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A advocacia na era da IA: Entre a transformação e a oportunidade

A inteligência artificial não substitui o advogado, mas redefine seu papel. Descubra como tecnologia, estratégia e ética se unem para moldar a advocacia do futuro.

19/12/2025
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IA - Inteligência Artificial deixou de ser um conceito futurista para se tornar uma força transformadora no mercado de trabalho global. A sua implementação não se limita à automação de tarefas repetitivas, mas redefine profissões cognitivas e de conhecimento.

Um estudo recente da Microsoft, divulgado pela Forbes Brasil, mapeou as profissões mais e menos impactadas pela IA, revelando que funções intensivas em tarefas previsíveis, como análise de dados, escrita e gestão de informações, estão entre as mais vulneráveis à automação. 

Por outro lado, profissões que demandam julgamento crítico, criatividade e inteligência interpessoal apresentam maior resistência.

O setor jurídico exemplifica com clareza essa divisão. Atividades como redação de petições, revisão de contratos e análise de jurisprudência são suscetíveis a automatização parcial, enquanto a interpretação estratégica, a construção de teses e a orientação ética permanecem exclusivamente humanas. Essa distinção é essencial: indica que a relevância do advogado não está ameaçada, mas seu papel está sendo transformado.

A automação, nesse contexto, não deve ser vista como ameaça, mas como ferramenta para ampliar produtividade e inteligência operacional. A IA permite que tarefas rotineiras, que antes consumiam horas de trabalho humano, sejam executadas de maneira mais rápida e precisa, liberando o profissional para funções estratégicas e consultivas.

Impactos da IA no trabalho do advogado

Ferramentas de IA vêm transformando profundamente o cotidiano jurídico. Softwares de análise de contratos conseguem identificar cláusulas incomuns, divergências e riscos legais em minutos, tarefa que manualmente demandaria horas.

Além disso, plataformas de pesquisa jurisprudencial baseadas em IA mapeiam precedentes e identificam padrões decisórios que informam estratégias mais assertivas e sistemas de monitoramento de prazos e gestão processual reduzem o risco de erros e aumentam a eficiência do escritório.

De acordo com o relatório Generative AI and the Future of Work in America (IA Generativa e o futuro do trabalho nos Estados Unidos da América, em tradução livre) da McKinsey, até 30% das horas de trabalho em profissões cognitivas podem ser automatizadas até 2030. No âmbito jurídico, isso significa que atividades rotineiras podem ser delegadas à tecnologia, enquanto o advogado concentra-se em análise crítica, planejamento estratégico e aconselhamento personalizado.

O uso dessas ferramentas não elimina o advogado, mas transforma sua função. Ele se torna gestor de inteligência jurídica, responsável por interpretar dados, tomar decisões estratégicas e aplicar conhecimento legal com ética e criatividade.

O advogado como profissional estratégico

A evolução do papel do advogado é clara: de executor de tarefas para estrategista. 

A tecnologia permite que o profissional se concentre em atividades que exigem julgamento crítico, tomada de decisão ética e relacionamento interpessoal. Habilidades como pensamento analítico, comunicação assertiva e liderança tornam-se essenciais.

Estudos do WEF - World Economic Forum indicam que 44% das habilidades exigidas dos trabalhadores mudarão até 2027 devido à adoção acelerada da IA. Entre as mais valorizadas estão aprendizado ativo, inovação, resolução de problemas complexos, empatia e inteligência emocional. No contexto jurídico, isso significa que o advogado precisa dominar não apenas o Direito, mas também o raciocínio tecnológico que permeia a aplicação da IA.

Profissionais que desenvolvem essas habilidades tornam-se mais resilientes. Ao integrar IA ao trabalho cotidiano, advogados aumentam a produtividade, melhoram a qualidade das análises jurídicas e fortalecem sua posição estratégica perante clientes e organizações.

Gestão jurídica orientada por dados

Escritórios que permanecem presos a processos manuais e decisões empíricas enfrentam risco de perda de competitividade. A gestão jurídica moderna exige uso de dados e automação inteligente e plataformas que exemplificam essa tendência, permitindo centralizar informações, monitorar prazos, analisar performance de equipes e otimizar fluxos de trabalho.

A gestão orientada a dados transforma decisões reativas em proativas: Indicadores de produtividade, relatórios de desempenho e análise de gargalos permitem ao gestor jurídico antecipar problemas, alocar recursos de forma estratégica e criar vantagem competitiva. 

Em outras palavras, ao adotar essa abordagem, os escritórios ganham em eficiência operacional e se destacam pela capacidade de inovar e redefinir práticas no setor jurídico.

Ética, governança e responsabilidade na IA

A adoção da IA traz desafios éticos relevantes. algoritmos podem apresentar vieses ou interpretar dados de forma equivocada e a responsabilidade sobre decisões automatizadas ainda é objeto de debate jurídico. Além disso, a proteção de dados dos clientes é um ponto crítico, considerando a vulnerabilidade de informações sensíveis em sistemas digitais.

O advogado assume papel de guardião da ética. É necessário supervisionar processos automatizados, validar decisões da IA e garantir que recomendações jurídicas estejam alinhadas aos princípios legais e morais. Em consultorias empresariais, por exemplo, a análise de contratos e riscos não pode depender exclusivamente de algoritmos: a IA deve funcionar como suporte para decisões humanas.

A criação de políticas internas de compliance, capacitação da equipe e definição de responsabilidades claras são passos essenciais. Profissionais que compreendem a interseção entre Direito, tecnologia e ética estarão melhor preparados para navegar em um ambiente regulatório complexo e em constante transformação.

Oportunidades de diferenciação e inovação

A automação e a IA oferecem oportunidades únicas para diferenciação no mercado jurídico, afinal, escritórios que adotam tecnologia estratégica, conseguem ampliar a oferta de serviços, reduzir custos operacionais e melhorar a experiência do cliente. Ferramentas de análise preditiva permitem identificar tendências jurídicas e regulatórias antes de se tornarem padrão, agregando valor real à tomada de decisão corporativa.

A IA também cria espaço para inovação em serviços jurídicos digitais, relatórios personalizados, monitoramento contínuo de riscos e consultoria baseada em dados. Em outras palavras, escritórios que combinam tecnologia com expertise legal transformam conhecimento em vantagem competitiva, fidelizam clientes e conquistam novos mercados.

Impacto econômico global e no setor jurídico

Relatórios do Goldman Sachs estimam que até 300 milhões de empregos no mundo poderão ser parcialmente automatizados pela IA. Profissões intensivas em conhecimento, como advocacia, contabilidade e gestão financeira, estão entre as mais expostas à automação parcial, mas não à eliminação completa.

A mesma pesquisa projeta que a IA pode aumentar a produtividade global em 7% e gerar impacto de aproximadamente US$7 trilhões no PIB mundial. Para o setor jurídico, a mensagem é clara: a tecnologia não elimina o emprego qualificado, mas transforma tarefas e aumenta o valor estratégico do advogado.

O WEF - World Economic Forum, ou Fórum Econômico Mundial em português, complementa essa visão ao indicar que 83 milhões de empregos serão eliminados, mas 69 milhões de novas funções surgirão, sobretudo em tecnologia, análise de dados, sustentabilidade e gestão de pessoas. 

Para a advocacia, isso se traduz em oportunidades para funções estratégicas, coordenação de compliance automatizado, análise preditiva de litígios e assessoria em transformação digital corporativa.

Competências essenciais para o advogado do futuro

O advogado moderno deve desenvolver três conjuntos de competências: conhecimento jurídico, habilidades tecnológicas e capacidade estratégica. 

O primeiro envolve domínio das leis, jurisprudência e regulamentações, o segundo, familiaridade com plataformas de gestão, automação e análise de dados e, o terceiro, habilidades de liderança, tomada de decisão ética e visão de negócios.

Além disso, competências socioemocionais como empatia, inteligência emocional e criatividade são essenciais para interpretar os resultados da IA e transformá-los em soluções jurídicas eficazes. A combinação dessas habilidades garante resiliência, relevância e competitividade no mercado jurídico em transformação.

Preparação estratégica para o novo cenário

A preparação para o impacto da IA exige ação proativa, escritórios devem investir em capacitação tecnológica, adoção de ferramentas de automação, desenvolvimento de indicadores de performance e criação de políticas de governança. Advogados que compreendem a IA como aliada estratégica podem organizar melhor seu tempo, focar em atividades de maior valor agregado e oferecer serviços inovadores.

A integração entre conhecimento jurídico, análise de dados e automação transforma o papel do advogado, tornando-o central em decisões críticas e na inovação do ambiente corporativo. Por outro lado, escritórios que não acompanham essa evolução correm risco de obsolescência, enquanto aqueles que adotam IA com método se posicionam à frente no mercado.

Casos práticos de aplicação da IA

  • Análise de contratos: Softwares de IA conseguem revisar milhares de páginas em minutos, detectando inconsistências e sugerindo melhorias, poupando horas de trabalho humano;
  • Pesquisa jurisprudencial: Algoritmos mapeiam precedentes e padrões decisórios, permitindo ao advogado construir teses jurídicas mais robustas;
  • Monitoramento de prazos: Sistemas automatizados alertam sobre vencimentos de processos e obrigações legais, reduzindo erros e aumentando a confiabilidade;
  • Consultoria estratégica: Dados coletados por IA permitem projeções de riscos e oportunidades, auxiliando na tomada de decisão corporativa.

Esses exemplos demonstram que a tecnologia não substitui o conhecimento, mas amplifica a capacidade do advogado de entregar valor estratégico.

A advocacia que evolui

O futuro do trabalho jurídico não está na resistência à tecnologia, mas na sua integração inteligente e ética. Profissionais e escritórios que adotam IA com método e gestão baseada em dados transformam desafios em oportunidades, multiplicam produtividade e ampliam valor estratégico.

Advogados que entendem a IA como aliada, se capacitam para interpretar dados, gerenciar processos automatizados e manter a ética como guia estarão à frente. 

A tecnologia não substitui o conhecimento humano, mas potencializa sua aplicação. A advocacia que abraça a IA evolui e se fortalece como pilar da justiça, da estratégia empresarial e da inovação no século XXI.

Autor

Eduardo Koetz Eduardo Koetz é advogado, sócio-fundador da Koetz Advocacia e CEO do software jurídico ADVBOX . Especialista em tecnologia e gestão, ele também se destaca como palestrante em eventos jurídicos.

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