Migalhas Quentes

A privação da liberdade, o grande mote de Amor de Perdição

Camilo Castelo Branco escreveu o romance quando estava na prisão.

20/12/2012

É na prisão que Camilo Castelo Branco escreve Amor de Perdição, novela em que o amor proibido, contrariado, é pretexto para tratar da privação da liberdade, o grande tema.

Ao longo de todo o texto os protagonistas estão presos: Simão em casa do ferrador, Teresa em casa da família; Simão na cadeia, Teresa no convento. Ambos prisioneiros de pais inflexíveis, intransigentes, que não lhes permitem o direito de escolher a pessoa amada, e por sua vez presos a papeis e padrões sociais.

É de se notar que a angústia da privação da liberdade expressa pelo texto é tanta que o personagem principal, Simão Botelho, rejeita a comutação da pena de degredo pela de dez anos de prisão por imaginá-la insuportável:

Os dez anos de ferros em que lhe quiseram minorar a pena, eram-lhe mais horrorosos que o patíbulo.”

E assim responde à amada, que lhe pedira que aceitasse dez anos de cadeia para que ao final se unissem:

“– Não me peças que aceite dez anos de prisão. Tu não sabes o que é a liberdade cativa dez anos! Não compreende a tortura dos meus vinte meses. A voz única que tenho ouvido é a da mulher piedosa que me esmola o pão de cada dia, e a do aguazil que veio dar-me a sarcástica boa nova de uma graça real, que me comuta o morrer instantâneo da forca pelas agonias de dez anos de cárcere.”

A falta de liberdade também sob o prisma das estruturas sociais

Embora Camilo nunca tenha se alinhado politicamente aos liberais, tenha sempre valorizado a tradição e temido a ascensão dos incipientes valores burgueses, a crítica emanada do texto estende-se também à sociedade patriarcal e provinciana da época, rigidamente estratificada e opressiva, com destinos pautados pela posição social, ditados pelo nascimento – pouca ou nenhuma consideração e oportunidade eram dedicadas aos que não pertenciam às poucas 50 famílias nobres portuguesas.

Logo no início do romance, ao apresentar e descrever Domingos Botelho, o corregedor, pai de Simão, o autor escarnece dos costumes de arrolarem-se os antepassados nobres como desculpa para a falta de virtudes e talentos:

Domingos Botelho devia ter uma vocação qualquer, e tinha: era excelente flautista; foi a primeira flauta de seu tempo; e a tocar a flauta se sustentou dois anos em Coimbra, durante os quais seu pai lhe suspendeu as mesadas, porque os rendimentos da casa não bastavam a livrar o outro filho de um crime de morte.”

Ainda no mesmo capítulo, na introdução que faz de D. Rita Preciosa, a mãe de Simão, Camilo mais uma vez vai valer-se de um refinado e delicioso sarcasmo para com os costumes dos nobres da época:

Domingos Botelho casou com D. Rita Preciosa. Rita era uma formosura, que ainda aos cinquenta anos se podia prezar de o ser. E não tinha outro dote, se não é dote uma série de avoengos, uns bispos, outros generais, e entre estes o que morrera frigido em caldeirão de não sei que terra da mourisma, glória, na verdade, um pouco ardente, mas de tal monta que os descendentes do general frito se assinaram Caldeirões.”

E em diversos outros momentos da narrativa vai situar características virtuosas nas personagens sem berço nobre, caso de Mariana, a filha do ferrador.

Na esteira dos valores estéticos da época, é na morte que os personagens encontram a redenção, a libertação.

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Migalhas de Camilo Castelo Branco

A história contada na "Novela em Migalhas" revela a escrita ultrarromântica, sagaz e única presentes nos textos camilianos. Não à toa, no ano em que se celebra os 150 anos da publicação de Amor de Perdição, a inspiração de nossa novela, a Editora Migalhas tem a honra de lançar as "Migalhas de Camilo Castelo Branco". Na série de simpáticos e coloridos livros com frases, este volume reúne quase mil aforismos do escritor lusitano.

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