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Os perigos da tolerância

Embora o presidente Lula estar em xeque, diz que não vai mudar o jogo e nos pede tolerância. O comportamento presidencial denuncia dois erros de percepção. O primeiro é o de desconhecer que um movimento errado a mais, lhe levará ao xeque-mate, e o outro é o de que existe um limite entre tolerância por boas razões e por más razões.

9/12/2004

Os perigos da tolerância


Claudio Slaviero*

Embora o presidente Lula estar em xeque, diz que não vai mudar o jogo e nos pede tolerância. O comportamento presidencial denuncia dois erros de percepção. O primeiro é o de desconhecer que um movimento errado a mais, lhe levará ao xeque-mate, e o outro é o de que existe um limite entre tolerância por boas razões e por más razões.

A armadilha que a sua política tem construído não é uma boa razão, não merecendo portanto, nossa tolerância. Não é de hoje que a sociedade brasileira nos seus mais diversos segmentos tem advertido ao governo, que a suposta estabilização macroeconômica sustentada por juros altos e tributos confiscatórios, está perigosamente promovendo a desestabilização social. As taxas de desemprego e de sub emprego nas regiões metropolitanas somam a um quarto da população ativa, o que expressa a maior crise social da história de nosso país e que se manifesta através dos índices de miséria, criminalidade e insegurança.

O fracasso social é comprovado, pela previsão dos serviços de inteligência do governo, que advertem a respeito do acirramento de tensões sociais no campo e nas cidades, em 2005, através de mobilizações do MST, dos sem-tetos e dos índios; de greves policiais, da insatisfação militar; do recrudescimento da guerra entre traficantes e de greves de funcionários públicos, de estudantes e de caminhoneiros, que representaria um apagão, em termos de escoamento da safra 2004/2005.

Em que pesem os movimentos sociais, que já estão eclodindo em diversos segmentos, por todo o país, configurarem uma célere corrida rumo a um confronto social; o chefe de nossa nação insiste em não tomar conhecimento, dizendo que manterá a mesma postura, o mesmo jogo, que não criminalizará os excluídos, que tomará apenas atitudes simbólicas para tentar melhorar a sua imagem arranhada e como não bastasse, ainda nos pede tolerância.

O presidente Lula, certamente, desconhece a “Declaração de Princípios sobre a Tolerância” de 1995, que esclarece que “a tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso, a tolerância pode ser invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve ser praticada pelos indivíduos, pelos grupos e pelo Estado”. Se, no nosso país o “Estado democrático de direito” tornou-se uma obra de ficção política, cabe a nós, enquanto sociedade civil organizada, assumir plenamente nosso papel de cidadã ativa de nossa própria história e exercer uma pressão enérgica sobre o governo, para que ele corrija seus erros e reveja suas omissões perante a iminência de um caos social, político e econômico. Temos que exigir do governo o reasseguramento de nossas garantias de vida, paz, ordem, segurança, e de nossos negócios.

Não podemos ser tolerantes com um governo que opta por ser refém de alguns grupos, sejam eles financeiros ou de excluídos, em detrimento de toda uma sociedade que deseja paz e progresso, porque esta não é uma boa razão.

“Em Cristo, encontramos o exemplo maior de tolerância movida por boas razões. Ele tolerava, dialogava com os pecadores, mas jamais se contaminou com o erro.”
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* Presidente da Associação Comercial do Paraná





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