silenciosa nas decisões de investimento

Tradicionalmente, decisões de investimento, sejam financeiras, estratégicas ou de recursos humanos, eram tomadas com base na experiência acumulada, relatórios estáticos e projeções construídas a partir de dados históricos. 

Esse modelo tinha dois grandes problemas:

A IA muda essa equação ao permitir análises dinâmicas, com capacidade de processamento de dados em tempo real e simulação de múltiplos cenários. 

Hoje, um escritório pode avaliar o impacto financeiro de abrir uma nova filial, contratar um sócio especializado ou investir em marketing jurídico digital com base em dados vivos, e não apenas em estimativas ou “sensação de mercado”.

Não é exagero afirmar que gestores jurídicos e advogados empreendedores que incorporam esse tipo de inteligência na sua rotina estão, na prática, jogando um jogo diferente.

Da economia global ao cotidiano jurídico

Nesse sentido, o impacto econômico previsto pela PwC não se dará de forma homogênea. Setores mais preparados para adotar IA colherão resultados mais rapidamente. 

E o setor jurídico, apesar de historicamente conservador, já está entre os que começam a acelerar essa curva de adoção.

Por quê? Porque a gestão jurídica moderna é, no fundo, uma gestão empresarial especializada. 

Ela exige decisões sobre:

E todas essas questões podem, e devem, ser respondidas com suporte da IA, que oferece não só análise preditiva, mas também capacidade de aprendizado contínuo, adaptando-se às mudanças do mercado e do comportamento dos clientes.

Os riscos de ignorar o movimento

Claro que toda inovação vem acompanhada de riscos. A adoção apressada e pouco crítica de tecnologias de IA pode gerar decisões enviesadas, dependência excessiva de modelos e até problemas de conformidade ética e jurídica.

O primeiro risco é a ilusão da neutralidade da IA. 

Por mais avançado que seja o algoritmo, ele carrega as marcas das bases de dados que o alimentam. Um sistema mal calibrado pode reforçar vieses, superestimar oportunidades ou subestimar riscos. É por isso que a supervisão humana continua sendo indispensável.

O segundo risco é o conforto excessivo. 

Escritórios que adotam IA, mas deixam de investir no desenvolvimento crítico de sua equipe, acabam criando uma dependência perigosa, em que as decisões deixam de ser compreendidas e passam apenas a ser executadas.

O terceiro risco é a perda de timing. 

Quem espera “o momento perfeito” para adotar IA pode descobrir que a concorrência já usou essa mesma tecnologia para conquistar clientes, melhorar margens e oferecer serviços mais rápidos e precisos.

Estamos preparados?

A questão não é se a IA vai mudar a forma como tomamos decisões de investimento no Direito, isso já está acontecendo. 

A pergunta real é: estamos preparados para essa mudança?

É possível afirmar que ainda há uma lacuna significativa entre o potencial da IA e a prática diária dos escritórios de advocacia. Muitos gestores ainda tratam a tecnologia como um acessório, e não como um pilar estratégico. Isso se reflete em três sintomas claros:

Essa lacuna não é inevitável. É possível e necessário superá-la por meio de um esforço combinado que envolva a capacitação contínua das equipes em análise de dados e no uso crítico da IA, a escolha criteriosa de ferramentas com prioridade para soluções especializadas no setor jurídico e, por fim, uma mudança de mentalidade que reconheça a tecnologia não apenas como suporte, mas como parte central do negócio.

Um novo perfil de liderança no Direito

Se a IA muda a lógica dos investimentos, ela também exige um novo perfil de liderança no setor jurídico.

Não basta ser um bom advogado ou ter “faro” para negócios: é preciso ser capaz de interpretar dados, dialogar com tecnologia e compreender o impacto financeiro de cada decisão.

Esse novo líder jurídico precisa:

O futuro já está na mesa de reuniões

Ao olhar para os próximos anos, é inevitável perceber que escritórios e departamentos jurídicos serão avaliados não apenas pelo que sabem de Direito, mas pelo que sabem de gestão e de tecnologia. 

E a IA, especialmente no campo dos investimentos, é a peça que faltava para alinhar esses dois mundos.

A projeção da PwC não é um número para impressionar em apresentações de PowerPoint: é um aviso de que trilhões de dólares vão mudar de mãos.

A pergunta que fica para o gestor jurídico é simples: o seu escritório estará do lado que capta ou do lado que perde esses recursos?

Ferramentas juridicas mostram que é possível traduzir o potencial da IA em resultados concretos. O desafio, agora, é fazer com que essa tradução seja compreendida e aplicada por todo o ecossistema jurídico.

O futuro já chegou e, como sempre, não esperou pela pauta do próximo tribunal.

Eduardo Koetz
Eduardo Koetz é advogado, sócio-fundador da Koetz Advocacia e CEO do software jurídico ADVBOX . Especialista em tecnologia e gestão, ele também se destaca como palestrante em eventos jurídicos.

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