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A integração entre armazéns gerais e Redex

Uma reflexão estratégica sobre a otimização logística brasileira.

19/12/2025
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1. Introdução

A logística brasileira encontra-se diante de uma oportunidade singular de modernização, eficiência e redução de custos: a possibilidade de que todos os armazéns gerais regularmente matriculados e com fiel depositário nomeado passem a obter automaticamente o ADE - Ato Declaratório Executivo da RFB - Receita Federal do Brasil para operação como REDEX - Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação.

A proposta - original e inédita, concebida no âmbito institucional da GENERAL DOCK LOGISTICS, parte de premissa objetiva: as infraestruturas físicas, operacionais e sistêmicas exigidas para armazéns gerais e para REDEX são substancialmente equivalentes, de tal modo que a integração normativa entre ambos reduziria gargalos, democratizaria o acesso ao despacho aduaneiro, ampliaria a capilaridade logística e fortaleceria a competitividade exportadora nacional.

Este artigo busca fomentar reflexão técnica, jurídica e política sobre a viabilidade normativa dessa integração, suas vantagens econômicas e seus impactos para o setor produtivo brasileiro.

2. Desenvolvimento: Convergência operacional e estrutural entre armazéns gerais e REDEX

2.1. Infraestrutura e requisitos técnicos equivalentes

O decreto Federal 1.102/1903, norma estruturante da atividade de armazéns gerais, exige que o estabelecimento possua:

  • Instalações adequadas de recebimento, guarda e conservação;
  • Controles permanentes de estoque;
  • Responsabilidade técnica do fiel depositário, reconhecida pela Junta Comercial estadual;
  • Estrutura física compatível com armazenagem industrial, agrícola, química e geral.

Do outro lado, o regulamento aduaneiro (decreto 6.759/09), especialmente nos arts. 14, 15, 33, 34, 35, 640 a 645 (REDEX), estabelece que recintos aduaneiros devem possuir:

  • Controle físico e sistêmico segregado;
  • Áreas de recebimento e verificação;
  • Segurança patrimonial e monitoramento;
  • Sistemas habilitados e auditáveis pela RFB;
  • Responsabilidade técnica formal perante o Fisco.

A sobreposição é evidente: o armazém geral, quando estruturado conforme o decreto 1.102/1903, já atende praticamente todos os requisitos lógicos, operacionais e físicos que a Receita Federal demanda de um REDEX.

2.2. Sistemas e integração digital: Requisito já cumprido

A integração plena aos sistemas gov.br, SISCOMEX, DUE, Portal Único, e respectivos módulos de controle é plenamente possível com a atual realidade tecnológica dos armazéns gerais modernos, especialmente aqueles que adotam:

  • WMS integrados com APIs públicas;
  • Certificações digitais ICP-Brasil;
  • Protocolos de rastreabilidade;
  • Monitoramento eletrônico e controle de acesso;
  • Sistemas compatíveis com exigências auditáveis (logs, trilhas de auditoria e guarda digital).

Pela ótica operacional, não há diferença substancial entre o ambiente REDEX e um armazém geral de classe A, exceto o ato formal da Receita Federal.

2.3. Capilaridade logística e ganhos de eficiência

A transformação automática de armazéns gerais matriculados em recintos REDEX geraria:

  • Ampliação imediata da malha de exportação em todo o território nacional;
  • Redução expressiva dos congestionamentos nos portos organizados;
  • Redução de custos logísticos médios por tonelada;
  • Uso mais inteligente das malhas ferroviárias e rodoviárias;
  • Interiorização das exportações;
  • Maior competitividade para pequenas e médias empresas;
  • Maior fluidez operacional e redução de lead time.

Além disso, permitiria que UFs sem portos se tornassem polos exportadores eficientes - fato plenamente alinhado ao princípio constitucional do desenvolvimento nacional equilibrado.

3. Fundamentação legal: Por que o projeto é viável?

3.1. Base normativa dos armazéns gerais

Decreto Federal 1.102/1903 - regula a atividade de armazéns gerais, sua matrícula, garantias, responsabilidades e emissão de warrants.

Link oficial: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d1102.htm

CC (lei 10.406/02) - arts. 627 a 646 (depósito), reforçando a responsabilidade do depositário.

Link oficial: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm

Legislação tributária correlata (ICMS, IPI e obrigações acessórias), variando por Estados.

3.2. Base normativa dos recintos REDEX no regulamento aduaneiro

Decreto 6.759/09 (regulamento aduaneiro)

  • Arts. 14, 15 e 33: Requisitos dos recintos aduaneiros;
  • Arts. 34 e 35: Alfandegamento;
  • Arts. 640 a 645: Operação e controle do REDEX.

Link oficial: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6759.htm

A leitura sistemática desses dispositivos revela que nada impede, sob a ótica jurídica, que a Receita Federal institua um procedimento simplificado e automático para concessão do ADE aos armazéns gerais, desde que:

  1. Matriculados regularmente;
  2. Com fiel depositário nomeado;
  3. Atendam aos requisitos mínimos de segurança e controle;
  4. Cumpram padrões de integração sistêmica (SISCOMEX/Portal Único).

3.3. Ausência de vedação legal

Importante destacar que não existe no RA qualquer dispositivo que proíba a concessão automática do ADE a estabelecimentos privados já regulados por legislação Federal prévia (decreto 1.102/1903).

Portanto, o projeto é juridicamente viável, dependendo exclusivamente de vontade administrativa ou legislativa para sua implementação.

4. Conclusão: Uma agenda de inovação logística para o Brasil

A integração entre armazéns gerais e REDEX, mediante outorga automática do ADE pela RFB, constitui medida:

  • Legalmente possível;
  • Operacionalmente simples;
  • Tecnologicamente alinhada ao Portal Único;
  • Economicamente vantajosa para exportadores;
  • Estrategicamente necessária para ampliar a competitividade nacional.

Trata-se de um projeto de modernização institucional com profundo impacto no comércio exterior brasileiro, capaz de:

  • Reduzir custos logísticos;
  • Incrementar a eficiência e a capilaridade;
  • Descentralizar operações;
  • Estimular investimento privado;
  • Dinamizar corredores ferroviários e rodoviários;
  • Fortalecer a política logística nacional.

E, sobretudo, trata-se de uma proposição original, concebida no âmbito técnico da GENERAL DOCK LOGISTICS, pronta para debate público, regulatório e legislativo.

Por que não avançar?

A pergunta é legítima. O setor produtivo está pronto. Os armazéns gerais estão prontos.

Os sistemas estão integrados.

Resta saber qual parlamentar, qual liderança política ou qual órgão regulador estará disposto a transformar essa proposta em um marco histórico do comércio exterior brasileiro.

O debate está lançado!!!

Autor

Ronaldo Paschoaloni Especialista em Direito Marítimo, Portuário e Aduaneiro-UNISANTA; Perito Judicial -Credenciado pelo CRA-SP; Extensão Gestão Estratégica FGV-EAESP SP.Fundador GENERAL DOCK CONSULTORIA E LOGÍSTICA LTDA.

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